Encontro nas Sombras

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Quem diria que me perder nesse teu sorriso fosse me causar um estrago tão grande? Esperava que toda essa tentativa falha de te tirar da mente funcionasse, mesmo que por dó desse coração desiludido e que, por covardia do destino, foi apresentado ao amor. Apenas esqueceram de me contar que esse amor não era recíproco. Como entender que a pessoa que mais me enchia o peito, o ser pensante que eu amava com cada célula do meu corpo, me repudiava tanto? Como dizer para si mesma que foi enganada? Nem mesmo outro trago do cigarro acalmaria sua ansiedade e muito menos faria com que admitisse que era uma filha da puta completa. Sozinha em casa, lamuriava ao silêncio a dor de ser apunhalada pelas costas por alguém que nunca imaginou que a trocaria por um vinho barato e uma noite vazia. E, por mais que seu coração estivesse estraçalhado, sabia muito bem como deveria agir. A partir de agora, sua ex havia morrido. Morta de maneira lírica, porém eficaz.

Desnorteada, a mente vagava aos tropeços em busca de uma parte feliz sua que havia fugido. Doía saber que nada iria trazer sua esperança de volta e, por isso, se afundava cada vez mais naquele sofá velho fedido a álcool. O cheiro no ambiente era de fracasso, e a bagunça ao redor denunciava um pedido de socorro que ninguém iria atender. Um grito silencioso saía das paredes, as mesmas que foram testemunhas de tantas coisas que Hantara haviam vivido e que agora não passavam de algo fútil. Passou a mão pelo rosto, tentando achar o pouco de disposição para se levantar e ir tomar um banho. Sentou-se no sofá e o telefone acendeu em seguida com uma ligação. Arrastou os olhos pela tela, notando que se tratava de uma ligação vinda de Cintilante. O fato de estar tão cansada ao ponto de não querer ouvir ninguém não impediria que sua amiga continuasse incansavelmente a ligar, fez com que atendesse antes que ela aparecesse em sua casa.

— Fala...

— Estava me ignorando na cara dura? Estamos preocupadas com você. Tem dias que você não aparece no trabalho e, caso tenha esquecido, temos um evento hoje.

— Desmarque. Não quero conversar com ninguém hoje.

— Amiga, sei que você está triste, mas precisamos desse contrato. Você vai levantar, tomar um banho e ir ao restaurante depois do evento para conversar com os patrocinadores. Precisamos que você seja forte.

Ela desligou, deixando no ar uma obrigação que pesava como chumbo. Sabia que levantar daquele sofá significaria encarar uma realidade que preferia fingir não existir. A água fria do chuveiro não seria capaz de lavar o que o peito guardava: um abismo sem fundo, onde as lembranças ecoavam como um lamento distante, sem resposta. A cada gota que caía, o coração se partia um pouco mais, lembrando que o mundo lá fora seguia, enquanto o seu havia parado no instante em que foi deixada para trás.

Ainda assim, arrastou-se para fora do banheiro, não por vontade própria, mas pelo dever que insistia em lembrá-la de que o amanhã viria, mesmo que ela não quisesse. Colocou a roupa, sem se importar com a aparência, com o vazio estampado nos olhos. Antes de sair, lançou um último olhar ao apartamento bagunçado, como se dissesse adeus à parte de si que ficaria ali, perdida para sempre entre garrafas vazias, cigarros mal apagados e sonhos despedaçados.

Porque no fundo, sabia que, mesmo que tentasse se reconstruir, algo sempre faltaria: o pedaço de si que entregou a alguém que nunca teve a intenção de ficar.

Ela saiu de casa com passos pesados, como se a cada movimento estivesse arrastando o peso do mundo nas costas. A rua, cheia de vida, contrastava brutalmente com o vazio dentro de si. Carros passavam, pessoas riam, mas tudo parecia distante, quase irreal, como uma cena de um filme ao qual ela não pertencia. Cada som se misturava num zumbido abafado, enquanto a mente mergulhava em pensamentos repetitivos, tentando, em vão, encontrar alguma razão para o que havia acontecido.

Ao chegar ao restaurante, a fachada iluminada e as pessoas bem vestidas pareciam zombar da sua dor. Estava ali, cumprindo o que a amiga exigiu, mas por dentro, era como se tivesse deixado a própria alma no sofá sujo de seu apartamento. Entrou com um sorriso forçado, algo vazio e mecânico, que ninguém perceberia ser falso. Precisava ser funcional, colocar a máscara e desempenhar o papel que a vida exigia. Cada palavra dita, cada sorriso trocado com os patrocinadores, tudo era automático, como se estivesse assistindo a si mesma em terceira pessoa.

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⏰ Última atualização: Oct 12 ⏰

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O Vazio Do Amor (CATRADORA)Onde histórias criam vida. Descubra agora