Calem a boca

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CAPÍTULO 1

CALEM A BOCA

A lua estava alta, Jaehyun sentia sua boca salivar e suas costas estavam coçando, aqueles sintomas antecediam a besta que se tornaria quando a lua atingisse o ponto mais alto. Prendendo firme seus pulsos com uma grossa corrente de ferro, Jaehyun respirava fundo, prezando manter o controle. Era fácil em noites como aquela surtar antes da chegada da lua, ceder aos desejos do lado primitivo, do lobo que o dominaria aquela noite. Não queria machucar ninguém nunca mais e isso o movia. Falava baixinho: eu preciso me controlar, eu preciso me controlar.

As palavras não ajudaram, pois ao ouvir o uivo longo de um da própria espécie todos os sentidos e boas vontades do jovem se foram. Suas íris cresceram e tomaram a cor de um amarelo vivo, todos os pelos se arrepiaram e sua face se contraiu feroz. De sua garganta saiu um grande grunhido e em seguida um uivo alto, aceitando aquele chamado.

O chamado do alfa de sua matilha.

Puxou seu braço e destruiu a pilastra a qual se amarrava, levantou-se e como um robô saiu correndo hipnotizado pelo chamado do alfa. Sua consciência gritava, seu corpo não respondia e assistindo o mundo por seus olhos era escravo de um uivo.

Saiu do porão da cabana e correu em direção a mata, analisando friamente a noite enquanto o vento alisava seu rosto.

Os lobisomens não podiam negar o chamado do alfa, como um mero beta, Jaehyun era obrigado por seu instinto lúpus a cumprir as ordens. Não importava o seu desejo de se manter alheio, a hierarquia dos lobos eram duras ações desobedientes, afinal lobos solitários morriam rápido pelas mãos dos caçadores.

Atravessando a mata em direção ao sul, Jaehyun parou em um campo aberto, sua transformação estava começando e seus dentes humanos começavam a cair. A dor estava envolvendo seu cerne, fazendo-o enlouquecer. Seu rosto foi ao chão, à terra estava molhada e o aroma metálico atingiu suas narinas sensíveis.

Era sangue.

A confusão invadiu seu rosto, havia atendido o chamado, por isso suas faculdades voltaram ao seu controle.

Depois de cuspir seus dentes contra o chão, levantou o rosto na direção do sangue. O corpo esticado de barriga para baixo escondia a identidade do indivíduo, aproximou-se sorrateiro, com a coluna baixa e as mãos na terra, engatinhava em direção ao corpo. A faca estava cravada por inteiro nas costas, bem na reta do coração, a morte tinha sido certeira. O homem nem teve oportunidade de se defender, provavelmente nem viu de onde veio o golpe.

Quem poderia ser tão covarde, pensou com desgosto. Um gosto amargo cruzou sua boca, cuspiu novamente deixando mais quatro dentes humanos para trás. O cheiro familiar apareceu ao parar rente ao cadáver, um grande nó se formou em sua garganta.

— Não é possível — as palavras saíram descrentes de sua boca banguela.

Rapidamente virou o corpo e encarou fixamente o rosto desfalecido e pálido, era Junghoo, o alfa da matilha.

Passos pesados atravessaram o campo, outros haviam chegado. Os olhos de Jaehyun estavam arregalados na direção do alfa morto, mesmo com a dor de perder a pele, que se desgrudava de seus músculos e começava a cair podre no chão, permaneceu ali sem emitir um ruído.

Junghoo estava morto quando o chamado foi emitido, já que seu corpo estava frio e sua transformação não aparentava dado nem sinal. O rosto de Jaehyun se levantou, a face carregava um semblante rígido. Os outros não tinham nem chegado perto, estavam em sua grande parte agonizando no chão. Não faziam ideia do que havia acontecido e isso era perigoso, pois era noite de lua cheia.

O terror da noite | TAEYONG ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora