Concentração

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Garro não conseguia dormir.

  O argentino do clube de Itaquera estava ansioso, para enfim conseguir ver a Fiel de perto. Não poderia estrear no jogo do dia seguinte, somente no do fim de semana, visto que teve alguns problemas para ser inscrito no Boletim Informativo Diário da CBF (BID).

  Mas o principal motivo da sua falta de sono era outro (um dos vários, mas não esse em específico).

  O técnico do alvinegro paulista decidiu dar uma experiência diferente aos seus jogadores. Propôs que passassem uma semana no CT, dormindo no hotel de lá se concentrando, treinando e mantendo uma boa saúde, tanto física quanto mental para os dois jogos daquela semana.

  Rodrigo não conseguiu ficar no mesmo quarto de Raniele, o colega que mais havía proximidade até aquele momento. O volante já didivia o quarto com Hugo, o lateral-esquerdo do Timão. Os dois eram amigos de longa data, e por incrível que pareça, moravam no mesmo prédio, então sempre faziam tudo juntos.

  Garro não gostava de ficar em um quarto sozinho e Fagner se ofereceu para dividir o quarto com ele, logo aceitou, não querendo soar mal educado com o veterano. O citado acima era o problema em questão.

  Fagner era gente boa, como muitos diriam, mas o homem baixinho roncava demais quando dormia, tirando algumas noites de sono de Rodrigo.

  Se encontrava no quarto mais uma vez, com os olhos pesados, mas sem conseguir dormir, escutando os roncos nada discretos do lateral, pela terceira noite seguida.

   Rodrigo estava quase ficando maluco com essa situação, seus olhos ardiam e lacrimejavam, pelo desconforto e cansaço. Precisava mudar de quarto, se não acabaria esganando o pobre homem, que não tem culpa alguma por ser tão barulhento.

  E foi nesse momento que teve uma idéia. Uma lâmpada se acendeu na mente engenhosa de Garro.

E se fugisse para o quarto de Ángel? Bem, até onde sabia, o paraguaio ficava sozinho. Não havía erro naquilo.

  Como uma garantia de que seu plano daria certo, levou a mão até o criado-mudo, que ficava entre sua cama e a cama de Fagner, procurando pelo telefone.

  Abriu o WhatApp e procurou pelo contato de Romero. Se pôs a digitar com pressa, enquanto escutava o lateral-direito murmurar palavras inaudíveis do outro lado do quarto, falando enquanto dormia.

— Cielos, necesito salir de aquí — sussurou baixinho.

"Romero"

"¿Compartes habitación con alguien?"

  Enviou duas mensagens seguidas, aguardando ansiosamente a resposta de Ángel. O atacante não demorou muito pra vizualizar e responder, de certo que ainda estava usando o celular naquele momento.

"No"

  Aquela resposta soou como uma pequena vitória para Rodrigo, que imediatamente desligou o celular e tentou ser o mais silencioso possível. Se esgueirou por baixo de seus lençóis e desceu da cama, pisando no chão com cuidado

"Garro?"

  Uma notificação chegou em seu celular, Fagner parou de roncar por alguns instantes, como se tivesse acabado de despertar, fazendo o argentino achar que havía sido pego no flagra, tentando fugir dele. Ficou imóvel e sentiu o coração errar algumas batidas.

  Para sua sorte e felicidade, o veterano voltou a roncar. Suspirou dando aquela escapada como vencida. O mais velho tinha o sono pesado como uma pedra.

  Guardou o aparelho no bolso, para em seguida pegar seu cobertor e enrolar no corpo, colocou o travesseiro debaixo do braço esquerdo e foi em direção à porta.

Convivência - Romero x GarroOnde histórias criam vida. Descubra agora