Convivência - Romero x Garro

Prólogo

- Pô', Romero... Vamos lá falar com ele, ele parece estar tão... Sozinho. - Foi o quê Alberto disse ao atacante paraguaio, referindo-se ao novo estrangeiro da equipe alvinegra.

O argentino, que estava sendo tão comentado nos últimos dias finalmente chegou ao clube de Itaquera. Muito se falava sobre as habilidades dele em campo, um reforço aguardado e necessário, com chances de ser a melhor contratação em anos.

Garro chegou ao Centro de Treinamento timidamente, apesar de ter sido recebido com tanta euforia e intensidade, ainda sim, se via um pouco impossibilitado de socializar, a barreira linguística atrapalhava muito nesse quesito.

Não é como se fosse uma missão impossível, ele entendia minimamente a língua do país, algumas palavras eram ligeiramente parecidas. Mas o falar do povo brasileiro era repleto de variações regionais e expressões difíceis, sem contar o seu jeito rápido e embolado de conversar em espanhol, dificultando o entendimento de muitos dos colegas.

Já era seu sétimo dia no clube, completou uma semana como reforço do alvinegro de Itaquera. Estava na academia, quietinho, focado em seu treino, que agora se tornou rotina. Até que, enquanto descansava, para ter ânimo na execução dos exercícios seguintes, um homem moreno carismático se aproximou, juntamente de um platinado sorridente.

- Garro, ¿Quieres un poco de agua? No es bueno pasar sin hidratarse, especialmente cuando se entrena... - o camisa onze perguntou, estendendo uma garrafinha lacrada ao novo colega. Rodrigo abriu um sorriso cortês e logo aceitou - Gracias - disse breve, girando a tampa e dando alguns goles em seguida. Soltou um suspiro alíviado e olhou para os dois homens novamente.

Estava contente em saber que ao menos havía alguém no elenco que dominava as duas línguas, aquilo facilitaria muito sua adaptação.

- E aí, ¿Bien, te está gustando daquí? - foi a vez de Yuri puxar assunto, ultilizando de um portunhol raíz, com muito sotaque. Garro comprimiu os lábios em um outro sorriso desajeitado, percebendo o esforço do brasileiro.

- Ah sí... Es un poco difícil de adaptar, pero en general me está gustando - falou acariciando a própria nuca, pensando em uma maneira de estender aquela conversa, mas sem sucesso algum, estava muito nervoso.

Romero soltou um arzinho pelo nariz, o acastanhado era mesmo uma pessoa adorável. Trocou olhares com ele por uma fração de segundos, tempo o suficiente para sentir seu corpo se eriçar e fazer sua mente viajar, perdido naqueles olhos claros e profundos.

Logo sentiu Alberto dar duas cotoveladas um pouco exageradas em seu braço direito, na tentativa de lhe trazer para a realidade.

- Ei, porra Yuri... - Ángel praguejou e logo voltou a atenção para Rodrigo, que o encarava curioso. Decidiu dar um "passo à frente" naquele breve diálogo, percebendo a necessidade do acastanhado criar laços e intimidade com alguém no clube - Ah... ¿Quieres salir más tarde con nosotros? - perguntou, sem sequer saber se Yuri Alberto iria. O camisa nove olhou para Romero com as sobrancelhas arqueadas.

Ángel não sabia dizer se era seu cérebro lhe pregando peças, com sua imaginação um tanto quanto fértil, mas podia jurar que viu Rodrigo corar com sua vaga tentativa de ser receptivo. Era uma tentativa válida, apresentar a cidade ao novato não soava como algo ruim.

O argentino refletiu por alguns poucos instantes. Ele ainda não havía desfeito as malas, afinal, ainda estava procurando por um lugar para morar. Além de que resolvia problemas à respeito de sua estadia no Brasil, que seria provavelmente longa. No entanto, precisava de um descanso de toda aquela correria, uma saída rápida e tranquila. Romero e Yuri pareciam ser as companhias certas.

- Uhum, me gustarias mucho - respondeu rapidamente, mal podia segurar as palavras de sua boca ansiosa, tinha um pouco de medo de perder aquela oportunidade de espairecer.