Cap 4: Leia-me!

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  — O quê? — Mew engasgou com o chiclete. Aquilo era inaceitável. 
Embora estivesse usando um colar de chicletes, era macho até embaixo 
d'água. E normalmente carregava uma arma! Homens armados não se 
permitiam chorar. Não podia imaginar um de seus colegas de profissão admitindo sequer ter canais lacrimais. — Você deve estar brincando...

  — Errado. Estou falando sério.

  — Isso é ridículo! Não há meios de eu lhe responder uma coisa dessas. — Se o fizesse, teria de contar a ele que derramara algumas lágrimas uma semana atrás quando assistira a Amigos para Sempre na sessão da tarde. — Pergunte-me alguma outra coisa.

   — De jeito nenhum. Você não pode escolher a pergunta.

  — Ah, posso sim. — Ele tirou o colar de chiclete para enfatizar, jogando-o sobre o ombro. — Não me importa qual será sua próxima pergunta, nada poderá ser pior do que a primeira.

  — Você acha mesmo? — Gulf inclinou a cabeça, estudando-o com ar travesso. Pela primeira vez desde que partira de férias, estava realmente se divertindo. Mew Suppasit era mais do que um rosto bonito, ou melhor, um rosto estonteante. Era inteligente, divertido e ótimo para conversar. — Quando foi a última vez que você mentiu?

  Mew recuou. Na verdade, a última vez que mentira fora poucos minutos atrás, quando dissera a ele o quão aborrecido estava por se encontrar trancado naquele porão.

 — Esta brincadeira foi uma má idéia. Não quero mais brincar disso.

   — Não seja tão medroso.

   — Não sou medroso. Sou um homem digno que se recusa a bancar o bobo. — Mew fez uma pausa e o encarou. — Insista nesta brincadeira e pegarei meu canivete de bolso para cutucar a parede até abrir um buraco e 
conseguir sair daqui. Você é uma ameaça a minha masculinidade, sabia? E eu o conheço há apenas... — ele consultou o relógio — uma hora e 
cinqüenta e cinco minutos.

   Gulf gargalhou, inclinando a cabeça para trás.

   — E você é engraçado! Finalmente ganhei em alguma coisa. 

   Mew percorreu os olhos pelo corpo dele e o estudou. Deslizando os olhos mais para baixo, demorou-se nos pés sem os coturnos. As meias pretas eram estampadas com pequenos gatinhos. E os dedos dos pés se curvavam quando ele ria.

  Mew respirou fundo e decidiu ser sincero. Era homem o bastante para mostrar-lhe que não era imune ao extraordinário charme dele.

   — Tenho de lhe contar uma coisa — disse, sorrindo. — Você é definitivamente o homem mais bonito que já vi na vida.

  Gulf levantou as sobrancelhas, como se estivesse esperando que ele continuasse a observação.

  — Isso foi um elogio — explicou Mew. Ele nunca tivera tanto trabalho para jogar seu charme para um homem. — O que há com você? Nunca reage a nada da maneira que espero?

  Gulf deu de ombros, colocando na boca o último ursinho de goma.

  — Onde está escrito como alguém deve reagir às coisas? Tenho um amigo chamado Saint, que diz que o mundo seria muito mais equilibrado 
se as pessoas agissem, e não reagissem. Faz sentido, você não acha?

  — Saint? — repetiu Mew, enciumado. — Quem é Saint?

  — Já lhe disse, um amigo. Ele é juiz, uma pessoa muito interessante. 
Quando está trabalhando, parece um anjo vingador, com sua beca preta e 
os cabelos prateados.

  — Cabelos prateados? — perguntou Mew esperançoso. — Que idade 
ele tem?

  Gulf franziu o cenho.

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