Único.

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Minho terminava de rosquear o último parafuso daquela peça quando o guincho parou em frente à sua oficina. Cenas como aquela eram diárias em sua vida e aconteciam quase que de hora em hora, então pouco se importou.

Continuou embaixo do Peugeot 3008, finalizando com calma o seu trabalho antes que pudesse sair debaixo do carro para receber o cliente que chegara. Limpou as mãos sujas de graxa em uma flanela qualquer e respirou fundo, finalmente enxergando quem o procurava numa terça-feira três horas da tarde. Um sorriso ladino preencheu seu rosto e uma de suas sobrancelhas se arqueou espontaneamente, ao mesmo tempo que cruzava os braços e se encostava no carro recém consertado atrás de si.

— Minho... — o loirinho suspirou derrotado.

Jisung estava parado à sua frente, com um bico adoravelmente grande nos lábios. Atrás de si, seu Hyundai Tucson era desvinculado do guincho que o trouxera.

Minho não conseguiu deixar de achar a cena engraçada.

— A que te devo a honra, Hannie?

O baixinho parecia prestes a chorar.

— Eu fui pegar o carro pra ir ao shopping comprar o presente do Lixie, só que essa porcaria decidiu não funcionar! — ele explicava com seus olhinhos grandes se arregalando a cada frase e suas mãos pequenas e delicadas gesticulando da forma que Minho mais gostava.

Ele se permitiu rir da inocência do menor, que grunhiu com uma carranca no rosto.

— Para de rir e me ajuda, Minho! — ele quase batia os pezinhos no chão de tanto nervosismo.

— Hannie, eu preciso que você me diga em detalhes como o carro parou de funcionar. Foi na hora de ligar, ele já estava ligado e morreu? — o maior respondeu enquanto ia até o veículo estacionado em frente à oficina e abriu o capô. Não conseguiu enxergar nada de início.

— Ele não ligou. — Jisung parou ao seu lado, seu bico poderia atingir o chão naquele momento. — Ele é novo, não sei por que isso aconteceu.

— Pode ser por vários motivos, mas pra descobrir o problema eu preciso dar uma olhada bem de perto e com tempo. Só consigo te entregar amanhã, tudo bem? — Minho ergueu o corpo e fechou o capô, encarando o baixinho.

— O que?! — Jisung praticamente gritou. — Eu só consigo comprar o presente do Felix hoje, Minho! Amanhã de manhã eu e os meninos vamos ir arrumar a festa!

Felix era melhor amigo de infância de Jisung. E, coincidentemente, irmão mais novo de Minho.

Os Lee dividiam um apartamento no mesmo bairro em que Jisung morava e que também ficava a poucos metros da oficina de Minho.

— Bom, você pode procurar outro mecânico, então. — o moreno respondeu enquanto voltava para dentro e pegava uma caixa de ferramentas. — Eu tenho que adiantar os trabalhos de hoje pra conseguir ficar na festa amanhã. Tem pelo menos uns três carros na sua frente.

— Lino... — Jisung parecia realmente prestes a chorar. — Você é o mecânico mais próximo de casa, e você sabe muito bem como o Felix leva o aniversário dele à sério!

O pequeno Han tentou apelar para o emocional do mais velho. Ele sabia o quanto os irmãos Lee eram grudados, mas aquilo não pareceu afetar o moreno. Céus, Felix nunca mais falaria consigo se ele não lhe desse a tão sonhada bolsa Tote Hermès Kelly Ostrich Sellier que ele pedia a mais de um ano.

— Minho... por favor! — Jisung seguia o Lee por toda a oficina, quase como um espírito obsessor. Mas o mais velho pouco se importava, continuava seu trabalho com a calma de um monge. — Minho, para de me ignorar!

— Desculpa, Jisungie, eu realmente preciso terminar isso aqui. — Minho deu o ultimato. Ele mexia no capô de um carro qualquer, fazendo-se lá o que quer que seja.

Jisung murchou. Ficou triste de verdade.

Felix era uma pessoa muito tranquila e fácil de lidar, ele não era mimado mesmo que sua família tivesse bastante dinheiro. Só tinha uma coisa no mundo que ele se importava muito: seu aniversário. Claro que Jisung sempre fazia de tudo para agradar o melhor amigo e, claro, sempre conseguia. Chegava com presentes exorbitantes e festas surpresas, mas desta vez, via tudo indo por ralo à baixo. Poderia conseguir organizar a festa, mas não teria tempo para comprar o presente do loiro. Já conseguia ouvir a bronca gigantesca que levaria no dia seguinte.

Minho olhou o menor cabisbaixo e tentou não se abalar. Não gostaria de quebrar seus princípios éticos de furar a fila de espera correta dos carros só para consertar o carro chique do loirinho ao seu lado; que, com todo o respeito, Minho sentia muita atração.

Respirou fundo e voltou a se concentrar no motor quebrado à sua frente.

Jisung estava quase desistindo, mas resolveu apelar pela última vez. Colocou sua mão por cima da chave de fenda que Minho manuseava, o fazendo parar, e segurou em seu braço.

— Minho, por favor. — pediu baixinho e deitou a cabeça no ombro exposto pela regata. — Você é o único mecânico que pode me ajudar. Vai me deixar na mão? Estou precisando tanto de você agora...

Mirou para cima com os olhinhos pidões, vendo o maior engolir em seco; ainda relutante.

— Por favor! Eu te dou qualquer coisa em troca. O que você quiser. — Se colocou na frente do moreno, passando as mãozinhas pelos braços fortes e manchados de graxa. Minho conseguia explodir de tão gostoso mesmo naquelas roupas sujas e suadas; Jisung achava másculo demais, do jeito que ele mais gostava.

— Qualquer coisa, é? — O Lee finalmente cedeu, largando a chave de fenda de qualquer jeito e segurando com força na cinturinha pequena do Han.

O menor se deu o luxo de apenas morder o lábio e acenar com a cabeça, já sentindo o tesão se espalhar pelo seu corpo.

— Senta no sofá, então. Eu vou consertar o seu carrinho de madame. — Minho o largou e foi até o carro que esperava do lado de fora.

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