Capítulo 04

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EDUARDO QUEIROZ

Acabo de passar pela porta do tribunal, quando ouço as batidas irritantes e consecutivas de salto contra o chão. O som enche o ambiente deixado para trás, se tornando próximo a cada passo que dou.

Sei exatamente quem vou encontrar se virar para conferir, por isso nem faço. Caminho em direção ao meu carro estacionado próximo ao tribunal, porém, quando sinto uma mão envolver firme meu braço, paro, direcionando meu corpo para a mulher.

— O que você quer, Leonor? — Pergunto, lhe encarando, impaciente.

— Apenas te avisar que meu meu pai ficará sabendo disso. — Diz entre dentes, uma ameaça velada.

Sorrio irônico.

— Quero que aquele velho se foda. Não tenho medo.

— Não era bem isso que você dizia à dezoito anos atrás. — Zomba.

— Acho melhor eu ir embo... — Jonatas começa, mas eu lhe corto antes que termine sua fala.

— Não, eu convidei e levarei você! Faço questão.

— Certo. — O jovem murmura sem nem protestar.

Doutor Marcelo, meu advogado, estava ocupado com um caso, quando eu quis dar entrada com o divórcio. Mas não me deixou na mão. O homem me recomendou o seu melhor ex-aluno, que acabou de formar em advocacia. Me deu garantia de que o garoto era bom e eu resolvi dar uma chance.

Gosto de dar oportunidades para aqueles que precisam. E Jonatas era exatamente isso. Um garoto de origem humilde, morador de favela, que mesmo com as dificuldades conseguiu se forma e não virou bandido.

Sabe-se lá quanto tempo ele levaria para assumir um caso judiciário, tendo a origem que tem.

O Brasil não é fácil.

Dou dois passos à frente, ficando quase cara a cara com a mulher, que ergue a cabeça para me encarar. Leonor é uma mulher de quase um metro e noventa, sua altura pode intimidar qualquer um, mas não à mim.

Abaixo a cabeça, quase tocando os nossos narizes, olho bem em seus olhos, antes de abrir a boca.

— Não me tente me intimidar, Leonor. Você sabe, isso nunca acaba bem.

— Está me ameaçando? — Indaga, admirada.

— Não, apenas te lembrando.

Me afasto, puxando meu braço com uma certa bruquidão, de seu toque. Me viro para o advogado, que finge observar a movimentação dos carros na avenida, mas visivelmente aparenta está deslocado pela discussão.

— Vamos, Doutor Jonatas. — O chamo, já saindo.

— Você ainda vai me pagar pela humilhação que está me fazendo passar, Queiroz. — Ouço a mulher exclamar, enraivada.

Ignoro suas reclamações, seguindo para o carro.

Desde que, apenas, sugeri a ideia do divórcio, Leonor se opôs e fez um verdadeiro inferno acontecer. Não que nossa vida de casado já não fosse, mas a mulher conseguiu ser completamente insuportável.

A maluca não aceitou o fim do nosso casamento. Fazem malditos cinco meses que tento fazer Leonor assinar os papéis do divórcio, e apenas agora que consegui.

Finalmente estou livre dessa maluca.

Meu casamento com Leonor sempre foi uma merda sem estrutura alguma. Foram dezesseis anos de muitas discussões e brigas. Nem lembro qual foi a última vez que conversamos civilizadamente, sem acabar em gritaria ou com sua palma impressa em rosto.

Ódio ObsessivoOnde histórias criam vida. Descubra agora