Capítulo UM

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                                    MUDANÇAS

As caixas se amontoavam em pilhas que quase chegavam ao teto. Os carregadores, encarregados de transportar nossas coisas, entravam e saíam dos cômodos da casa. Em breve, essa grande estrutura com cinco quartos estará com novos proprietários. Pensar em outra pessoa enchendo o quarto onde cresci com pôsteres, dando uma nova pintura por cima da tinta preta com quadrados verdes, tirando minhas prateleiras e jogando fora minha mesa de computador, traz uma tristeza.

Corro meu dedo indicador pela janela, lembrando dos bons momentos em que eu corria para ver meu pai chegar em seu Porsche 911 Turbo S, ou até com o Volvo S90. Dos dois, o último é o que eu mais gosto. Mais discreto e minimalista. Do que eu estava falando mesmo? Ah, essa janela. Eu amava correr até ela quando tinha alguma visita em nossa porta, pois eu podia ver a entrada da nossa casa e eu era o primeiro a saber a identidade do visitante. Eu podia ver meu pai chegando da academia ou do trabalho que consome seu tempo até hoje.

Agora, vou me contentar com um novo bairro e uma nova casa, deixando Itacimirim para trás e ir para a Enseada do Castelo, aqui mesmo na Praia do Forte.

Não abomino a ideia de me mudar, mas não vou fingir que não sentirei uma saudade enorme dessa casa, dos meus quinze anos vivendo aqui e como construí memórias. Pisar nesse carpete onde deitei muitas noites com meu pai para jogar damas, onde me sentava para ler um livro ou quando eu simplesmente enjoava da cama.

Pelo menos possuo a consolação de que minhas lembranças permanecerão intactas, ao menos por um período determinado de tempo, até que sejam gradualmente desvanecidas e substituídas por novas experiências e recordações. É uma sensação agridoce, pois, embora possa me confortar saber que minha história pessoal continua a ser registrada em minha mente, inevitavelmente, as memórias antigas serão diluídas ou até mesmo apagadas, como pálidos vestígios de um passado remoto.

Depois de um tempo, as caixas em meu quarto diminuíram gradativamente e me senti mais encorajado a sair do cômodo onde passei boa parte dos meus anos, descer a longa escada circular, passar pela sala com piso de mármore, atravessar a porta dupla vermelha e sair de casa.

Logo em frente à porta, encontro um homem vestido com uma camisa e calça social, roupas que lhe caem bem com o físico invejável. Meu pai, Raul Menezes. Me aproximei, cautelosamente parando ao lado dele e observei o mesmo que ele observa.

Seu olhar está direcionado ao nosso "quintal", mais especificamente à piscina de nossa casa. Usamos poucas vezes, pois sempre preferimos a praia. Meu pai suspirou e começou a falar com sua voz grave:

— Lembra aquela vez que você caiu de boca na borda da piscina? — perguntou sem me olhar em nenhum momento. — Você correu para mim dando um fiasco, gritando e pedindo por colo.

Meu pai sorria ao falar isso, embora um homem sério a maior parte do tempo, ele sempre conseguiu dar sorrisos genuínos facilmente quando algo era relacionado a mim. O seu olhar profundo fica bem iluminado quando sorri, mesmo que isso seja um evento bem raro em sua vida. O meu pai é um empresário, geralmente usa de sua frieza em reuniões de negócio, então, geralmente essa sua habilidade acaba se refletindo em outros pontos de sua vida. É visível que ele tenta não ser dessa forma, mas sempre acaba falhando. Por isso eu amo meu pai.

Além dele se um homem frio, ele é bem firme. Tão firme que sempre tratei de andar na linha.

— Eu tinha oito anos e quebrei meu dente na piscina. Meu desespero quando vi o sangue, foi pensar estar morrendo. — ele me olhou e sorriu mais ainda, tão grande foi que me vi obrigado a retribuir. — Precisamos mesmo nos mudar?

A pergunta não teve a intenção de passar alguma relutância, apenas quis ter certeza do motivo por trás dessa decisão.

— Mudar de ares é sempre bom, filho. — Diz querendo encerrar o assunto, mas nunca fiz muito bom nisso.

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⏰ Última atualização: Aug 22 ⏰

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