foi naquela tarde.
a voz tremia.
engolia o choro, agressivamente.
cerrei os punhos, de modo a sentir as minhas unhas cravar a palma da minha mão.
uma maré de lágrimas invadiu a minha face.
não via nada, só um profundo lamento. olhei-me ao espelho e apercebi-me do meu corpo magro.
exclamei o quão diferente estava e chorei mais e mais.
de costas, deixei-me escorregar pela parede e permaneci imóvel.
murmurei coisas baixinho.
pedi para que voltasses.
chorei mais e sussurrei mais louvores, como se alguém os pudesse ouvir.
levantei-me para te poder olhar, numa fotografia.
pensei em tudo o que gostava de te dizer. treinei um discurso, mentalmente e gesticulei, como se me visses.
não estavas e nem sabia se voltarias.estou agora sentada, preparada para te escrever mais uma carta.
"nunca seremos suficientes aos olhos da pessoa que não nos ama".
é a frase que me passa pela cabeça. escrevo-a e analiso-a.
verifico que tanto o sujeito, como o predicado, ou até mesmo os complementos, são dolorosos.
neste momento, sinto medo.
muito medo.
medo.
medo do vazio, da solidão e do desamor. do desamor que agora sentes por mim."já não gostas de mim"- repito agora.
já não gostas de mim.
já não gostas de mim.
já-não-gostas-de-mim.
perdi o amor da minha vida
e sem amor
de que vale a vida?foi naquela tarde de outubro.