Além das Explosões

Caminhos Não Tão Claros

Chego em casa cansado, realizado e, confesso, um pouco irritado por tudo isso que está acontecendo. Eu não deveria estar pedindo ajuda para algo que pode ser só coisa da minha cabeça. Eu deveria aprender a lidar com isso sozinho… 
A conversa com a garota dos fones me ajudou a entender melhor minha situação, mas ainda assim não faço ideia do que se trata, e também não quero que mais ninguém saiba disso. Já chega, me expus demais ao ridículo nessa história.

Nem sequer olho para os meus pais quando chego, apenas subo para o meu quarto e me jogo na cama, querendo mandar meus pensamentos para a casa do caralho e ver se consigo relaxar novamente, porque amanhã vai ser um dia cheio. Planejo treinar amanhã em uma das quadras da U.A. que ficam disponíveis para nós, alunos. Assim, talvez eu consiga relaxar um pouco. Apago a tela do meu celular e fecho os olhos em busca de sono tranquilo.

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“Katsu, Katsu!” Uma voz me chama. Não sei dizer de quem é ou por que está me chamando por este nome. Também não sei por que associei que era comigo, e também não entendo sua presença no meu quarto. Mesmo assim, sinto que não posso ignorar. Eu tento respondê-la, mas algo me prende.

“Katsu, olhe como está linda!” A voz me chama novamente. Como assim, “lindA?” Não fazia sentido. Tinha que ser com outra pessoa, mas não havia ninguém no meu quarto além de mim.

Eu me levanto da cama, confuso, e falo: “Quem é você, voz idiota?”, com um tom de total curiosidade saindo das minhas palavras.

“Me diga você, querida.” A voz me trata no feminino novamente. Não havia mais dúvidas, era comigo. Não sei se aquela voz era algum vilão idiota querendo me manipular, mas não consigo sentir maldade alguma vindo dela.

Caminho em direção ao meu espelho, querendo ver como eu estava. Abro lentamente meus olhos em direção ao espelho que refletia a luz do sol que estava saindo da minha janela, e vejo…

Eu. Eu me vejo. Com meu mesmo cabelo, meu mesmo corpo. Porém, com um vestido preto, maquiagens leves no rosto, um colar delicado e uma pulseira escrita “Katsu”. Aquela visão não era constrangedora, como eu esperava que fosse. Eu me sentia bonito. Bonito como uma garota, e bem como uma garota. Era a visão mais bela que eu já tive de mim mesmo.

Então, olho para trás, no meu quarto, e vejo as fotos que tenho com meus amigos. Primeiro, olho para a de Kirishima e lembro de todas as vezes em que ele me disse que sou “másculo” e o exemplo de masculinidade que sou para ele. Quando ouvi pela primeira vez, achei que me sentiria bem com isso, afinal, é ótimo ser reconhecido como um homem, não é?... Mas não foi exatamente isso que eu senti.

Depois, olho para algumas fotos com Izuku e me lembro de tudo o que passamos. Ele era a única pessoa, antes de eu ter outros amigos, que realmente conseguia entender como eu era de verdade. Mesmo assim, eu sempre fui muito recluso em me aproximar dele... Mas eu sei que nesta situação, ele me apoiaria.

Minha cabeça começou a rodar muito.

“E então, quem é você, querida?” A voz misteriosa volta a perguntar.

– Eu sou…

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Eu acordo de repente, com o barulho incessante do despertador no pé do meu ouvido. Aquele sonho foi… esquisito. Não sabia muito bem descrever o que senti enquanto sonhava e por que aquela visão me deixou tão seguro e perturbado, mas aquilo claramente significava algo. 
Decidi me levantar da cama e ir em direção ao banheiro para escovar os dentes. Começo a caminhar em direção à quadra da U.A., onde reservei horário com o professor Aizawa. O estresse ainda está comigo, mas tento esquecer de tudo e apenas admirar o dia. É um dia ensolarado e florido, com um céu azul radiante. O sol não estava tão quente, pois uma brisa fria ajudava a equilibrar. Realmente estava uma bela manhã.