CAPÍTULO 1 - Porque devemos aprender a dizer não.

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Era uma péssima noite de sábado, pelo menos pra Natália. Ela tinha sido obrigada aos membros do centro acadêmico da faculdade em que estudavam a trabalhar na festa da piscina de encerramento do semestre. Pois é, quem diria que concordar em ajudar alguém a levar as bebidas pra sala de reunião acabaria em um contrato não oficial de assistente até o fim do ano. 'Eu deveria ter derrubado aquelas garrafas no chão' surgiu enquanto adentrava o Bosque dos Sabiás. O motivo de ela estar ali, era muito constrangedor e tão idiota que ela mais uma vez repreendeu sua incapacidade de dizer não. Já estava sendo uma festa apavorante para ela, com a música alta de fazer os ouvidos, os bêbados causando confusão nas barracas de comida, e aquele sufocante e incansável espírito jovial que a irritava tanto, quando o cara que foi contratado pra representar a mascote da a faculdade tinha desaparecido bem na hora em que devia se apresentar com os líderes de torcida. Mas que tragédia, a quem devo agradecer? Pensei Natália na hora em que a apresentação foi interrompida. Mas a alegria interna durou um pouco.

Em meio aos lamentos e vaias de toda a multidão que esteve na volta da plataforma de apresentação, Juju, que era o presidente do comitê de eventos e uma das culpadas pela integração acidental de Nat na organização, veio até ela, de repente lembrando que ela existiam, e proferiu as palavras mais desanimadoras que podem ser ditas nos bastidores de uma festa:

— Nat, você pode cuidar disso? Acho q vi ele saindo em direção ao bosque e acho que as coisas desandariam aqui se eu e Lu saíssemos. — E Lu, que era vice-presidente, veementemente com a cabeça.

Eles queriam fazer isso sem nenhum traço de lamentação de terem deixado Nat cuidar das barracas de comida. Estava claro que era um desastre, sujando praticamente toda a mesa enquanto tentava montar os lanches e o resultado ficou tão desgrenhado que parecia ter feito por uma criança. Não que ela se importasse em não montar os sanduíches mais perfeitos pra aquela festa de várzea. Mas ela reconhece que esse trabalho era mais seguro que limpar os banheiros químicos ou encher os copos dos já alterados com aquelas bebidas fortes e coloridas.

Tentando não subir grosseira, Nat respondeu:

— Acho que não seria uma boa ideia. Eu nem conheço o cara e já estou quase anoitecendo. Ninguém tem o número dele?

— Quer dizer esse? —Veio Eduardo se intrometer de repente, mostrando a mão que carregava um celular com uma capinha azul toda riscada, uma tela toda trincada e completamente enxarcada. Como se passou por um ritual de iniciação do prezinho.

Droga . Seria possível que ninguém em um raio de quatro milhas tivesse um pouco de juízo? Não sei porque alguma vez acreditei que sim , lamentou ela.

Juju se voltou pra ela quase suplicando. E a raiva já foi totalmente subindo a cabeça de Nat.

— É sério que você quer que eu entre no bosque sozinho, a procura de um cara que eu nem conheço e não demonstra um pingo de responsabilidade? Não tem mais ninguém pra fazer isso?

Juju levou as mãos ao peito, como se fosse muito nela designar aquela ação.

— Juro que eu mandaria se tivesse! Mas nós não podemos deixar as barracas agora, e praticamente estão bêbados, até os líderes de torcida — sussurrado enquanto apontava discretamente pra o grupo de meninas que apenas tontas demais pra conseguir dançar e dar saltos no ar. — E não se preocupe com Hugo, apesar de idiota, ele é bonzinho, eu te juro que ele nunca faria nada de errado. Não te mandaria procura-lo se não tivesse certeza.

E deu um desses sorrisos do tipo que você encontrou que ajudaria que Natalia teve que aturar nos últimos 5 meses.

Ela não acreditava que aquilo estava acontecendo, depois da tarde inteira de estresse, fazendo coisas que ela não queria fazer e muito menos era superada para fazer. Era quase noite, ela só queria estar em casa, vendendo " Pretty Little Liars" pela milionésima vez em seu confortável roupão rosa. E agora tinha que sair por aí atrás de um menino idiota sem senso de direção e posição. Será que é uma boa hora para fingir um surto psicótico? avaliou, E será comentado por todos até a formatura? Bom, eu já não tenho boa confiança mesmo. Mas o pior de tudo pra ela não era a qualidade da confiança, mas a quantidade de pessoas que passariam a conhecer. Estremeceu só de pensar.

Quase não acreditei na palavra discretamente afirmativa que saiu de sua boca em seguida.

—Tá. — Disse do jeito mais amargo possível. Malditos universitários, iriam pagar por isso . Juju extravasou as mãos pro céu e agradeceu um milhão de vezes. — Mas é melhor você ficar atento, você não vai querer que tenha dois desaparecidos nessa festa.

— Posso deixar, vou deixar meu celular no bolso, caso você precise falar comigo. Ah, e leve um apito de emergência, só por precaução. Mas sério não se preocupe, ele estava ruim demais pra ter ido muito longe.

Nat soltou um gemido de desgosto e pegou sua bolsa embaixo da mesa, Juju devia agradecer que Nat se segurou pra não enfiar um daqueles lanches na boca dela.

Ela deu a volta nas barracas, e foi em direção ao gramado, as pessoas que estavam na pista de dança esbarravam nela. Chegou à borda do gramado, que separava a chácara do bosque, que a encarava com tom de desafio. São só árvores juntas , tentei se rir. Olhou pra trás, a música ainda alta e as pessoas dançavam, gritavam e pulavam na piscina, saciavam como se fossem todas amigas. Mas um observador de fóruns, que fosse detalhado o suficiente (como eu, a narradora!), poderia notar as conversas e gestos superficiais da multidão, e aquele, agudo e sutil, desejo de fácil acesso que era camuflado com o êxtase extremo.

E um segredo mais difícil ainda de captar, era que os olhos de Nat não faziam movimentos aleatórios. Eles deliberadamente procuraram algo. Havia alguém naquela confusão que atraia seu olhar, mas ela nunca contara a ninguém, nem a sua melhor amiga da vida, Lívia. E nem contaria, aquele era um segredo para levar até o tumulo. Talvez fosse orgulho, mas pra ela era precaução. Bom, acontece que eu sabia, e esse detalhe é muito importante pra essa história.

Como se pudesse ouvir meus comentários, Nat se virou, com vergonha do que estava fazendo, e voltou a olhar pro bosque. Depois, olhei para o céu, estava tão lindo, rosa mesclada com toneladas de laranja. Logo iria escurecer, e ela ainda tinha um trabalho a fazer antes de voltar pra casa. Um trabalho humilhante. Ela fechou os olhos e suspirou, lamentando. Então deu um passo e começou sua jornada até o bosque, em busca de uma ratazana roxa, literalmente.

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