veludo marrom

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ouça "VELUDO MARROM", da Liniker, enquanto lê, para uma experiência completa :)


veludo marrom

talvez eu goste ainda mais de nós

num dia inteiro colados, à sós

3 dias. 3 dias era tudo o que Diego tinha no Rio de Janeiro, por causa de um trabalho inesperado. Apesar de conhecer a cidade por seu calor abafado, durante sua estadia, os dias eram surpreendentemente frios. O rapaz chegou numa quinta-feira, de manhã, e trabalhou tanto que só teve tempo para respirar no pós-almoço de sábado. A última diária do hotel.

E foi quando mandou a mensagem.

A mensagem que resultou na pele marrom, macia e brilhante, estirada em sua frente na cama, durante um sono sereno.

Sob a luz baixa do abajur, agora a única fonte de iluminação naquele quarto, Diego se pegava sentado de pernas cruzadas, em silêncio, na cama gigantesca. Nas outras noites, chegou até a se sentir um pouco solitário demais por conta do tamanho do colchão, em contraste com seu corpo tão pequeno.

Mas não agora.

Agora, o espaço era preenchido por aquele outro corpo que, devagarinho, centímetro por centímetro, era estudado pelos olhos castanhos-claros, atentos, buscando analisar cada nuance do tom. Como se tivesse todo o tempo do mundo.

Enquanto Amaury dormia, com a respiração tranquila, Diego recapitulava as últimas horas.

Geralmente, quando acontecia o evento raro do ruivo vir ao Rio, eles se encontravam em algum samba, ou um bar de esquina qualquer, junto a outros amigos. Bebiam, contavam histórias, davam risadas. Os olhares, entretanto, sempre voltavam um ao outro, sem demorar demais em outros rostos, sem prestar muita atenção em outras vozes. Ansiosos pelo momento que poderiam ficar sozinhos.

Dessa vez, então, decidiram que prefeririam ficar à sós. Eles só teriam algumas horas, no fim das contas. E foi assim que Amaury apareceu na porta de seu quarto às seis da tarde.

Nenhum dos dois sabia afirmar com certeza, mas chutavam que fazia 4 meses desde a última vez que tinham se visto pessoalmente. Isso explicava o abraço silencioso e longo, duradouro, quase infinito, em que se entrelaçaram assim que as pupilas se cruzaram.

Depois de longos minutos em que apenas os suspiros profundos podiam ser ouvidos, Diego pegou Amaury pela mão e o puxou para dentro. Seu voo de volta para São Paulo era às duas da madrugada e, por isso, não teriam tanto tempo quanto gostariam.

Passaram boa parte do fim de tarde deitados, entrelaçados no pequeno sofá, cobertos pelas mantas de veludo azul, a televisão ligada à toa, servindo apenas de som ambiente para as vozes que, felizes e tranquilas, atualizavam uma a outra de um resumo do que foram os últimos meses de suas vidas, quando mal tiveram tempo de se falar.

Desabafavam sobre coisas corriqueiras do dia a dia, o cansaço do trabalho, o aumento do valor do condomínio, o carro do vizinho mal estacionado na garagem. Perguntavam sobre suas famílias, checavam se suas mães estavam bem.

Faziam isso sem, nem por um segundo, desgrudarem as mãos um do outro. Sem desfazerem o nó confuso de suas pernas. Se acariciavam, faziam cafuné conforme as posições mudavam, e se alternavam entre deitar um no colo do outro.

Davam tanta risada juntos, e as horas passavam como se fossem segundos.

com tempo pra se discorrer à dois

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