𝖕𝖗𝖔𝖑𝖔𝖌𝖔

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13 de Novembro de 1983

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13 de Novembro
de 1983

  As memórias que persistem são aquelas mais recentes e marcantes, capazes de substituir uma vida de felicidade, em uma curta lembrança, e infelizmente, tentar fugir desse fato inevitável, é como fugir da sua própria sombra.

  Implorei ao papai para que eu não viesse, pois não queria ficar com essa imagem na cabeça toda vez que ouvisse o nome dele. Contudo, eu sei que seria desrespeitoso.

  Seria mais aceitável a minha ausência do que a de Michael e do tio William.

  É de partir o coração ver a tia Samantha completamente na escuridão sozinha, de um lado carregando a morte em seu peito, e do outro, Eliz no colo, que aparentava compreender a dor de sua mãe, ficando em silêncio.

  — O céu recebe com amor e alegria a alma desta criança, repleta de inocência e paz. — todos sabiam que o que o padre dizia, era mentira, ele sequer conhecia o pequeno.

  Se realmente existe uma entidade que nos espera lá em cima, acredito que ele deve estar triste pela perda, o céu não demonstra ser aquele típico dia de verão que as crianças ficam na rua jogando bola, soltando pipa; pelo contrário, desde que recebemos a notícia ontem, o tempo mudou drasticamente, colorindo o céu de cinza com as pesadas gotas de chuva, deixando o ambiente ainda mais mórbido.

  A chuva caía incessante, criando uma cortina de água que distorcia a visão do cemitério. O solo, já saturado, estava coberto por uma camada de lama fria e escorregadia.

  Odeio a sensação dos meus pés úmidos soterrados nas botas, preferia estar descalça sentindo essa grama molhada, pelo menos não ficaria com chulé.

  O vento, ocasionalmente, aumentava o frio, fazendo com que o ambiente se tornasse ainda mais implacável e distante. Fico me perguntando se o clima estar assim é a natureza lamentando a ida de uma criança ou a insensibilidade de compreender a profundidade da nossa dor.

  No enterro dela, o tempo estava maravilhoso, um clima que com certeza nós teríamos aproveitado no campo perto do Quiosque de Primavera. Consigo me recordar da insuportável sensação de estar assando dentro da roupa preta. O sol não teve piedade alguma conosco.
  Pelo menos naquele dia, tivemos o privilégio de ter um pianista para nos consolar com uma canção melodramática.

  Tudo o que temos agora é o som da chuva, que se misturava com o som de alguns murmúrios de conversas baixas e secas, quase como um eco distante; e as súplicas e gemidos de tristeza da tia Sam, impedindo de ouvir nitidamente o longo discurso do padre.

  Suas roupas deviam representar o luto, mas transmite uma sensação de que o espírito de morte está nela. Não sei se é por causa da chuva ou de suas lágrimas, mas o pouco que dava para ver do seu rosto, eram manchas de sombra preta.

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