Capítulo 3: A Fuga.

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O canto ecoava suavemente pelos galpões, onde os elfos se amontoavam em condições insalubres. Apesar da miséria ao redor, eles se uniam para criar pequenos momentos de alegria nas poucas horas em que não eram forçados a trabalhar. A música era um alento, uma resistência silenciosa contra a opressão que enfrentavam diariamente. No entanto, havia um entre eles que nunca se juntava ao coro: Pedro, um jovem sem sequer um sobrenome que o conectasse a algo ou a alguém, mantinha-se à parte, solitário e pensativo. Seus olhos fixavam-se no horizonte, aguardando pacientemente o momento em que o luar dominasse completamente o céu, como se buscasse ali um sinal, uma resposta ou, talvez, uma coragem que ainda não possuía.

O tempo passou, e o canto suave dos elfos foi substituído pelo zumbido incessante dos insetos e pelos pios solitários das corujas. A escuridão envolvia os galpões, e Pedro sentia que o momento se aproximava. Naquela noite, algo estava diferente; ele sabia, no fundo de seu ser, que a promessa feita seria finalmente cumprida. Não era como nas outras noites, em que ele se entregava a sonhos vazios de liberdade. Desta vez, a esperança era palpável, quase tangível.

Os guardas, estranhamente, estavam fora de sua rotina usual, e a vigilância, que costumava ser implacável, parecia relaxada, como se o destino conspirasse a seu favor. Então, um som súbito quebrou o silêncio pesado da noite—um objeto caindo do lado de fora do galpão. Pedro prendeu a respiração, ouvindo atentamente. Logo em seguida, o som das correntes pesadas que mantinham os portões trancados começou a se desfazer, ecoando como uma melodia de libertação.

Seria possível? Depois de tantas noites de angústia e desespero, poderia ele finalmente ser um homem livre? O coração de Pedro acelerou enquanto aguardava com ansiedade o desenrolar do momento que poderia mudar sua vida para sempre.

As portas do galpão se abriram com um rangido, e uma dúzia de elfos e elfas de postura imponente entrou no aposento. Seus semblantes eram sérios, mas carregavam uma determinação que inflamava o ar. Pedro, que até então estava absorto em seus próprios pensamentos, sentiu uma onda de ansiedade percorrer seu corpo. O momento pelo qual ele tanto esperara finalmente havia chegado, mas, surpreendentemente, ele hesitava. A liberdade estava ali, ao seu alcance, mas o medo e a incerteza o paralisavam.

Os elfos que lideravam o grupo começaram a falar, suas vozes ecoando por entre as paredes frias e úmidas do galpão. O discurso era inflamado, carregado de paixão e urgência. Falavam sobre a liberdade tão almejada, sobre como todos ali mereciam ser tratados com dignidade, não como animais, mas como os seres pensantes e inteligentes que eram—como elfos. As palavras ressoaram fundo em muitos dos presentes, despertando neles um sentimento de esperança e coragem. Aqueles elfos não apenas clamavam por liberdade, mas também por justiça, por reconhecimento, por uma vida melhor.

A mensagem inspirou uma boa parte dos escravos, que começaram a se mover com determinação, prontos para abraçar a liberdade que lhes era oferecida. No entanto, nem todos compartilhavam do mesmo entusiasmo. Alguns preferiram ficar, temendo as consequências caso fossem capturados durante a fuga. O medo de represálias era palpável, e a memória das punições anteriores ainda assombrava muitos corações. Mesmo assim, nenhum deles tentou impedir aqueles que decidiram arriscar tudo por um futuro incerto, mas livre. Havia um entendimento silencioso entre todos—cada um deveria escolher seu próprio caminho, sem julgamentos ou reprovações.

Pedro, ainda hesitante, sentiu-se dividido entre a coragem que o discurso evocava e o medo profundo que o segurava. A liberdade estava à sua frente, mas ele precisava decidir se estava disposto a pagar o preço por ela.

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⏰ Última atualização: Aug 21 ⏰

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