Eu te amo

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– Aqui está seu cappuccino, senhor.
Akaashi agradece o garçom com um aceno de cabeça enquanto termina de escrever a próxima matéria sobre a semifinal da liga de vôlei entre FC Tokyo e Osaka Sakai. Hoje Keiji trabalhava para uma das maiores emissoras do país como jornalista esportivo e estava plenamente feliz com sua profissão. De início não era seu sonho, mas ele se descobriu muito bom nisso.
Ele sorriu satisfeito com o texto que produziu e enviou para seu chefe aprovar, logo mais teria sua resposta. Deixou o computador de lado para saborear o cappuccino que agora estava morno enquanto observava a cidade pela janela da cafeteria. Uma garoa fina umedecia o asfalto e por isso havia poucas pessoas andando do lado de fora.
Quando Akaashi se mudou para Tóquio há três anos, precisou se acostumar com a metrópole movimentada e agora achava estranho quando as ruas estavam vazias. Ele gostava da sua nova cidade pela sensação de insignificância que cada pessoa possuía, poderia fazer o que quisesse sem ninguém o incomodar. Era libertador.
Tomou mais um gole do cappuccino e fez uma careta ao sentir o açúcar do chocolate na ponta da língua. Não estava acostumado a sabores muitos doces, mas decidiu tentar algo diferente. São poucos passos para deixar sua vida antiga em Kanto e recomeçar.
Era mais difícil do que ele pensava, principalmente quando se encontrava sozinho em seu apartamento pensando nas coisas que poderiam ser diferentes ao mesmo tempo que algumas lágrimas caiam pelo seu rosto. Sabia que o vazio nunca deixaria seu coração e fechava os olhos, imaginando. Imaginava uma vida em que ainda jogava vôlei como levantador ou imaginava ele.
Seus toques, os abraços que o cobriam do resto do mundo, os músculos tensos sob as pontas dos seus dedos, a respiração ofegante em seu ouvido ou os lábios gentis acariciando os seus.
Mesmo após três anos, essa era uma parte sua quase impossível de esquecer.
Keiji teve seus pensamentos interrompidos pelo sininho da porta da cafeteria se abrindo e quando ergueu o olhar para ver quem estava adentrando, seu corpo congelou.
A vida só poderia estar brincando com a sua cara.
Lá estava ele, mais alto do que Akaashi se lembrava, com os cabelos platinados para cima, o moletom do MSBY moldando perfeitamente os músculos do peitoral e bíceps e os brilhantes olhos dourados o encarando como se estivesse vendo uma miragem.
Bokuto Koutarou.
Keiji sentia o coração acelerar tanto que conseguia ouvir seus batimentos no ouvido e a adrenalina agitava seu peito. Desde que ele mudou para Tóquio, nunca tinha visto Koutarou novamente e achava que o platinado havia ficado em seu passado, mas agora que ele estava em sua frente, Keiji não sabia como reagir.
Akaashi desviou o olhar para ver com quem Bokuto estava acompanhando e viu Atsumu e Sakusa fazendo o pedido para o atendente, até que o loiro se virou para o de mechas platinadas e perguntou:
– Vai querer o que, Bokuto?
Isso tirou Koutarou do estado de torpor e ele se virou para responder o amigo enquanto Keiji voltava a encarar a tela do computador desorientado. Nem nos melhores sonhos ou nos piores pesadelos, ele esperava encontrar Bokuto desse jeito.
Ele fechou os olhos e respirou fundo, tentando se acalmar, mas a notificação de email recebido o distraiu. Akaashi abriu sua caixa de mensagens e visualizou o email do seu chefe.
"Aprovado, Akaashi.
A propósito, queria pedir um favor. Você poderia fazer a cobertura do jogo de hoje à noite entre MSBY e JT Thunders? Hana teve uns problemas pessoais e não vai conseguir comparecer."
Não, nem pensar, Keiji iria escrever. Mal estava suportando em ter Bokuto no mesmo ambiente que ele, sua mente não iria aguentar a possibilidade de entrevistá-lo. Quando ele estava escrevendo uma desculpa para não conseguir ir ao jogo, a nuca de Akaashi arrepiou ao ouvir uma voz.
– Com licença. – Bokuto apontou para a cadeira à frente do moreno. – Posso?
Keiji ficou alguns segundos encarando o homem a alguns centímetros de si e apenas conseguiu assentir, pois sabia que sua voz iria falhar ao tentar dizer qualquer coisa.
Koutarou deslizou para a cadeira e Akaashi percebeu os ombros tensos do platinado. Os seus deviam estar iguais.
– Oi, Akaashi...
Keiji quase suspirou ao ouvir seu nome sair na voz grave e encantadora de Bokuto. O moreno escondeu as mãos debaixo da mesa para não deixar o outro ver seus dígitos tremendo. Agora ele se perguntava se foi uma boa ideia deixar Koutarou sentar a mesa.
– Oi, Bokuto – respondeu com um sussurro.
– Como você está? – O platinado replicou cruzando os dedos sobre a mesa.
Akaashi observou os dedos longos e grossos e sentiu um alívio estranho ao ver que não havia nenhum anel de compromisso.
Se recomponha, Keiji.
– Bem – mentiu. – E você?
– Em choque. Não esperava te encontrar aqui. – Bokuto sempre sendo sincero. – Mas estou feliz em te ver.
Akaashi viu um pequeno sorriso surgir nos lábios de Koutarou e segurou a respiração. As palavras fugiram da sua boca.
– Então, o que está fazendo em Tóquio? – Bokuto impediu o curto silêncio constrangedor que estava por vir.
– Estou morando aqui agora – respondeu evitando os olhos dourados com um pouco de vergonha. Não havia contado para ninguém que tinha mudado de cidade.
– Entendo...
Os olhos de Koutarou expressaram um pouco de tristeza e em seguida ele ergueu uma sobrancelha ao ver a bebida sobre a mesa.
– Cappuccino? – o platinado questionou.
– É, estou tentando coisas diferentes. – Keiji se remexeu na cadeira, desconfortável. Agora essa ideia parecia idiota.
Koutarou o encarou com intensidade, percorrendo os olhos pelo rosto de Keiji como se quisesse memorizar cada pedaço. Akaashi conhecia bem aquele olhar e sentiu sua mão coçar, querendo tocar o rosto de Bokuto.
– Keiji, eu...
– Tenho que ir.
Akaashi fechou seu notebook, colocando dentro da mochila e se levantou na velocidade da luz. Ele tinha que sair dali antes que cedesse à tentação e caísse nos braços de Bokuto.
– Espera! – O platinado segurou o braço de Keiji e deslizou a palma delicadamente em direção ao antebraço, causando um arrepio no moreno.
Eles estavam tão próximos que Akaashi mal conseguia respirar. Só era capaz de sentir o hálito de Koutarou em seu rosto e o cheiro do perfume amadeirado que ele usava, despertando algumas memórias no moreno.
– Não fuja de mim de novo, por favor – Bokuto sussurrou.
Ele encarou os olhos suplicantes de Koutarou e reuniu coragem para responder.
– Então não me faça ir embora.
Bokuto engoliu o nó que se formava na sua garganta e a culpa corroía seu coração. Seu desejo agora era voltar ao passado e fazer escolhas diferentes. Entretanto isso não era possível, então iria consertar o que havia feito de errado.
– Podemos conversar de novo?
Akaashi pensou por alguns segundos e decidiu o que seu coração queria.
– Sim. Vou estar no jogo de hoje à noite.
– Certo. Até mais, Akaashi. – Bokuto se afastou com relutância dando passagem para Keiji sair do estabelecimento.
Assim que estava a alguns metros da cafeteria, Akaashi pegou o celular e mandou um email para seu chefe dizendo que poderia ir ao jogo.
Ele esperava não se arrepender

Keiji adentrou o ginásio com a credencial pendurada no pescoço, cumprimentou alguns colegas de trabalho e aguardou Yuji, o cameraman, ajustar as últimas coisas para entrar no ao vivo. Enquanto isso, Akaashi observava os times se aquecerem. Ou melhor, um atleta se aquecer.
Bokuto cortou a bola com uma força impressionante, assustando até mesmo alguns dos jornalistas ao seu lado. Quando o platinado se virou, seus olhos encontraram o de Keiji como se fossem imãs se atraindo e o moreno viu um sorriso fraco surgir no rosto de Koutarou. Essa seria uma longa noite.
O cameraman chamou Keiji para iniciar a gravação. Akaashi reuniu todo o seu foco e concentração para realizar a chamada antes do início do jogo, comentando o quão animada estava a arquibancada e fazendo algumas previsões para a partida.
Quando saiu do ao vivo, o moreno se sentou e o jogo começou. O primeiro set não foi muito fácil para MBSY, cometendo alguns erros que dava brecha para o adversário atacar e finalizou 25 x 20 para os JT Thunders.
No intervalo do entre os sets, Keiji pôde admirar melhor o objeto do seu desejo. Do outro lado da quadra, gotículas de suor escorriam pelo rosto de Bokuto e a camisa molhada aderia ao formato do seu corpo. Não poderia estar mais sexy, Akaashi pensou. Koutarou conversava com os companheiros de equipe sobre as estratégias que podiam realizar e o moreno percebeu o quão diferente ele estava.
Bokuto não era o mesmo garoto do ensino médio. Ele falava sério, centrado. Agora era um atleta de alto nível e com isso ainda vinha a responsabilidade, mas se perguntava se o platinado ainda tinha seus momentos no modo emo. Keiji sorriu fraco, lembrando das situações que apenas algumas palavras dele faziam Koutarou voltar a animação. Definitivamente, esses três anos foram excelentes para o platinado.
A partida reiniciou e os próximos três sets foram o paraíso para MBSY. Todos da equipe estavam conectados e os ataques e as defesas fluíram melhor. E o jogo encerrou com a vitória para MBSY.
Quando os jogadores se aproximaram para realizar as entrevistas, Keiji sentiu o coração palpitar ao ver Bokuto ofegante a sua frente. Então ele iniciou com a primeira pergunta, tentando manter a voz firme como se o homem ao seu lado não o afetasse.
– Parabéns pela excelente conquista, Bokuto. O início foi conturbado com algumas brechas para o adversário, como você e seu time guiaram o jogo para a vitória?
– Obrigado, Akaashi. Com certeza, o trabalho em equipe foi essencial para buscarmos a vitória...
A entrevista seguiu com tranquilidade. Porém, no final Keiji sentiu o coração acelerar ao perceber que o momento da conversa com Bokuto estava chegando. O platinado disse para ele esperar ali mesmo que depois o vinha buscar, então ele viu seus colegas de trabalho irem embora do ginásio, restando apenas Akaashi e sua ansiedade.
Passado alguns minutos, Koutarou apareceu com o cabelo molhado após o banho e o perfume que ele usa mais intenso. Lindo, Keiji pensou.
– Vamos? – Bokuto chamou.
Akaashi assentiu e perguntou enquanto eles saiam do ginásio.
– Para onde vamos?
– Para o hotel em que o time está hospedado. – Koutarou o olhou com preocupação – Se quiser, podemos ir para outro lugar.
– Não, tudo bem.
Akaashi seguiu Bokuto para o estacionamento, ambos entraram no carro e seguiram a viagem em silêncio. A tensão estava tão perceptível no ar que o moreno podia cortá-la com uma faca. Quando chegaram no hotel, eles subiram o elevador e entraram no quarto do platinado.
Keiji olhou ao redor vendo o cômodo simples com uma cama de casal levemente desarrumada e a mala estava jogada no canto e aberta com as roupas amassadas dentro. Akaashi sorriu levemente, ainda era um pouco do Koutarou que ele conhecia.
– Tá com fome? Posso pedir o serviço de quarto pra você. – Bokuto o tirou de seus pensamentos, enquanto deixava a mochila do jogo atrás da porta.
– Não precisa, obrigado.
Keiji sentou-se na cama a pedido de Koutarou, enquanto o outro se sentava em uma cadeira de frente para si. O moreno apertou as unhas nas palmas das mãos para diminuir a ansiedade, então Bokuto falou com a cabeça baixa:
– Akaashi, me desculpe.
Keiji mordeu os lábios, sentindo algumas lágrimas acumularem ao redor dos olhos. Não pensava que se sentiria tão afetado pelas palavras dele.
– Você não precisa...
– Sim, eu preciso, Akaashi. – Bokuto o interrompeu, encarando os olhos azulados. – Sei que te magoei e me odeio por isso, mas eu precisava fazer aquilo.
O moreno fechou os olhos, sentindo uma lágrima escorrer ao lembrar daquele dia. Estava chovendo como nunca em Kanto, parecia que o céu já sabia o que ia acontecer. Akaashi recebeu Koutarou em sua casa, pensando que fosse como todos os outros dias e repentinamente o platinado pediu para terminar o relacionamento.
Ele ficou tão em choque com o pedido que quando entendeu a situação, Bokuto já tinha partido e seu coração também.
Akaashi abriu os olhos, encarou o olhos dourados a sua frente e falou com um nó na garganta:
– Por que?
– Porque achei que era o certo a fazer – Bokuto respondeu. – Porque eu não podia deixar você viver atrás de mim para sempre, Keiji. Eu queria que você realizasse seus sonhos e sabia que não poderia fazer isso estando comigo.
Bokuto se levantou, se ajoelhou na frente de Akaashi e segurou as mãos do moreno com uma lágrima escorrendo pela bochecha.
– E eu estou tão feliz em ver onde chegou, Keiji. Você é incrível.
Sem dúvidas, ter se mudado para Tóquio foi uma oportunidade maravilhosa para sua carreira, mas mesmo conquistando uma vida confortável, ele ainda se sentia vazio.
– Sabe porque eu me mudei para Tóquio? – Akaashi fitou os olhos dourados com mais lágrimas saindo de seus olhos e apertou as mãos do platinado. – Porque eu não ia suportar te ver todo dia e viver sem você.
– Eu sei disso, Keiji. Não teve um dia durante esses três anos em que eu deixei de pensar em você comigo. – Koutarou ergueu a mão e deslizou o polegar sobre a bochecha de Akaashi e seguiu em direção aos lábios. – Por isso te chamei aqui, estou implorando para ter você de volta.
Keiji inclinou o rosto na palma do platinado e suspirou, sentindo Koutarou se aproximar cada vez mais. Seu coração estava quase completamente cheio e anestesiado. Ele subiu a mão para alcançar o pescoço de Bokuto e descansou-a ali.
– Preciso de você, Keiji... – Koutarou sussurrou antes de colar os lábios nos seus.
Suas bocas deslizavam uma contra a outra, trazendo uma sensação de déjà vú para ambos. Akaashi sentiu a língua de Bokuto deslizar lentamente sobre seu lábio inferior e ele agarrou os fios platinados quando a língua entrou em contato com a sua e as mãos firmes de Koutarou apertaram sua cintura.
Ele estava com tanta saudades daquela boca na sua que poderia ficar ali eternamente para recuperar o tempo perdido.
Koutarou o empurrou levemente para cair de costas sobre a cama sem desfazer o beijo e Keiji teve um gemido abafado ao sentir os quadris entrarem em contato. Bokuto encerrou o ósculo para Akaashi respirar e seguiu uma trilha de beijos no maxilar em direção ao pescoço deixando algumas mordidinhas no caminho.
Ele ergueu o rosto vendo os olhos azulados semicerrados cheios de desejo o encarando e ambos estavam ofegantes com a visão que tinham.
– Meu coração só pertence a você e vai ser assim até a eternidade – o moreno sussurrou como se confessasse um segredo.
Bokuto sorriu largamente e depositou um leve selar nos lábios vermelhos de Akaashi
– Eu te amo, Keiji.
Akaashi colocou as mãos ao redor do rosto do platinado e disse o que queria há muito tempo:
– Eu te amo, Koutarou.

Preciso de você - BokuakaOnde histórias criam vida. Descubra agora