- Você é o outro Kai? Isso não é possível.
- Por que acha isso?
- Bom... Se você fosse um homem adulto eu até acreditaria, mas você é uma garota e adolescente...
- Eu não sou uma pessoa normal, sabia?
- Realmente, você tem sérios problemas com cigarro e muita, muita droga.
- EU NÃO SOU DROGADA!
- Tá legal, desculpa...
- Eu não posso contar isso... Não aqui...
- Quer ir para minha casa, então?
Ela franze a testa.
- Como posso confiar em você?
- Bom... Diferente de você, eu estou sóbrio.
- Cara... Qual o seu problema?
- Qual o seu? Caramba.
- Está bem, eu conto quando chegarmos em sua casa.
Vamos até meu apartamento. Em todo o caminho, eu fiquei me perguntando como ela poderia ser o segundo Kai...
Eu pego o molho de chaves no bolso e destranco meu apartamento. Nós entramos. Ela se senta no sofá, e eu me sento numa das poltronas, frente à uma mesinha.
- Tá, desembucha. - eu digo à adolescente. - Qual o seu nome?
- Aiko.
- É chinesa?
- Japonesa.
- Como você é o Kai?
- Eu sou metamorfa.
Um silêncio surge na sala, até que eu solto uma risada.
- Por que está rindo? - pergunta Aiko, com um olhar que transmitia raiva.
- Metamorfa? Como? - eu volto a rir.
- Se você tivesse a porcaria da chave, você entenderia.
Eu cesso minha risada.
- Está falando do que?
Ela aponta para o livro.
- Você tem muita sorte de ter achado a resposta-para-todas-as-perguntas. - diz Aiko.
- Você sabe o que tem dentro desse livro?
- Meu chefinho me disse sobre ele. Disse que é muito importante para nós que temos poderes.
- Poderes?
- Se você abrir esse livro, você vai entender...
- A questão é: eu não consigo abrir o livro.
- Nem com um clips?
- É... Não? Se eu disse que não consigo abrir, significa que nada vai ajudar.
Ela tira um daqueles grampos de cabelo e mexe no cadeado do livro. E, nossa! Ela abriu!... Grande merda.
- Quem anda com grampo de cabelo em pleno século 21?
- De nada, mal agradecido...
Eu abro o livro e o folheio. Diferente do título, a linguagem era coreana (vulgo nosso português).
- Tá... - eu digo, ainda folheando o livro. - O que eu aprendo com esse livro?
- "Como nós, que temos poderes, ficamos desse jeito, cada poder aparente, tudinho sobre nossa existência." É isso que o chefinho disse sobre ele.
Eu fecho o livro e a olho.
- Então é isso?
- É sim. - ela fica em silêncio, mas depois fala. - Eu poderia ficar com ele?
- Por que quer ele?
- Meu chefinho quer muito, também que ele não tem muito tempo de vida...
- Qual a importância desse livro para ele? Aliás, quem é esse tal de "chefinho"?
- Isso eu não posso falar... Mas ele quer muito o livro, só não sei a finalidade.
Eu penso por um tempo, então suspiro.
- Está bem, quando eu terminar de ler o livro eu te dou.
- Ah, muito obrigada.
- Mas com uma condição...
Ela franze o cenho.
- Que condição?
- Você também vai ter que me dar.
- Dar? O que?
Eu me levanto, indo em sua direção. Eu aproximo meu rosto no do dela, é quando ela começa a se distanciar, porém o encosto do sofá a impede de ir mais para trás. Era possível sentir o desespero e preocupação dela em seu olhar. Eu sorrio.
- Você sabe... - eu estendo a mão. - A caixa de cigarro.
- Sério?
- Sério!
Ela põe a cartela de cigarro em minha mão. Eu me distancio dela.
- Bom... Está feito. - diz ela, se levantando. - Eu te vejo... Depois?
- Espero que não tão cedo.
- Então tá. Tchau senhor!
- Senhor tá no céu, é Chung-lee para você.
- Está bem... Tchau Chung-lee.
Ela sai do apartamento. Antes de eu fechar a porta, posso avistar Park Jin-ha do outro lado do corredor. Ela estava prestes a entrar no apartamento dela, mas antes ela me viu, depois viu Aiko saindo. "Certeza que ela vai pensar coisas...". Eu fecho a porta.
Me sento no sofá, analisando melhor o livro. Eu abro em uma das páginas. Era uma história bem antiga.
"Em 1893, uma grande estrela, muito brilhante, surgiu pelos céus. Ela era mais brilhante do que o próprio Sol, mas, ao mesmo tempo, quase não se podia ver. Foi na madrugada de 02 de julho que uma criança completamente diferente nasceu. Ela se esticava sem dificuldade alguma. Uns meses se passaram e, na manhã de 24 de novembro, outra criança nasceu. Suas unhas eram muito compridas, como garras. Há boatos de que, nas noites de lua cheia, essa pessoa se tornava um grande lobo, sedenta por sangue. Desde então, muitos outros casos de pessoas "anormais" vêm sido descobertos. Alguns desde o nascimento, já outros, uns anos depois. As habilidades vão de acordo com o que a pessoa quer, já outros, o que o destino separa para elas. De uma coisa é certa, essas pessoas podem usar seus milagres para o bem e para o mal..."
Depois de ler, eu coço a nuca. "Será que Jung tinha esses poderes? E eu? Será que também tenho?". Eu comecei a virar algumas páginas, mas não achei mais nada que me desse tamanho interesse. No livro também diz que podem ter alguns sintomas antes da habilidade aparecer, mas só acontece se caso a pessoa não tenha nascido já aparentando ter poderes. Eu suspiro.
- Claro que eu não teria sorte para essas coisas... - eu me preparo para fechar o livro, até que me deparo com a seguinte frase: "Em situações de extremo perigo, raiva ou desespero, o sangramento nasal, as náuseas ou, então, as dores musculares podem ser indícios de uma habilidade."
Na mesma hora eu penso. "Bom... Meu nariz sangrou em duas ocasiões, a discussão entre eu e a Shin e quando eu comecei a ser enforcado pelo aquele homem, depois de eu ter matado ele... Será mesmo que pode ser isso? Eu sou tão merecedor?".
Meus pensamentos quase me impediram de ouvir a campainha. Ela tocava sem parar, até que eu me levanto para abrir a porta...
Continua...
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𝐏𝐄𝐑𝐈𝐆𝐎 𝐄𝐌 𝐒𝐄𝐔𝐋: 𝒖𝒎 𝒄𝒂𝒔𝒐 𝒅𝒆 𝑺𝒆𝒓𝒊𝒂𝒍 𝑲𝒊𝒍𝒍𝒆𝒓 1
Mystery / ThrillerIm Chung-lee é o mais novo detetive da polícia de Seul. As coisas parecem seguir bem, até que um caso cai nas mãos de seu departamento. Quem será o culpado? Quem é o inocente? Com mistérios deixados para trás, eles vão sendo desvendados de acordo co...