Eternamente talvez

Halloween

O vento frio de outubro soprava levemente, levantando as folhas secas que se acumulavam nas calçadas. Clara ajeitou a gola do casaco, sentindo o arrepio que não era só causado pelo clima. Ela estava vestida como uma Rainha de Copas improvisada, com uma blusa vermelha de manga comprida, saia preta e botas pretas, completando o visual com uma coroa feita de cartas e maquiagem dramática. Clara não era fã de festas, especialmente aquelas onde não conhecia ninguém, mas quando Isis, sua amiga de infância, insistiu para que a acompanhasse naquela festa de Halloween, ela não conseguiu dizer não.

"Prometo que vai ser divertido! Além do mais, é só uma noite. Vai fazer bem pra você," Isis argumentou enquanto ajustava a maquiagem pesada, típica da ocasião. Ela estava igualmente fantasiada de Rainha de Copas, mas com um vestido preto e botas vermelhas, mantendo o mesmo estilo que Clara.

"Tá bom, tá bom... Mas eu só conheço você lá, né? Vou ficar deslocada," Clara respondeu, tentando esconder a insegurança.

"Relaxa! O Vico é super gente boa, ele vai te deixar à vontade. E tem um pessoal legal, você vai gostar," disse Isis, piscando um olho, como se soubesse de algo que Clara não sabia.

Ao chegarem à casa, Clara se deparou com uma decoração típica de Halloween: abóboras iluminadas, teias de aranha falsas e luzes baixas que criavam um ambiente misterioso e acolhedor. A música alta e as risadas vinham de todos os lados, criando um cenário de pura animação. Clara, que não conhecia Vico antes daquela noite, sentiu uma mistura de curiosidade e nervosismo.

Quando entraram na sala, Clara não pôde deixar de notar Vico. Ele estava no centro da festa, rodeado por amigos, com uma blusa preta e um boné preto. Sem fantasia, ele contrastava com os outros convidados, mas emanava uma energia contagiante que chamava a atenção. Os olhares de Clara e Vico se cruzaram por um breve momento. Ele sorriu, um sorriso que parecia destinado exclusivamente a ela, mas Clara desviou o olhar rapidamente, tentando se focar na conversa com Isis.

Enquanto isso, Vico se virou para um amigo e, sem tirar os olhos de Clara, comentou: "Quem é aquela garota com a Isis? Nunca a vi por aqui."

O amigo deu de ombros. "Não faço ideia, mas ela é muito linda ."

Vico sorriu. "Sai fora, já é minha."

À medida que as horas passavam, Clara tentava se divertir, mas seu olhar sempre voltava para Vico. Ele parecia fazer questão de estar por perto, embora de maneira sutil. De vez em quando, passava por ela e dizia "Oi" com um sorriso que Clara começava a achar difícil de resistir. A presença dele era um mistério que ela queria explorar.

Num determinado momento, Isis se afastou para ficar com um garoto que havia acabado de conhecer, deixando Clara sozinha. Vico aproveitou a oportunidade e começou a fazer brincadeiras para chamar a atenção de Isis. Clara, sem pensar, deu um leve tapa no braço dele. "Para de atrapalhar, idiota!" disse ela, com um sorriso divertido. Vico riu, adorando o gesto espontâneo.

"Uau, você é braba" respondeu Vico, fingindo estar impressionado.

Clara riu e deu de ombros. "Alguém tem que manter a ordem por aqui, né?"

Mais tarde, Clara confidenciou a Isis que queria ficar com Vico. Sem saber que Denise, a mãe de Vico, estava atrás delas e ouviu a conversa, Clara foi surpreendida quando Denise se aproximou com um sorriso acolhedor. "Com quem você quer ficar, querida?"

Clara, sem saber quem era, respondeu com um sussurro conspirador: "Com o Vico."

Denise riu, encantada. "Sério? Ele é meu filho! Deixa que eu vou falar com ele."

Clara sentiu o rosto queimar. "Oh, meu Deus, eu não sabia!"

"Relaxa," Denise respondeu, piscando para Clara antes de se afastar. Alguns minutos depois, ela voltou com a notícia que Clara queria ouvir. "Ele também quer, mas precisamos esperar a menina com quem ele estava ficar ir embora."

O coração de Clara batia rápido enquanto ela esperava. Quando finalmente a outra garota foi embora, Denise a levou até uma sala mais afastada, onde Vico a aguardava.

"Vem, senta aqui," Vico disse, apagando as luzes quando ela se acomodou ao seu lado no sofá. A única iluminação era a de algumas velas, que lançavam sombras dançantes pelas paredes. Clara sentia a tensão no ar, mas ao mesmo tempo uma conexão que parecia inexplicável.

"Eu juro que já te vi em algum lugar antes," Vico disse, quebrando o silêncio com um tom suave.

Clara sorriu, um pouco tímida. "Eu também sinto isso. Talvez em outra vida?"

Vico riu baixinho. "Pode ser... ou talvez seja só essa festa estranha que está fazendo a gente sentir coisas."

Eles conversaram sobre tudo e sobre nada, como se já se conhecessem há anos. A conversa fluía de maneira natural, até que, num momento de silêncio confortável, seus olhares se encontraram, e o inevitável aconteceu. Eles se beijaram, um beijo suave, cheio de promessas não ditas.

Quando se afastaram, Clara riu nervosa. "Não sei o que dizer agora."

Vico, ainda com os lábios próximos dos dela, respondeu com uma risada: "Acho que falamos tanto que esgotamos as palavras."

Eles decidiram sair da sala e voltar para o lado de fora, onde todos os outros ainda estavam. Porém, depois daquele beijo, as coisas já não eram as mesmas. A conexão estava ali, firme, mas não trocaram mais palavras naquela noite. Tudo ficou subentendido, e talvez fosse melhor assim.

No dia seguinte, Clara acordou com a sensação de que algo importante havia acontecido. Ao abrir o Instagram, viu que Vico já a seguia. Com um sorriso, decidiu começar uma brincadeira. "Você tem o número 5 na biografia do Instagram, e ele é meu número. Tu tá roubando ele," ela escreveu, tentando parecer casual.

Vico respondeu rápido, com a mesma leveza. "Pode ser nosso."

E assim, a faísca de algo maior foi acesa. Durante as próximas duas semanas, eles se falaram todos os dias, trocando confidências, rindo e descobrindo que o que começou com um simples "oi" poderia se transformar em algo muito mais profundo.