Já estávamos a tanto tempo no subsolo que já não fazia mais ideia de quanto tempo havia se passado. Horas? Dias?.... Anos, talvez.
- Se eu ver outro rato de metrô na minha frente eu juro que te jogo nos trilhos. - disse Cinco enquanto eu virava nossa refeição numa fogueira improvisada.
- Olha pelo lado bom, se colocar um pouco de laranja, até que lembra pato à l'orange.
- Tem ideia de quanto tempo estamos aqui embaixo?
Porque? Porque ele tinha que me lembrar disso?
- Há muito tempo. Já tô até de cabelo branco. E não é na minha cabeça. - brinquei. E pelo menos conseguir fazer o tão sério e mal humorado Cinco rir.
Cinco tirou do bolso uma bagunça de papeis colados um no outro e o analisou enquanto eu comia meu saboroso rato.
- Bom, de acordo com o meu calendário, se passaram... - ele fez uma pausa e no fundo eu sabia que ele pensava igual a mim e que também sentia tudo que eu tentava reprimir dentro de mim. E então ele continuou - Seis anos, cinco meses e dois dias.
Seis anos... eu estou a seis anos sem ver os meus filhos... Será que eles ainda se lembram de mim? Da minha voz....?
- Esquenta não. - respondo - Daqui a pouco a gente acha o caminho pra casa, né?
- Se não formos esfaqueados, baleados ou explodidos da próxima vez que subirmos.
E por incrível que pareça, foram muitas vezes.
- Em algumas daquelas linhas do tempo, tivemos sorte de ter saído com vida. - Cinco continuou
- Cara, se a gente ainda tá vivo, é porque tá fazendo alguma coisa certa.
- Seu otimismo chega a me dar nos nervos às vezes, sabia disso?
- Te irritar faz o meu dia. - sorri
Cinco revirou os olhos e continuou.
- Lembra daquela linha do tempo que achamos outro dia?
- Foram tantas que eu já nem me lembro mais.
- A da estufa.
- E dos morangos... - lamento com saudade - O que que tem?
- Eu estava pensando em voltar para lá.
- Mas porque? - eu não estava entendendo onde ele queria chegar
- Já fazem quase sete anos, Lila. A gente merece e precisa de um descanso. Você sabe, uma cama. Um banho. - ele notou meu silêncio e continuou - Não dá pra gente continuar assim.
- Você quer desistir?
- Ninguém tá falando em desistir.
- Eu mataria um gatinho por um banho quente. - eu sei que o Cinco tá certo, estávamos cansados e andando em círculos entre as linhas do tempo, mas parte de mim sentia que estava abandonando minha família e esse sentimento eu não conseguia reprimir. Mas fui egoísta, optei por pensar em mim primeiro e então concordei. - Tudo bem, só por uns dias.
Terminamos de comer, apagamos a fogueira e nos deitamos para dormir.
Sempre fazia frio de noite e por esse e apenas esse motivo nós dois costumávamos dormir juntos, para se aquecer.
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