PROVOCAÇÕES

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VOLTEI.

CAMILA POV

Uma das coisas mais importantes que aprendi após começar a visistar crianças com câncer em hospitais, foi o valor que devemos da a cada coisa que acontece na nossa vida, até as mínimas coisas, tudo tem valor. Eu aprendia muito com aquelas crianças. Eu via o quanto elas ficavam felizes com tudo, eram ensinadas a ver sempre o lado bom da vida. Um acontecimento pode ser horrível, mas podemos tentar ver o lado bom dele e focar ali, tentando não ser ingênuo. Eu estava aprendendo a dar valor a tudo com elas, apenas crianças que não poderiam ter tanto tempo assim, crianças que queriam viver mais, mas o câncer as dominava, a cada dia mais um pouco. Aquilo partia meu coração em pedaços.

Era nisso que eu estava pensando agora, o que eu mais pensava. Crianças. Eu sempre me dei bem com elas e agora visistando hopitais e orfanatos com Zayn, isso tinha piorado um pouco. E o pior era que eu queria uma, era absurdo? Podia ser. Que mal me faria? Muitos. Mas quem se importa?

As vezes a vida nos da chances que é  um pecado não aceitar. Gosto de pensar assim: se a gente faz o que manda o coração, lá na frente, tudo se explica. Por isso, faço a minha sorte. Sou fiel ao que sinto.

Eu pensava em Lauren. Não podia negar, eu estava apaixonada por ela. O que você pode dizer? "É loucura estar apaixonada por sua irmã." "É loucura querer ter um filho com ela". Quem se importa? Eu nunca disse que era normal, que me encaixava perfeitamente nesses costumes da sociedade. Você está apaixonada e pouco importa a sua idade, se você tem 16 ou 26 anos, ou até 76. Você sempre vai ter sonhos, sempre vai querer ter tudo com aquela pessoa. Casa, família, uma vida legal, coisas legais para se fazer. Você só quer estar junto a ela e nada mais importava.

Lauren estava sim grávida de um filho meu, eu poderia ser mãe aos 17, ou podia não ser. Deixei que ela tomasse essa decisão, não queria pressiona-la a ter por mais que aquele fosse o meu desejo. A escolha era dela.

A maior tortura era: Ela já estava com dois meses de gravidez e não tinha se decidido. Era torturante não saber se eu podia ou não ficar feliz com aquele bebê. Eu precisava fazer planos. Ela não me dizia nada, mas eu podia ver que ela estava mais cuidadosa.  Estava sendo orientada pela Doutora Elizabeth se ofereceu para ajudar.  Me senti feliz ao ve-la interessada em saber sobre gravidez. Lauren quis saber sobre como faria se quisesse abortar e a médica explicou tudo a ela.

Eu fazia a minha parte de cuidar dela. Lauren tinha alguns problemas com distorção de imagem. Problemas com o corpo e gravidez era como uma bola de neve. Eu ficava perto dela 24h por dia fazendo de tudo para que ela não chorasse ou perdesse o controle. Estava cuidando muito de sua alimentação, apesar de que sua fome estava ainda maior e eu precisava controla-la. No fundo eu queria mesmo que Lauren se alimentasse bem, mas como ela tinha problemas com bulimia, eu estava a ajudando a comer apenas o necessário para que ela não sentisse culpa e não vomitasse. Assim ela ficaria bem e o bebê também. Se Lauren continuasse forçando para vomitar e se alimentando mal poderia ter um aborto espontâneo e deveríamos ser cuidadosas quanto a isso.

Nossos pais só viam pra casa aos finais de semana, e obviamente estavam por fora da situação. Ela ainda estava com dois meses, então dava pra esconder. Optamos também por não contar que eu era a outra mãe do bebê caso ela resolvesse ter. Seria nosso segredo até que saíssemos de casa.

Lauren não tinha dito ainda se abortaria ou não, nem falava muito sobre o bebê e eu me sentia receosa de falar também. Lauren se fechou ainda mais depois que descobriu a gravidez. Parecia estar vivendo em numa bolha.

- No que está pensando? - Zayn perguntou e fechei meu armário num susto. As aulas tinham acabado e eu teria natação agora, mas eu não iria, pois Lauren tinha ido embora mais cedo por estar enjoada e eu teria que ir cuidar dela.

ADOTADA (repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora