Dias se passaram, e a ausência de João no cais começou a inquietar a sereia. Ela estava acostumada a vê-lo regularmente, e a falta de sua presença a fez sentir uma angústia crescente. Decidida a descobrir o que havia acontecido, a sereia nadou até a praia sob a luz da lua, onde o mar encontrava a terra. Ali, ela começou a entoar um canto antigo, um encantamento que seus ancestrais usavam para caminhar entre os humanos.
Enquanto cantava, sua cauda se transformava em pernas esbeltas e fortes. Seu corpo passou por uma leve mudança; sua pele, que antes refletia os tons iridescentes do mar, agora estava pálida e suave como a de uma humana. Seus cabelos, antes longos e ondulados, tornaram-se mais curtos e menos brilhantes, adaptando-se ao mundo terreno. Ao se ver na água, ela mal reconheceu seu reflexo, mas sabia que essa forma era necessária para encontrar João.
Com sua nova aparência, a sereia se ergueu e caminhou pela praia em direção à vila. A cada passo, sentia o peso do corpo humano, algo que era ao mesmo tempo estranho e fascinante para ela. A sensação do solo sob seus pés era diferente da fluidez do oceano, mas havia uma determinação em seus olhos. Ela precisava encontrar João, entender o que o havia afastado dela.
Quando chegou à vila, sua presença imediatamente chamou a atenção dos aldeões. Eles nunca haviam visto alguém como ela, com uma beleza tão exótica e cativante. Seus olhos, profundos como o oceano, refletiam a luz da lua, e seu caminhar gracioso a destacava em meio aos outros. Murmúrios começaram a surgir enquanto ela avançava pelas ruas, e logo uma pequena multidão se formou ao seu redor.
— Quem é essa mulher? — sussurrou uma aldeã para sua vizinha.
— De onde ela veio? — perguntou outro aldeão, fascinado pelo mistério que ela representava.
A sereia, agora em sua forma humana, tentou ignorar os olhares curiosos e os murmúrios, concentrando-se em sua missão de encontrar João. No entanto, os aldeões se aproximavam, fazendo perguntas e tentando descobrir sua origem.
— Moça, você está perdida? — perguntou um homem de meia-idade, com um tom de voz gentil.
— Qual é o seu nome? — questionou uma jovem, admirando a beleza da sereia.
Ela sabia que precisava de uma identidade entre os humanos, então adotou um nome que soava familiar a eles. Com um sorriso suave, respondeu:
— Meu nome é Marina. Eu estou procurando por alguém… um homem chamado João. Vocês o conhecem?
O nome de João parecia familiar para os aldeões, e isso despertou ainda mais curiosidade. Alguns se entreolharam, enquanto outros começaram a contar histórias sobre ele. Marina ouviu atentamente, tentando captar qualquer informação útil.
— João está ocupado ultimamente, liderando a defesa da vila contra criaturas do mar — disse um dos aldeões, com um tom preocupado. — Ele mal tem aparecido por aqui.
Marina sentiu uma pontada de tristeza. Algo sério estava acontecendo, algo que João não havia compartilhado com ela. Sem sucesso em encontrá-lo nas primeiras tentativas, ela continuou perguntando a outros aldeões, mas ninguém sabia exatamente onde ele estava naquele momento.
Mesmo diante da confusão, os aldeões não conseguiam desviar os olhos dela. Marina, com sua aura enigmática e beleza sobrenatural, parecia mais uma visão do que uma pessoa real. Alguns chegaram a questionar se ela era uma espécie de espírito, ou talvez uma figura mítica que havia ganhado vida.
Finalmente, um dos mais jovens aldeões, que sempre admirou João, sugeriu:
— Talvez você deva procurá-lo na casa do sábio. Ele pode estar lá, planejando sua próxima missão.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Encanto da Sereia
Short StoryJoão, um pescador solitário, se vê atraído por algo além das profundezas do mar - uma sereia misteriosa e hipnotizante, cujas intenções são tão incertas quanto as correntes que o cercam. Encantado por sua beleza e sedução, ele entra em um jogo perig...