PRIMEIRO

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Faltavam oito horas para um dos jogos mais importantes da temporada, mas o que deveria ser uma manhã tranquila de preparação estava se tornando um pesadelo para Rosamaria. A tensão já era alta o suficiente, mas agora a irritação estava tomando conta. Seu carro, recém-adquirido em Paris por uma pequena fortuna, estava parado no meio da faixa principal de uma estrada movimentada, imóvel como uma rocha. Ela deveria estar a caminho do hotel, onde poderia relaxar e focar em sua estratégia para o jogo, mas em vez disso, estava sentada em uma calçada, com o celular descarregado nas mãos. Parecia que o universo conspirava contra ela, colocando obstáculos em cada passo do seu caminho.

Rosamaria olhou para o carro estacionado desajeitadamente à beira da estrada. Seus pensamentos estavam em turbilhão, tentando encontrar uma solução para o problema. Ela precisava sair dali o mais rápido possível e chegar ao hotel. Suas companheiras de equipe dependiam dela, e ela odiava a ideia de deixá-las na mão. Seus olhos se voltaram para a tela escura do celular, como se esperasse que, por algum milagre, ele voltasse à vida e ela pudesse ligar para alguém. Mas nada aconteceu. Era como se a tecnologia também tivesse decidido falhar justo naquele momento crucial.

Decidida a não ficar parada, Rosamaria levantou-se, sacudiu a poeira das roupas e começou a acenar desesperadamente para os carros que passavam. Cada aceno era uma súplica por ajuda, mas a indiferença dos motoristas franceses era quase cruel. Ninguém parecia disposto a parar. Nem um único olhar em sua direção, como se ela fosse invisível. A cada carro que passava sem sequer reduzir a velocidade, a irritação de Rosamaria crescia. Era como se todo o mundo estivesse contra ela naquele momento.

Como esses franceses podem ser tão frios?, pensou, bufando de frustração. Ela estava prestes a desistir, quando o som de uma buzina a fez pular de susto. Uma BMW preta parou abruptamente ao lado do seu carro, interrompendo seu desespero. Seus olhos se estreitaram, tentando identificar o motorista que, finalmente, parecia disposto a ajudá-la. Mas quando o vidro começou a descer, o alívio inicial deu lugar a um misto de surpresa e desgosto.

Lá estava ele. O último homem que ela queria ver naquela situação. Karch Kiraly, o técnico da seleção americana, responsável por arruinar sua carreira no exterior. Ele era o homem que, anos atrás, a havia trocado por uma jogadora americana no Warriors, alegando que "não era justo" uma brasileira ocupar uma posição tão importante em seu time. A mágoa ainda era fresca, e a visão daquele rosto familiar fez seu estômago revirar.

Rosamaria tentou manter a compostura, ocultando sua raiva por trás de um sorriso irônico. Afinal, o que mais poderia fazer? Ela não queria mostrar o quanto a presença dele a incomodava.

— Karch Kiraly, eu não consigo pensar em uma coincidência melhor do que essa! — ela exclamou, aproximando-se da janela aberta com um sorriso forçado.

Karch, sempre frio e calculista, abaixou os óculos até a ponta do nariz, observando-a de cima a baixo antes de responder, como se estivesse analisando cada movimento dela.

— Rosamaria Montibeller, não me diga que você está com problemas no paraíso? — Ele soltou o cinto de segurança e saiu do carro com calma, apreciando cada segundo de superioridade que sentia sobre ela.

Rosamaria desviou o olhar para o celular morto em suas mãos, desesperada para encontrar uma solução que não envolvesse pedir ajuda ao homem que ela mais desprezava. Mas a realidade era implacável, e ela estava sem opções. Karch, por sua vez, parecia se divertir com a situação. Ele olhou para o capô do carro de Rosamaria, que estava aberto, simulando uma expressão de choque exagerada. Estava claro que o carro estava além da salvação.

— Vamos, eu levo você para o hotel — ele disse finalmente, apontando para a BMW ainda ligada. Rosamaria sentiu uma pontada de humilhação ao perceber que não tinha outra escolha a não ser aceitar a ajuda dele. A ideia de ficar mais alguns minutos naquela estrada, sozinha e correr o risco de perder o horário para o jogo parecia insuportável.

Relutante, ela se sentou no banco do passageiro, colocando a bolsa no colo e soltando um suspiro cansado. De todas as pessoas do mundo, tinha que ser ele a aparecer para "ajudá-la". Karch Kiraly era o último ser humano com quem ela queria compartilhar um espaço, ainda mais um espaço tão apertado quanto o interior de um carro. Ele era egocêntrico, obcecado pelo sucesso do seu país, e não se importava em passar por cima dos outros para alcançar seus objetivos. Rosamaria nunca perdoaria o que ele fez quando jogava fora do Brasil. Ele foi o responsável por cortar suas oportunidades, apenas porque não gostava de brasileiros. Ela ainda lembrava claramente da primeira vez em que perdeu a paciência e o mandou se foder, um momento de satisfação amarga que nunca esqueceria.

— Hoje vai ser um jogo interessante — Karch comentou de repente, quebrando o silêncio pesado que pairava entre eles. Rosamaria se conteve para não revirar os olhos. Ele estava claramente tentando provocá-la.

— Com certeza — ela respondeu secamente, sem dar muito espaço para conversa.

— Está pronta para perder? — ele continuou, em um tom que poderia ser brincalhão, mas Rosamaria sabia que estava longe de ser uma brincadeira.

— Não vamos perder — ela rebateu imediatamente, sem hesitação.

Karch sorriu, um sorriso que estava carregado de desprezo, como se ele soubesse de algo que ela não sabia.

— Talvez essa sua confiança seja o que impede o seu crescimento — ele comentou, apertando o volante com mais firmeza.

Aquelas palavras a atingiram como um soco, mas Rosamaria manteve os olhos fixos na estrada à sua frente, tentando processar o insulto. Ele estava tentando derrubá-la, e ela sabia disso.

— Talvez, se você fosse menos preconceituoso com a origem de alguém, pudesse reconhecer o talento de uma jogadora de verdade — Rosamaria respondeu com firmeza, sem desviar o olhar.

Karch riu, como se achasse graça em tudo o que ela dizia. Ele realmente acreditava estar certo, e isso a irritava profundamente.

— Você não foi escolhida porque não tem talento, não porque sou preconceituoso. Não podemos forçar algo que não existe — ele disse, em um tom que deixava claro o quanto ele a desprezava.

Rosamaria sabia que ele estava errado. Ela conhecia seu valor, conhecia suas capacidades. Não precisava provar nada para ele, mas o mundo inteiro veria o seu talento, começando pelo jogo daquela noite.

— Vamos ver — foi tudo o que ela disse antes de sair do carro, sua raiva e determinação se misturando em um turbilhão de emoções. Quando finalmente chegou ao hotel, os seguranças a reconheceram imediatamente, abrindo caminho para ela passar. Mas mesmo com a familiaridade do ambiente, ela se sentia profundamente abalada.

Assim que entrou no quarto, Carol, sua colega de equipe, a olhou com preocupação. Rosamaria era conhecida por ser a mais estressada do time, mas algo naquela noite estava diferente. Desde o momento em que colocou os pés no quarto, ela não disse uma única palavra.

•••

No vestiário, momentos antes do jogo, Rosamaria estava ajustando seu uniforme com precisão. Ela se virou para suas companheiras, seu olhar ardendo de determinação. As palavras de Karch ainda ecoavam em sua mente, mas ao invés de abalá-la, serviram como combustível.

— Vamos ganhar, custe o que custar! — declarou, cheia de convicção. Ela sabia que aquela era sua chance de provar a todos, especialmente a Karch Kiraly, que ela tinha o que era necessário para vencer.

 Ela sabia que aquela era sua chance de provar a todos, especialmente a Karch Kiraly, que ela tinha  o que era necessário para vencer

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1 capítulo postado! Espero que gostem!

Se ele já implica com a Rosa assim, imagina quando ela ficar obcecada pela filha dele?

𝐑𝐎𝐒𝐀𝐌𝐀𝐑𝐈𝐀 - 𝐔𝐍𝐊𝐍𝐎𝐖𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora