Capítulo 1: O Encontro

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O futuro é incerto, coisas tão inesperadas podem acontecer a qualquer momento e naquele dia, para Samuel, não havia futuro, apenas o tenebroso presente, tão frio como os dedos mortos de sua mãe que este encontrara morta deitada em sua cama.
Lágrimas queriam escorrer por seu rosto, mas ele não permitiria que isso acontecesse, ele lidou com o luto de outra forma.
Naquele mesmo dia, no período da noite aconteceria o funeral de Elisa Watanabe, esposa do maior cientista brasileiro e desenvolvedor da vacina para o Vírus Z-17, Kenji Watanabe, dono WatCorp, empresa de pesquisas genéticas que produziu a cura para a doença do século.
A pandemia de 2003 afetou o mundo de tal forma, que mesmo nos tempos de hoje, em 2023, colhemos os frutos podres plantados naquela época.
O Vírus Z-17, que possuía alto nível de contágio, era extremamente perigoso, e seus sintomas incluem: Dor de cabeça, náuseas, manchas na pele, afeta o sistema respiratório (muitos morreram sem ar e precisavam de máquinas para continuar respirando), e esterilidade (em alguns casos, pessoas, principalmente mulheres infectadas não podiam mais ter filhos, em outros casos, pessoas que já estavam grávidas, sofriam de abortos expotâneos).
E nos tempos pandêmicos, para não perder, sua mulher infectada e o filho que estava a oito meses em seu ventre, o dono da WatCorp, se dedicou de corpo e alma, junto de vários outros cientistas, para buscar a cura da infeliz doença, desenvolvendo o Soro X, capaz de fortalecer os genes e proporcionar o livramento dos sintomas e da infecção.
Quem diria que a solução criada por suas pesquisas pudessem gerar tantos problemas futuros…
Falando nos tais problemas, Samuel Watanabe, seu filho, após alertá-lo do ocorrido e tomarem juntos as providências, este foi até um grupo de mensagens em seu celular e fez um chamado, um desabafo:
“Minha mãe acabou de falecer, o funeral será às 20 horas aqui na cidade, quem puder vir. Preciso de vocês e estou com saudades…”
Os tais problemas, foram convidados para o enterro, eles já foram amigos algum dia, a muito tempo atrás.
O primeiro problema, ou melhor, os dois primeiros estão juntos, Beatriz Garcia e seu namorado André Belchior, estão andando por um museu, admirando belíssimos e caríssimos quadros.
Os dois jovens de vinte anos de idade — mesma idade de todos no grupo de amigos — vestem roupas de gala, ele com seu paletó e gravata e ela com seu deslumbrante macacão vermelho esvoaçante e brincos dourados revestidos por pedras alaranjadas.
Observavam sorridentes um quadro totalmente deslumbrante, o nome da pintura é “Supernova”, pintado a óleo, parecia um sol, mas muitos diriam que é um coração, outros dirão que é os dois, mas somente a artista saberia explicar:
— É lindo não é!? — uma mulher de aproximadamente quarenta anos com sardas no rosto, pergunta para o casal antes mesmo de reconhecê-los.
— Fico feliz que tenha gostado! — Respondeu Bea, sorridente.
— Oh, meu Deus, Bea Garcia! Me desculpe, eu não te reconheci!
— Tudo bem. — a mulher do vestido vermelho dá uma leve risada.
— Eu preciso confessar, sou sua fã! Estou amando sua exposição, todos os seus quadros são extremamente perfeitos!
— Fico muito feliz que minhas obras te interessem…
— Podemos tirar uma foto?
— Claro! — assim feito, a mulher pega seu celular e tira uma foto ao lado da sua ídola.
— Bea, olha o celular… — André entrega seu celular para sua namorada e mostra a mensagem sobre a morte da mãe de Samuel.
— Só um momento… — ela se distancia de sua fã para absorver a informação que acabara de ler.
— Temos que ver se ele está bem. — afirmou André preocupado — Eu sei que as coisas não terminaram bem entre vocês dois, mas…
— Sim, eu sei… é o certo a se fazer. — Beatriz não estava nem um pouco interessada, mas mesmo com as intrigas, ela ainda se preocupava com seu velho amigo.
Depois de algumas horas aproveitando um dia tão especial para o casal, eles seguem para sua cobertura no centro da cidade, onde descansariam e se preparariam para a noite que lhes aguardava:
— Será que devemos levar um vinho para a família do Samuel? — pergunta a mulher, tirando seus brincos e saltos.
— Eu não acho que você e álcool combine.
— Você sabe que eu não vou beber…
— Bom mesmo, você fica bem irritada quando bebe… — ele tira a camisa e a calça, ficando apenas de cueca.
— Você sabe — com uma risada leve — eu sou uma pessoa intensa… mas pode ficar tranquilo, não vou beber.
— Quer que eu te ajude com o zíper?
— Nem precisei pedir? É por isso que eu te amo!
O homem tira o vestido de sua amada e o deixa no chão, e esta, olha em seus olhos de forma profunda:
— Essa lingerie vermelha é nova? — pergunta ele, gaguejando e todo envergonhado.
— Gostou?
— Ah… sim, quer dizer, tá linda…
— Tira pra mim!
— Pode deixar.
Assim ele o fez e ali, naquele quarto chique e iluminado apenas por um abajur, a menina dos olhinhos puxados e cabelo liso e o rapaz branquelo e magro, começaram a se beijar de forma intensa e sejogaram no colchão.
Beatriz ao colocar a mão no lençol com tamanha intensidade, involuntariamente ativou seus poderes e incendiou a peça de tecido branco, mas não era problema, pois André com sua mão fria, apagou o fogo e congelou parte do pano.
E quando as coisas estavam prestes a esquentar — ou esfriar — ainda mais, eles recebem um telefonema, que eles tentaram ignorar mas que continuou sem parar, quebrando o clima:
— Que droga… — André estava “alegre” até demais, mas agora teria que segurar seu “grande entusiasmo”.
— É o Félix. — Bea atende o celular — Alô!?
— Oi, eu já tô aqui dentro da clínica… vocês disseram que iam me buscar… lembra?
— Ah sim, claro. Já estamos a caminho… Tudo bem? Tchau!
— Nós esquecemos de buscar ele, não foi?
— Foi. Agora se veste rápido aí pq precisamos ser rápidos.
Félix estava do lado de dentro de uma clínica psiquiátrica, com apenas uma mochila e a roupa do corpo. O menino do semblante caído e cabelos loiros estava rodeado por cinco seguranças e era possível ouvir os gritos de ódio e desprezo vindo do lado de fora, o que deixava o mutante ainda mais angustiado.
Ele aguardou por quinze minutos ao lado da porta e foi quando uma senhora de cabelos grisalhos se aproximou com uma enorme doçura no olhar e disse:
— Olá.
— Oi…
— Você poderia me ajudar?
— Claro, o que a senhora precisa?
— Preciso do meu filho aqui comigo! — todo o carisma que a idosa possuía agora se tornou em puro descontentamento.
— Como?
— Você é um monstro… — ela começa a chorar e a avançar agressivamente para cima do rapaz — você matou ele, seu desgraçado!
— Eu… — O menino não sabia o que responder, estava totalmente sem palavras, ele se compadecia pela dor dela.
— Senhora, é melhor você se retirar. — um dos seguranças a conteve e a afastou enquanto ela gritava e esperneava.
Foi quando o celular do menino começa a tocar e este teve de fingir que estava tudo bem, se recompor e atender sua amiga Beatriz:
— Oi, estamos aqui na frente… mas tem muita gente e não vamos conseguir estacionar.
— Não tem problema, eu vou até vocês! — acompanhado dos seguranças que abrem caminho, o rapaz sai de dentro da clínica e encontra uma multidão de pessoas gritando seu nome e dizendo as maiores atrocidades enquanto erguiam placas de protesto.
Na correria ele encontra o carro que André dirigia com Beatriz ao seu lado e entrou nos bancos traseiros:
— Nossa, que bagunça tá esse lugar. — disse o homem no volante.
— Oi amigo! — Bea o recebe carinhosamente — Como você está?
— Bem… eu acho.
— Não entendi, por que você estava acompanhado por seguranças? Não seria mais fácil afastar as pessoas com sua telecinese? — André pergunta tentando descontrair.
— Eu tô tentando evitar meus poderes recentemente.
— Amigo, não foi culpa sua… — a mulher tenta acalmá-lo.
— Eu adoraria que isso fosse verdade…
Todos ficam em silêncio e o clima fica tenso, mas em breve, assim que chegasse a noite, as coisas iriam piorar.
Enquanto isso, Melissa, o outro problema, estava em sua casa, em um quarto escuro, iluminado por lâmpadas de néon rosa, ela se encontra de lingerie preta de renda e sua máscara sexy de gatinho, a sua frente havia uma câmera, de alta qualidade, ao lado de um computador onde um homem implorava por mais:
— Vai, Baby Witch! — fala ele para a mulher de cabelos azuis — Me mostra mais!
— Eu mostro… você sabe, eu preciso ficar com tesão e nada me dá mais tesão do que você me mandando…
— Toma! — com apenas dois cliques, ele envia cinquenta reais para ela.
— Ah, não. Eu quero mais…
— Mas…
— Vai lá, garotão, me deixa molhadinha… — ela insiste e recebe mais cem reais.
— Agora sim! — abrindo o fecho da frente do sutiã, ela mostra seus seios se inclinando para frente.
— Isso…
O telefone de Melissa começa a tocar nesse exato instante e mesmo ela tentando ignorar ela vê que a chamada é de Félix Carvalho, seu amigo. Rapidamente ela desliga a transmissão de vídeo, tira a máscara e atende o celular:
— Oi amigo, a quanto tempo! Você tá bem? Saiu da clínica?
— Sim, eu tô bem. Acabei de sair… então, eu tô perto da sua casa, eu queria saber se posso pegar um Inibidor com você, não estou achando o meu.
— Com quem você tá falando? — pergunta Bea a seu amigo que estava no banco de trás.
— Melissa. — sussurra ele.
— Ah, aquela sem noção…
— Fala pra Bea que eu ouvi ela.
— Ah… bom, eu posso passar aí?
— Pode sim, vem cá!
— Bea, pode me deixar na casa dela? Depois eu me viro para ir até o funeral.
— Tem certeza que vai ficar bem?
— Tenho sim, fica tranquila.
O casal deixa o telecinético na portaria da casa de Melissa que o recebe carinhosamente com um abraço:
— Fiquem tranquilos, ele está em boas mãos. — a menina que trabalhava com vídeos nua, assegurou que seu amigo estaria bem.
— Tudo bem… nos vemos de noite. — Bea tentava não mostrar como estava desconfortável junto de Melissa, tanto que nem saiu do carro, para não ter que comprimentá-la corretamente — Até logo.
Beatriz e André seguem de carro, enquanto os outros dois mutantes adentram a mansão e no caminho vão conversando:
— Ah, já faz tanto tempo! Eu tava com saudades!
— Pois é…
— Quanto tempo você ficou internado? — eles subiam as escadas enquanto se atualizam sobre a vida um do outro.
— Dois meses.
— Eu vi no jornal o que aconteceu, mas não confio neles. Sensacionalistas! Querem notícias chocantes mesmo que sejam falsas. — ele se senta num sofá confortável, enquanto ela pega duas garrafas de vidro de refrigerante de sua geladeira.
— Ah, mas foi exatamente isso que aconteceu… eu matei algumas pessoas.
— Mas você — com os dentes ela abre a garrafa — não fez isso de propósito. Eu te conheço, você sempre foi muito “coração”.
— Não é o que algumas famílias pensaram quando matei seus familiares.
— Vai, me conta o que aconteceu. Se você quiser, é claro… não quero te deixar desconfortável.
— Ah, tudo bem — Félix abre a garrafa sem nem mesmo tocar em sua tampinha, apenas usando seus poderes — eu não falei isso pra ninguém além do meu advogado.
— Tudo bem, pode falar.
A verdade é que o mutante não andava muito bem com sua saúde mental, ele sofria internamente, mas não externalizava nada, apenas se sentia vazio e infeliz.
Ele estava sozinho em sua mansão, deitado em sua cama, com o cabelo bagunçado e sem a mínima motivação para sequer atender ao telefone, mas naquele momento, ele atendeu e ainda com os olhos fechados foi respondendo desanimado:
— Oi.
— Oi, Félix, você tá bem?
— Tô.
— Tem certeza, meu amor? Você desmarcou os nossos dois encontros essa semana. Fiquei preocupado…
— Não tem porquê se preocupar.
— Claro que tem — o homem do outro lado da linha riu — eu te amo, eu me preocupo com você.
— Também te amo… — Félix que estava deitado com o semblante caído, olhava para a parede se segurando para não chorar.
— Você foi para a terapia? Tomou seus remédios pra bipolaridade?
— Eu não preciso disso!
— Precisa sim! Você precisa se cuidar. Eu sei que, quando a depressão vem, você fica desmotivado até para isso, mas tenta se cuidar.
— Tudo bem, vou tentar melhorar isso…
— Ah… antes de desligar, eu queria te fazer um pedido…
— Qual?
— Eu queria saber se você topa vir jantar aqui com a minha família. Você topa?
— Eu não posso prometer nada no momento… mas posso tentar. Espero que entenda.
— Bom, se você topar, eu não posso te garantir nada além de fotos antigas que minha mãe vai te mostrar e piadinhas que vão me envergonhar.
— Confesso que esse convite se tornou ainda mais tentador. — Félix deu um leve sorriso.
— Eu quero te assumir! Quero gritar para todo o mundo que eu te amo.
— Eu também quero isso, mas quero ir com calma… a mídia é cruel. Tem paparazzi me perseguindo toda vez que saio de casa, eu só não quero te envolver nisso e acabar com a sua imagem e fazer de você uma matéria sensacionalista. “O Cara Que Dorme Com Um Mutante Louco”.
— Você não é louco — riu o homem que conversava com o telecinético — e sinceramente, eu estou mais para “O Homem Que Não Dorme Com Você Faz Tempo”.
Ambos riram e Félix, enquanto estava na ligação, abriu a galeria e enviou um vídeo:
— Toma! Para você matar a saudade.
— Você é lindo, amo seu corpo! Quero ver pessoalmente.
— Você vai… e eu vou pensar com carinho na sua proposta
— Muito obrigado!
— Até mais, gato. Te amo, tchau.
— Também te amo. Até logo!
Tentando se motivar e juntando forças, ele saiu de sua cama e respirando fundo, foi até a cozinha tomar seus quatro comprimidos, tirando mais uma soneca por mais uma hora. Mas as coisas estavam piores quando acordou.
Félix estava melhor, não estava sorridente, mas se sentia um pouco mais motivado. Ele desceu as escadas até a cozinha e preparou um belo sanduíche com duas fatias de pão de forma e um pedaço de queijo — as duas únicas coisas que ele tinha em sua geladeira para comer — o rapaz foi para a sala e ligou sua televisão, colocando sua série favorita para animar-se.
Quando de repente, várias notificações chegam a seu celular, eram páginas de fofoca na internet, que marcavam seu nome em todas as suas redes sociais, com as seguintes notícias: “Gay! Após vazamentos de conversas, Félix Carvalho saí do armário.”, “Vídeo íntimo vazado de Félix Carvalho viraliza.”, “Esperava mais! Corpo de escritor famoso vaza na web e deixa a desejar.”.
Sem palavras, seus olhos se encheram de lágrimas, ele não acreditava que o homem que dizia amá-lo, o teria exposto de tal forma. “Como ele pode!?”, uma das pessoas em que o rapaz mais confiava, o traiu da pior forma possível.
— Aquele… não… por quê?
Com dores de cabeça e fortes pontadas no peito, ele não sabia como reagir, mas precisava guardar tudo, não podia demonstrar ou externalizar essa dor, pois os objetos e móveis da casa já estavam a tremer e caso Félix perdesse o controle, as coisas poderiam piorar.
O burburinho em frente ao seu portão já havia começado. Pessoas gritavam e paparazzis fotografaram tudo, mas ele não precisava de mais daquela atenção negativa, então saiu de sua casa e levitando, sobrevoou o portão, o plano era ignorar toda aquela bagunça e resolver o problema pela raiz.
Quando estava nos ares, ouviu algo vindo de baixo:
— Eu esperava mais!
O mutante estava sem a mínima paciência, ele poderia apenas seguir em frente, se o tivesse feito, nada de ruim teria acontecido, mas tomado pela emoção, ele posou em frente ao homem que havia dito tais palavras que o feriram e perguntou:
— O que disse?
— Eu esperava mais! Um dos escritores mais jovens e mais desejados e só o que mostra naquele vídeo é sua bunda e nem é uma bunda tão grande assim!
— Senhor Carvalho, é verdade que você está planejando começar uma carreira porno? — disse um repórter que estava lá.
— O que? Não! — Félix que estava apenas de pijama pedia para que não o fotografassem — Por favor, sem fotos!
— É verdade que pretende fazer plásticas e deixar seu corpo mais bonito? — falou outra voz na multidão.
— Não… — o menino começou a chorar desesperadamente e cada vez mais seu choro se intensificava.
Ele queria parar de existir, queria sair dali, queria que todos fossem embora, ele queria… que aquelas vozes se silenciassem:
— Para!!! — gritou ele, liberando algo que, mesmo sem controle e inconsciente, faria algo do qual ele se culparia futuramente.
As vozes pararam, mas só depois que cada uma das vinte e sete pessoas ali presentes, gritassem de dor antes de seus crânios, peitos e outros membros explodissem, deixando apenas uma enorme poça de sangue com restos despedaçados dos corpos que algum dia já estiveram vivos:
— E daí eu chamei a polícia, confessei o que fiz, me colocaram num tratamento intensivo e agora eu finalmente saí.
— Bom, eu sinto muito amigo, nem imagino como foi pra você passar por tudo isso… — Melissa, ao se compadecer com a dor de seu amigo, se oferece para ajudá-lo — Posso aliviar a sua dor com minha telepatia, você sabe disso. É temporário, mas eu consigo…
— Não precisa, eu só quero algo para me impedir de usar meus poderes por um tempo.
— Ah sim, seu inibidor, eu já ia me esquecendo. — ela se levanta e vai pegar em seu quarto — Já volto!
O homem que roía suas unhas, fica apenas observando a sala de sua amiga enquanto ela não retorna com o objeto em mãos, e se surpreende ao achar uma revista ao lado da televisão, ele a vê de longe, então, se levanta e a pega para ler.
Na capa, havia uma mulher negra de cabelos cacheados, era Gabi Velasco, outra mutante, outra amiga que, de acordo com a manchete, estaria no início das filmagens de seu primeiro filme.
Falando nela, a jovem se encontrava nesse exato momento em um estúdio, preparando tudo para a filmagem de mais uma cena de seu novo longa, “Doce Café”, um filme sobre um grande amor que começa em uma cafeteria simples e singela.
Sentada em uma banqueta com seus óculos escuros de lente redonda, ela lia e relia o roteiro de sua autoria em busca de defeitos:
— Senhorita Velasco, está tudo pronto para rodarmos a cena, mas não sabemos onde a protagonista está.
— Ah, esses artistas me irritam, é sério! — bufando ela se levanta e segue sua busca — Deixa que eu vou atrás dela!
Como num piscar de olhos, Gabi desaparece num flash de luz, e volta a aparecer em um camarim, onde encontra a atriz que deveria estar em cena, a mulher que estava se escondendo das câmeras a horas, chorava quietinho num canto, sentada de frente para um espelho:
— O que aconteceu? Por que está chorando? — Gabriela queria estar a par da situação e a atriz chorona explicou-se.
A mutante então se teleporta novamente e retorna ao cenário em que seria filmada a cena e diz:
— Cadê o cara do figurino? Chamem ele para mim! — não demorou muito para que o encontrassem.
— Oi, Senhorita Velasco. Me chamou?
— Você é o Vitor, não é?
— Sou sim e… — antes que este terminasse de falar qualquer coisa, ela o acerta com um soco em seu queixo.
— É isso o que dá, ficar assediando meu elenco! — Gabi se vira para seu assistente — Manda esse daí embora. Precisamos de um novo figurinista.
— Tudo bem! — ele entrega o celular de sua chefe para ela — Ah, Senhorita Velasco, tem uma mensagem nova para você.
Gabriela liga o dispositivo e lê o chamado de Samuel para o funeral da mãe:
— Ah, que merda!
A cineasta, não tolerava tais injustiças, nada passaria impune enquanto ela estivesse presente, mas ela não esperava essa mensagem, pois agora teria de acolher seu colega, mesmo ela nunca tendo gostado dele, mas agora a mulher devia engolir seu ego e acolher Samuel.
O último a ver a mensagem era CJ, Carlos Joaquim, o último dos “problemas”, um ativista vegetariano que luta em defesa dos animais.
Ele morava numa fazenda, um lugar tranquilo onde ele podia descansar e buscar paz, ao mesmo tempo que abrigava todos os animais desabrigados e machucados que podia, para prepará-los para um novo lar.
CJ era um bom rapaz, ele jamais deixaria uma situação impune, ele amava a todos e prezava pelo bem estar.
No campo verde e macio, deitado com sua namorada, em um belo piquenique, o mutante apreciava a vista e ambos tentavam encontrar figuras em nuvens:
— Aquela parece um cavalo! — fala Vanessa, apontando para o céu.
— Um cavalo? — rindo ele continua a brincadeira — Eu achei aquela parecida com um coração.
Rindo, o casal de beija, deitados sobre um pano xadrez, eles se sentiam confortáveis, longe da cidade e longe dos problemas externos:
— Amor — olhando fundo nos olhos de seu companheiro, a mulher pergunta com seriedade — você não quer mesmo que eu vá com você no funeral?
— Não, eu prefiro ir sozinho. Não vai ser bom para você.
— Por que?
— O pessoal de lá é meio… complicado.
— Mas vocês não são amigos?
— Já fomos muito próximos, mas alguns não se dão bem e mesmo os que ainda se falam, não se veem com frequência. Nem parece que crescemos juntos…
— Entendo, mas o que aconteceu para vocês se separarem assim? Você nunca me contou.
— Ah, nós brigamos, era aniversário da Beatriz e… bom, coisas ruins aconteceram.
A verdade é que, na festa de dezoito anos de Bea Garcia, em sua antiga casa quando ainda morava com seus pais, ela não havia chamado muitas pessoas, apenas seus amigos mutantes com os quais cresceu junto.
Eles se divertiam na sala de estar com jogos enquanto comiam caixas e caixas de pizza de todos os sabores e bebiam qualquer coisa que estivesse na geladeira:
— Não vai beber, Félix? — Melissa perguntou fumando seu cigarro eletrônico e soltando uma nuvem de fumaça.
— Eu aumentei a dosagem dos meus remédios recentemente, então não acho uma boa ideia beber hoje. — respondeu o rapaz bebendo refrigerante.
— Acabou a pizza vegetariana? — CJ procurava em uma das caixas que estavam no chão mas só encontrou amontoados de papelão vazios.
— Tem mais em cima da mesa! — a aniversariante que estava sentada no chão com o restante das pessoas apontou para uma outra caixa de pizza — Fica tranquilo, eu sei que você não come carne.
— Obrigado.
— Minha cerveja está quente… André, você poderia refrescá-la para mim? — Samuel Watanabe lhe entrega a latinha.
— Claro, Samuca! — com seus poderes congelantes ele deixa a bebida muito mais fresca.
— Gente! — todos se viram para Gabi e ela continua a falar — Vocês sabem que eu adoro uma polêmica, então e se jogarmos algo polêmico…?
— Mais polêmico do que esse jogo de cartas? A Bea me fez comprar mais oito cartas… — Carlos, o metamorfo vegetariano segurava tantas cartas em suas mãos que mal as segurava.
— É pra você ficar esperto! — brincou ela aos risos.
— Verdade ou desafio! — disse Gabriela com um sorriso malicioso no rosto.
— Eu gosto da sua audácia… — riu Félix — eu topo!
— Bora lá, então! — a dona da festa concorda e todos a seguem.
Rodando uma garrafa de vidro de refrigerante vazia, todos os adolescentes que estavam sentados no chão começam a fazer a tão polêmica pergunta uns aos outros:
— Verdade ou desafio? — Samuel estava em uma ponta da garrafa e Félix que estava na outra, deveria responder.
— Vamos começar com um desafio, para animar as coisas!
— Eu te desafio a ficar cinco minutos no banheiro com a Gabi, se ela aceitar é claro… mas, lembrando que quem não aceitar vai estar estragando a brincadeira.
— Ah, mas…
— Vai, você não vai estragar a brincadeira né? — Samuca riu enquanto revirava os olhos — Vocês não precisam fazer nada… se quiserem podem apenas ficar lá dentro conversando.
— Por mim tudo bem. — Gabi se levantou.
— Ah, se por você tá tudo bem, eu vou. — e os dois foram e se trancaram lá dentro.
Rindo, o grupo que continuou sentado no círculo, continuaram a jogar e girar a garrafa:
— Sua vez Melissa! — disse André que havia movimentado o objeto de vidro — Verdade ou desafio?
— Desafio! Mas quero um bem pesado.
— Duvido você mandar mensagem para seu ex.
— Fácil! — soprando toda aquela fumaça de seu cigarro eletrônico, ela pegou seu celular com orelhas de gatinho e digitou —  Pronto, mandei um “Oi”, agora é só esperar ele…
— O que? — André perguntou curioso.
— Puta merda, ele tá digitando. — a menina revirou os olhos.
— Meu Deus! — Bea gargalhava.
— Ele mandou “Estava pensando em você exatamente agora…” com um emoji safadinho. — ela revirou os olhos novamente enquanto fumava — Foi por isso que terminamos… o cara era meu namorado, mas me tratava como um dos meus clientes… eu queria que ele gostasse de mim, mas ele só queria me comer.
— Sinto muito, amiga… — André tentou consolá-la.
— Não, relaxa… já aceitei que ele é um bosta… a culpa não é sua.
— Olha, não sei se já deram cinco minutos, mas eu não ligo! — Gabi saiu do banheiro rindo com seu amigo Félix — Tá quente pra caralho lá dentro!
— Ui! O que o Félix fez para esquentar as coisas? — Samuel queria provocar seus amigos.
— Olha, se não der certo na empresa do seu pai, você poderia começar a carreira de comediante! — riu o menino loiro que saia do banheiro — E aí, o que perdemos?
O celular de Melissa tocou com uma notificação e ao abrir a conversa, ela se deparou com uma foto do pênis de seu antigo namorado:
— Aquele bosta mandou uma foto do pau com a legenda “Vem cá, cadela!”!
— Quem? O seu ex? — o telecinético bipolar nem se sentou e já ficou perplexo.
— Sim…
— Que filho da puta! — a cineasta Velasco bufou de ódio.
— Eu tive uma ideia! — Beatriz Garcia já sabia o que fazer — E se a gente der um jeitinho nele?
A ideia era de ir até onde o ex de Melissa estava e infernizá-lo sem que ele percebesse, foi aí que CJ, que tinha mais experiência no volante, pegou as chaves do carro dos pais de Bea que estavam dormindo e por sorte o veículo cabia os sete amigos:
— Se você bater esse carro, eu vou queimar o seu bigodinho! — riu a aniversariante que falou baixinho para não fazer barulho.
Eles foram dirigindo até a casa do homem que pensava apenas com a cabeça de baixo enquanto ouviam uma música que gostavam, depois de Gabi ter sincronizado o sistema de som do carro com a playlist de seu celular.
Quando menos esperavam, estavam todos cantando alto e se divertindo, até que finalmente chegaram perto da casa e decidiram fazer silêncio para terem o efeito surpresa, depois desceram do carro e para burlar a segurança, Félix usou suas ondas psíquicas para mover as câmeras para a parede ou para o chão e em seguida, a cineasta dos cabelos enrolados, deu as mãos para todos do grupo e os teleportou para o outro lado da grade esburacada. Era uma bela mansão, mas em breve se tornaria um verdadeiro inferno.
Abaixados para não serem vistos, ficaram atrás de uma moita, observando o lado de dentro da casa do homem pela janela enorme, mas a única visão que tinham do interior da residência, era uma parede branca com um quadro abstrato pendurado, mas isso não era um problema.
Melissa se conectou a mente de seu ex, mas ficou bem quietinha lá, escondida, vendo tudo o que ele via e guiando seus colegas:
— Ele tá na sala… vendo TV… ele tá com um uma garrafa de cerveja na mão direita e o celular na mão direita.
— E então, o que você quer fazer, Melissa? — a aniversariante perguntou curiosa.
— Eu tenho uma ideia… — ela fechou os olhos e sussurrou ordenando — durma…
O homem dormiu ali mesmo, sentado no sofá, derrubando a cerveja sobre si e deixando o celular ao seu lado:
— Vamos entrar! — a telepata abriu os olhos e chamou seus amigos para dentro da casa.
Assim eles fizeram, Félix abriu a porta com seus poderes, mas ninguém percebeu que ativaram um alarme silencioso:
— Não coloquem as mãos em nada. É igual filme policial, não pode deixar marca de dedo e digital aqui! — alertou Gabi.
— Por que, exatamente, estamos entrando aqui? — CJ estava com medo de serem pegos.
— Ele dizia que me amava, mas não tem nada que ele ame mais que o videogame dele.
— Acho que sei onde você quer chegar com isso… — Bea com um sorriso no rosto, mal podia esperar pela vingança.
— Embora eu adoraria quebrar o console dele, Gabi está certa, não podemos pôr as mãos em nada. — Melissa pensa um pouco — Félix, você poderia fazer as honras?
— Com prazer! — com um simples gesto de suas mãos o aparelho de jogos virtuais soltou faíscas e se partiu em pedaços.
— Mais de mil e quinhentas conquistas e vinte e três jogos zerados, se foram… — sorrindo e empolgada, a menina estava satisfeita com a sua vingança — acho que nunca fui tão feliz! Isso merece um brinde! Vou pegar aquela garrafa de vinho que deixei aqui.
— Eu amo um vinho! — disse Bea, seguindo a amiga junto de todos os outros.
— Bea, eu posso falar com você… em particular? — Samuel tinha algo muito importante para falar com sua melhor amiga.
— Pode sim! Vão junto da Melissa, pessoal. Eu já vou. — e assim seus amigos fizeram.
O ex da telepata dormia em seu sofá enquanto os dois amigos começam a tão importante conversa:
— Então, o que é tão importante?
— Bea, eu sei que não é o melhor momento, mas tenho que aproveitar os meus picos de coragem para dizer, antes que você decida embarcar em mais uma aventura ainda hoje. Eu tô com o coração apertado.
— Você sabe que eu adoro uma aventura. — ela riu e prosseguiu curiosa — Mas o que está te deixando nessa situação? Eu fiz algo que te incomodou?
— Eu… eu gosto de você!
— Eu também, gosto muito de você! Você é meu melhor amigo! — rindo ela bate de leve em seu ombro com um soquinho.
— Não, eu te amo de verdade…
— Como assim? — a moça fica sem entender a situação e o rapaz avançou para beijá-la — Não… me desculpa, eu te amo, mas você é meu amigo… nada mais.
— Eu…
— Olha, eu sinto muito, de verdade, mas não vai rolar…
— Ah, olha — Samuel se segurou para não chorar e prosseguiu sorrindo — vamos lá pegar um vinho… na verdade, pode ir que eu já vou.
Beatriz foi até onde seus amigos estavam e os encontrou com uma garrafa passando de mão em mão e bebendo no bico para não sujar copos, ela deu um gole longo na bebida para poder digerir aquela situação e o garoto que havia se declarado ficou na sala, provavelmente chorando, um tempo se passou, mas tudo deu errado quando escutaram o som da sirene da policia:
— Mas que merda! Certeza que aquela fofoqueira da Neide que ligou pra polícia!
— Vamos! A gente tem que fugir! — falou Samuel da porta.
Eles correram torcendo para não serem vistos pela polícia que estava para chegar, alguns ainda eram menores de idade e não seriam presos, mas outros já tinham idade o suficiente para se darem mal e mesmo que pudessem pagar fiança, não queriam sujar seus nomes.
Gabi Velasco abraçou seus amigos e juntos foram enviados para o outro lado da cerca e rapidamente entraram no carro e foram embora, não falaram nada, apenas ficaram em silêncio com toda aquela adrenalina que os deixaram sem palavras. Calado, Samuel pegou a garrafa de vinho e bebeu o máximo que podia.
Dirigiram de volta para a casa de Bea, estacionaram o carro em silêncio na garagem com cuidado para não esbarrar no carro parado do lado, todos desceram e foram para dentro da casa:
— Pessoal, eu não sei vocês… — disse CJ empolgado.
— Fala mais baixo. Pode acabar acordando os pais da Bea. — advertiu Gabi, falando baixinho.
— Tá bom, desculpa — o garoto começou a falar mais baixo — eu vou para o quarto de hóspedes. Vou dormir.
— Eu também. — disseram os outros em coro, menos Samuel.
O menino que havia se declarado para a aniversariante, não estava com sono, estava bêbado e com raiva e quando todos subiram as escadas para se arrumarem para dormir, apenas ele ficou na sala. Sua amiga do fogo, percebeu que todos se foram e apenas ele restou, então perguntou:
— Tá tudo bem com você? Não nos falamos depois que…
— Que você quebrou meu coração?
— Eu sinto muito, mas se eu dissesse que sinto o mesmo, não estaria sendo verdadeira com o que eu sinto e…
— Vem cá… — ele a pegou pela mão e com força a puxou para perto.
— Samuel, você tá fedendo álcool. Você tá me machucando, para!
— Eu só quero um beijo…
— Sai de perto de mim! — ela o empurrou no chão com tamanha força que acidentalmente usou seus poderes e chamuscou sua camiseta.
Com medo de tê-lo machucado, a moça o ajuda a levantar e pede desculpas:
— Me desculpa!
— Não, não desculpo! Você queria me matar!
— Não, eu não… foi sem querer…
— Quer saber, eu vou pedir um carro! Vou para casa!
— Eu vou com você…
— Não, me deixa! — Samuel foi embora batendo a porta com força e deixou Beatriz ficou sozinha na sala.
Bea estava com os punhos fervendo de raiva, literalmente, mas sabia que não podia externalizar esse sentimento, tinha que guardar tudo, ela se sentiu sozinha e sem controle da situação, mas ela não estava sozinha:
— Bea, eu ouvi a porta batendo. — André desceu as escadas lentamente com cara de assustado e se compadece ao ver a amiga chorando — Bea, o que aconteceu?
— Nada… é que o Samuel tava meio estranho e a gente brigou, mas amanhã a gente já vai estar bem de novo.
— Fica tranquila, ele já foi. Não deixa isso estragar a sua noite… — ele olhou em seus olhos e mesmo com as lágrimas da moça queimando suas mãos, ele secou o rosto dela.
— Ele se declarou pra mim.
— E o que você disse?
— Disse que não gosto dele… se dissesse que gostava, estaria mentindo…
— Bom, pelo menos você foi sincera. Sempre gostei disso em você.
— Ah, eu não gosto… queria ser mais pacífica, como você.
— Ah mas nem sempre é bom. Eu guardo o que eu sinto e demoro para parar de sentir, mas você já coloca pra fora e se liberta. Você é uma pessoa livre.
— Obrigado… — com um sorriso, ela já estava se esquecendo do assédio ocorrido.
— Eu sei que o Samuel é seu melhor amigo, mas você não devia deixar ele te tratar assim.
— Assim como?
— Eu percebo que você não abaixa a cabeça para ninguém, mas quando é com ele, é diferente. Ele faz você se sentir culpada.
— Eu não sei, acho que com ele as coisas sempre foram assim…
— Ele te fez chorar só por você ter dito “Não”. Ninguém tem culpa por você não gostar dele.
— Até porque eu gosto de outra pessoa… e já tem um tempo.
— Pessoa? É homem, ou mulher?
— Mulheres são lindas, mas essa pessoa é um cara. — a menina riu e se sentou no sofá junto de André — Ele não é só um cara, ele é um super cara.
— Ele tem poderes?
— Sim, mas não é só por isso que ele é super, ele também é super legal, super interessante e eu tô super interessada nele. — Bea colocou a mão sobre a mão dele.
— V-você tem certeza que quer isso?
— Tenho! E você? Quer isso?
— Quero…
A mutante se inclinou e o beijou, suas mãos brincavam por seus corpos, até que seus toques se intensificaram:
— Posso ir com tudo? — ele seguiu o ritmo dela para respeitá-la em cada ato.
— Você nem precisa me perguntar… — a moça esticou as pernas e tirou sua calça delicadamente e em seguida chutou a peça de roupa no chão.
— Então tá… — com Bea deitada no sofá, ele beijou suas pernas e foi subindo seus lábios até chegar a sua calcinha.
De forma suave André tirou a peça de roupa íntima e começou a mover sua língua, o que fez sua parceira deleitar-se em prazer, soltando um gemido. Em seguida, naquele ambiente que era iluminado apenas por um abajur fraco, enquanto ambos trocavam afetos, o homem abriu o zíper e com um preservativo, a penetrou e nesse exato instante, a lareira ascendeu com uma chama forte enquanto a neve, que se formava rapidamente acima de seus corpos, caia e derretia assim que se aproximava da garota. Essa foi a primeira vez dos dois.

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⏰ Última atualização: Aug 22 ⏰

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