Prologo

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"Cada suspiro que você der e cada movimento que você fizer
Cada laço que você quebrar, cada paço que você der
Eu estarei te observando."

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A noite parecia ter uma densidade incomum naquela cidade que nunca dormia, e Eliza Montgomery percebia cada detalhe com uma intensidade perturbadora. Os postes de luz espalhavam sombras escuras pelas calçadas vazias, dando à rua um tom quase fantasmagórico. O ar estava frio, denso, e parecia se prender na garganta a cada nova respiração. No fundo, havia algo inquietante, um sussurro silencioso, algo que apenas o coração de Eliza parecia perceber, batendo um pouco mais rápido a cada passo.

As botas de couro da ruiva, tão familiares, agora ecoavam de forma sinistra, e a cidade, antes acolhedora, parecia observar seus movimentos. Ela mantinha o olhar fixo, evitando as sombras das árvores que dançavam sob o vento cortante. Para qualquer um, poderia ser apenas mais uma caminhada, mas para Eliza... o pressentimento se tornava inegável.

Ela tentava afastar a sensação, distraindo-se com pensamentos sobre seu livro. "É só mais uma noite normal," repetiu para si mesma, "como qualquer outra". Mas o desconforto insistia. As últimas semanas haviam sido como um pesadelo não declarado. Primeiro, os pequenos sinais: a porta da frente aberta, mesmo após ela jurar tê-la trancado. O copo fora do lugar na cozinha, tão milimetricamente diferente. Eram coisas pequenas, detalhes quase invisíveis. Mas, para Eliza, estavam cheios de significado.

— Concentre-se, Eliza... nada de deixar os pensamentos negativos surgirem — murmurou, tentando controlar o tremor em sua voz.

Ela acelerou o passo, mas a sensação persistia, como um toque gélido na nuca, lembrando-a de que não estava sozinha. Não era paranoia. Alguém a observava. As luzes dos postes começavam a falhar, piscando de forma irregular, tornando as sombras ainda mais assustadoras. A cada pulsar da luz, um pavor se enraizava em seu peito.

— Está tudo bem... só estou cansada — repetiu, como uma prece, tentando convencer a si mesma de que nada estava errado. — Talvez não seja só cansaço, Eliza... talvez você apenas esteja vendo o que ignorou por tanto tempo — murmurou uma voz masculina, baixa, carregada de um tom de familiaridade desconfortante.

Ela parou imediatamente, sentindo o coração pular até a garganta. Os olhos correram pela rua escura, mas não havia ninguém. "Minha mente está pregando peças..." tentou se convencer. Mas a voz continuava a ecoar em sua mente, tão real quanto o frio que agora cortava seus ossos.

À medida que se aproximava de casa, o ar parecia mais denso, como se a noite estivesse conspirando para lhe roubar o fôlego. Cada passo era acompanhado por um som abafado e inquietante, e as sombras ao seu redor pareciam ganhar formas ameaçadoras, moldando-se à sua insegurança crescente. Eliza olhava ao redor, tentando encontrar algum sinal de vida, algo que lhe desse a certeza de que não estava sozinha — pelo menos, não da maneira que temia. A ansiedade apertava seu peito, tornando seus passos mais curtos e hesitantes.

Quando voltou a olhar para frente, seu corpo chocou-se contra algo inesperado, forte e quente. Ela recuou com o impacto, seu coração saltando com o susto, e sua bolsa caiu no chão com um baque abafado.

— Opa... desculpa — disse uma voz grave, suave, mas com uma profundidade que a fez estremecer. Eliza levantou o olhar e encontrou um homem alto à sua frente, com olhos intensos que pareciam observá-la com um interesse desconcertante.

— Desculpa, eu não prestei atenção para onde estava indo — murmurou ela, tentando esconder o embaraço que subia ao seu rosto.

Ele abaixou-se para pegar a bolsa caída, e ao entregá-la, seus dedos roçaram nos dela, um toque breve, mas o suficiente para enviar um arrepio pela sua pele. Ele sustentou o olhar por um segundo a mais do que o necessário, com um sorriso quase enigmático.

— Me chamo Bucky... James, na verdade, mas meus amigos me chamam de Bucky — apresentou-se, e a forma como ele dizia as palavras parecia estudada, como se saboreasse o efeito que elas causavam.

Eliza franziu o cenho, intrigada. Era estranho ele se apresentar tão formalmente a uma completa desconhecida, e algo na maneira como ele a encarava parecia mais do que uma simples troca de gentilezas.

— Me chamo Eliza — respondeu, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha, tentando ignorar o desconforto que aquele homem lhe causava.

— Eliza... belo nome... — ele murmurou, como se saboreasse cada sílaba, deixando-a ainda mais inquieta. — Bom, desejo uma boa noite, Eliza.

Bucky afastou-se devagar, assobiando uma melodia suave que dançava no ar da noite, mas seus olhos não deixavam a silhueta de Eliza. Sob a fraca luz da rua, ela permanecia estática, observando-o desaparecer ao dobrar a esquina, uma incerteza latente refletida em seu olhar. Assim que ele se ocultou nas sombras, ela olhou ao redor, uma sensação estranha de alívio tomando conta dela. E então, com um suspiro leve, seguiu para casa, acreditando que, finalmente, estava sozinha.

Mas Bucky continuava ali, observando-a. Atravessou a rua com passos quase inaudíveis, deslizando para o ponto exato onde podia observar o movimento da casa sem ser visto. Conhecia os hábitos de Eliza melhor do que ela mesma. Sabia quando as luzes do abajur ao lado de sua cama se apagariam, o momento exato em que seu livro favorito escorregaria de suas mãos para o colo e como sua respiração mudava conforme ela caía no sono. Ele era a sombra constante em sua vida, aquele que a observava sem ser notado, sempre um passo atrás, como um guardião silencioso.

Ela abriu a porta com hesitação, os olhos relanceando para as sombras, talvez sem saber ao certo se estava segura. A porta rangeu ao fechar-se, e ele sentiu uma inquietação crescer dentro de si, como uma chama mal contida. A ideia de que algo ou alguém poderia se aproximar dela trazia-lhe uma onda de ansiedade disfarçada por sua própria devoção.

Ele murmurou baixo, quase como uma promessa:

— Eu sou o único que pode mantê-la segura, Eliza.

A frase soava como um feitiço. Cada palavra sustentava uma promessa macabra de devoção, mas também uma possessividade silenciosa. Ele era mais que um observador; era o fantasma que preenchia as lacunas de sua vida. E agora, a proximidade de seu primeiro contato com ela havia despertado algo em seu peito, algo perigoso e possessivo, um desejo de pertencer ao mundo dela.

A luz da cozinha acendeu, projetando uma imagem difusa de Eliza contra a janela. Ele observou cada movimento dela, encantado pela suavidade dos gestos, e sentiu um aperto ao ver que ela hesitava antes de trancar a porta, como se ainda sentisse que algo estava errado. Ele queria aproximar-se, bater na porta e mostrar-se a ela, confessar que a admirava em segredo, mas a razão sempre o impedia. Em sua mente, justificava essa obsessão como uma forma de proteção; afinal, era ele quem conhecia seus passos, seus medos e seus segredos mais profundos.

Com os olhos fixos nela, murmurou de novo, quase sem se dar conta:

— Eu nunca deixarei ninguém te machucar.

Com o último olhar, afastou-se para a escuridão, certo de que voltaria. Esse jogo perigoso, mas, era o único que ele conhecia.

YOU ᵇᵘᶜᵏʸ ᵇᵃʳⁿᵉˢOnde histórias criam vida. Descubra agora