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"O Senhor é minha luz e minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha vida; a quem temerei? Quando os malfeitores me sobrevêm para me destruir, meus opressores e inimigos, eles é que tropeçam e caem."— Salmos 27:1-2


Tudo muda num piscar de olhos. E, de repente, a cidade que você cresceu, a casa que você tinha e a sua vida inteira muda completamente do dia para a noite.

As portas se fecham atrás de mim quando adentro o prédio com um estalo seco, e eu sinto o peso delas como uma prisão invisível que me mantém aqui, forçado a enfrentar o que eu jamais imaginei.

Eu estou sendo tratado como um problema que precisa ser consertado. Todos os jovens, que vou estar cercado daqui a pouco, estão aqui como se fossem máquinas quebradas e enferrujadas, cujas engrenagens estão emperradas e mecanismos desajustados. Cada erro e desvio é um sinal de que algo precisa ser reparado.

Meu pecado foi desejar a morte e eu terei que pagar com a vida.

Me encontro na sala de recepção, cuja a qual tem uma cruz imensa na parede de entrada, esperando que revistem todas as coisas que trouxe, depois que revistaram a mim. Tocaram meu corpo nu em todas as partes, dizendo ser o padrão de segurança do local. Meu celular já foi confiscado e precisei me desfazer dos anéis que usava e do brinco que tinha em minha orelha pois acessórios não são permitidos aqui. 

— Harry Edward Styles? — chamou, a voz carregada de desdém. Mal respondi antes que uma mulher alta e velha de cabelos grisalhos agarrasse meu braço com uma força que me fez estremecer. — Aqui não toleramos preguiça, falta de fé ou desobediência. Se você quer sobreviver aqui, é melhor aprender a se comportar.

Ela me arrastou pelos corredores sombrios do prédio, as paredes frias e úmidas, cheirando a mofo e desespero. Eu tentei me soltar, mas o aperto dela só se intensificou, até finalmente chegarmos a sala com um plaquinha de "diretoria".

O diretor era um homem negro e velho, com uma cruz de prata pendurada no pescoço, brilhando ameaçadoramente sob a luz fraca. Ele me olhou de cima a baixo, os olhos apertados em uma avaliação silenciosa, e depois sorriu. Não um sorriso acolhedor, mas algo que parecia mais um aviso.

— Bem-vindo ao caminho da redenção, Harry, —  disse ele, a voz tão calma que me fez sentir um arrepio. — Aqui, todos os pecados serão lavados, não importa o quão profundo estejam enterrados.

A mulher bate a porta atrás de mim, me deixando só com o senhor cujo os olhos provocam arrepios em todo o meu corpo.

— Sente-se, por favor — diz e eu obedeço calado.

Agora percebo que estava, contra a minha vontade, mergulhando de cabeça num abismo desconhecido e eu sabia que, depois que estivesse imerso nisso, jamais saíria de lá o mesmo que entrei. Não havia como voltar atrás.

— Sou J. Austin, muito prazer. — ele estende a mão para mim com um sorriso sombrio no rosto e eu hesito em retribuir seu comprimento, o que o faz cerrar um pouco os olhos.

— Já deve saber que este internato não é como os outros. Aqui, nós não estamos interessados em melhorar. Estamos interessados em purificar. Sabe por que está aqui, Harry?

Faço que não com a cabeça.

— Este lugar é um refúgio para aqueles que a sociedade não pode mais suportar. Aqui, nós fazemos o trabalho que outros não conseguem: nós arrancamos o mal pela raiz. Se você carrega o peso do pecado, pagará por isso aqui e, só então, poderá entrar no reino de Deus.

O internato - {L.S}Onde histórias criam vida. Descubra agora