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O pôr do Sol

Lilith despertou naquela manhã com uma estranha sensação de paz, uma que não sentia há muito tempo. O sono havia sido profundo, quase reparador, mas algo estava fora do comum. Ao abrir os olhos, ela se deparou com sua irmã mais nova, Stacy, dormindo ao seu lado. O pequeno corpo de Stacy estava encolhido sob as cobertas, e seu rosto mostrava uma expressão serena. Lilith suspirou. Sabia que Stacy era sensível a barulhos e, mesmo que fosse irritante às vezes, Lilith entendia a necessidade da irmã de estar perto dela durante a noite.
Com cuidado, Lilith saiu da cama, tentando não acordar Stacy, e seguiu foi para o banheiro. Após alguns minutos, voltou ao quarto, agora vestida com o uniforme escolar, e encontrou Stacy já acordada, coçando os olhos e enrolada nas cobertas como um casulo.
Lilith desceu pra cozinha e logo Stacy foi atrás.

— A mãe deixou um bilhete pra você. Toma café logo pra não se atrasar — disse Lilith, tentando esconder a irritação que sempre surgia quando via os bilhetes melosos da mãe.

— Bom dia pra você também, Lilith — respondeu Stacy com um sorriso sonolento, ignorando o tom de impaciência da irmã mais velha.

Lilith não era de muitas palavras, especialmente de manhã. Sua paciência era sempre menor com a irmã, que, por outro lado, era um raio de sol matinal, com sua energia e alegria. Apressadamente, Lilith pegou uma maçã na cozinha, enquanto observava Stacy mordiscar uma panqueca.

— Por que você dormiu no meu quarto? — perguntou Lilith, sua voz saindo mais suave do que ela planejava.

Stacy hesitou antes de responder, seus grandes olhos castanhos mostrando um toque de vulnerabilidade.

— Ontem à noite, ouvi uns barulhos lá fora. Fiquei com medo e não quis incomodar a mamãe, então fui dormir com você. Tem problema? — Stacy perguntou, sua voz suave, quase suplicante.

Lilith parou por um momento, deixando a maçã a meio caminho da boca, e então sorriu de leve.

— Claro que não, Stacy. Você sabe que pode sempre vir até mim.

O amor de Lilith por sua irmã era profundo, mas ela raramente expressava isso de maneira aberta. Era uma dessas coisas que estavam simplesmente implícitas, uma compreensão mútua.

Depois do café da manhã, as duas seguiram para a escola. O caminho de sempre, o bairro de sempre, e as mesmas rotinas se repetindo. Porém, algo no ar sugeria que o dia seria diferente.

Ao chegar à entrada da escola, Lilith foi abordada por Aisha, uma das poucas pessoas que havia socializado com ela

— Oi, Lilith! Vai ao treino hoje? — perguntou Aisha, sempre energética, como se o mundo fosse seu parque de diversões.

— Vou sim. Aliás, que bom que você perguntou. Será que tem como me dar uma carona? — Lilith respondeu, tentando afastar o cabelo do rosto enquanto andava ao lado da amiga.

— Claro! E é bom ver mais garotas no karatê, sabe? A gente precisa de mais poder feminino por lá — Aisha disse, enquanto as duas caminhavam em direção ao grupo de amigos.

Antes que Lilith pudesse comprimentar, Demetri apareceu do nada e a puxou para o lado, com uma urgência que não podia ser ignorada.

— Lilith, preciso falar com você! — Ele disse, seus olhos grandes expressando uma mistura de ansiedade e excitação.

— O que aconteceu, Demetri? — Lilith perguntou, franzindo o cenho, estranhando o comportamento do garoto.

— Me ensina a lutar karatê? Ouvi dizer que você foi muito bem no treino ontem — Demetri pediu, estralando os dedos como sempre fazia quando estava nervoso e a atropelando com palavras.

𝐔𝐋𝐓𝐈𝐌𝐀𝐓𝐄 𝐒𝐓𝐑𝐈𝐊𝐄 | Falcão.Onde histórias criam vida. Descubra agora