A rua vazia deixaria qualquer um desconfortável, mas estávamos imersos no nosso próprio mundo. Os postes iluminavam ao redor, com círculos no chão e nossas sombras que nos seguiam como que sem propósito no calçadão à beira do mar. Apesar do silêncio, havia muito a ser dito, era a disposição que faltava. Era um silêncio bom, gentil, acolhedor.
Fora um dia agitado, não que fosse necessário comentar.
— Tá indo pra casa?
A pergunta veio de cima do quebra-mar. Observar a água tão de perto talvez lhe causasse tanto medo quanto trazia paz. Um lembrete de que tudo poderia acabar com um único passo na direção certa.
Sem resposta, andamos mais um pouco, agora os dois sobre o quebra-mar, e paramos em uma lanchonete. "O de sempre, por favor", foi dizer ao atendente já conhecido. Nem todo mundo saía de casa às três da manhã, então não era surpresa que ele lembrasse daquele rosto que se repetia todas as noites com o mesmo pedido.
À mesa, ouvíamos uma música repetitiva dos alto falantes da lanchonete. Essa era uma lembrança que eu guardaria no fundo da mente até o fim dos tempos. A sacola de papel me assusta quando colocada repentinamente sobre a madeira recém-pintada. O cheiro da tinta ainda estava lá, bem fraco por trás do cheiro dos lanches.
De volta ao lado de fora, o silêncio já não era mais tão acolhedor, contaminado pelo frio que o mar trazia.
Um puxão na manga imediatamente apagou as distrações da minha mente.
— Eu não posso ir.
Sorriu. Pôs o rosto pequeno e familiar entre minhas mãos ainda mornas. Então, um abraço.
Sem repulsa, retribuí o ato com mais força, e o apertei. Era um sinal.
A rua vazia ouvia os sussurros e a respiração. Os olhos gritando o desespero de nossas almas através de lágrimas.
Havia tempos não me sentia assim. A mente nublada, os joelhos tremendo, as mãos suando.
Tudo aquilo fora percebido, por isso estávamos ali, juntos, comendo besteira, sob a luz fraca de um poste, de frente para o mar. Juntos.
Pensamentos infinitos, sem conversa. Apenas existiam para aproveitar a companhia compartilhada. Sorriram abraçados. Os olhos vermelhos.
— Eu te amo.
Mas ninguém respondeu. Porque, na verdade, ninguém estava lá. Nunca esteve.