Night of Fears

Livia Gardner e Claire Spencer

Ele não irá aparecer.

Ele não vai estar lá, vai ser apenas um jantar com os amigos de meus pais.

Ele não vai estar lá.

Exceto, se ele resolver me procurar e querer correr atrás, mas isso não vai acontecer, pelo menos, eu espero que não.

— Claire, minha filha, vá para o banho, nós vamos nos atrasar! — Mamãe grita da cozinha no andar de baixo.

— Eu ja estou indo!

Mamãe e seus amigos e conhecidos resolveram marcar um jantar hoje a noite, seria mais uma despedida, vamos dizer assim. Eles não vão se mudar, mas eu vou. Tomei essa decisão a algumas semanas atrás, e o motivo de tudo isso? Bom...
tudo aqui em casa é jogado em minhas costas, é sempre tudo culpa minha, sem contar das discussões entre meus pais. Eu amo os dois, mas conviver com eles anda sendo impossível, e isso não é de hoje. Na semana passada, fiquei até as quatro da manhã estudando, pois estava tentando me concentrar enquanto os dois discutiam no andar de baixo, e eu estava em meu quarto tentando ler um simples texto, o que foi quase impossível.
Eram barulhos terríveis. Pratos quebrando, gritos, batidas de porta... não há como conviver no meio disso, e eles ainda insistem dizer que se amam. Eu nunca posso me intrometer nas discussões, porque sempre levo xingamentos e puxões de orelha. Essa discussão veio acabar por volta das duas da manhã, e eu ainda tinha muita matéria para revisar, o que me resultou um sono de no máximo duas horas. Eles ainda sim me cobram notas boas e um bom comportamento, mas é horrível estudar dentro da minha própria casa. Eu preciso de paz.

Entrei para dentro do banheiro e fui para debaixo do chuveiro. Enquanto a água caía sobre meu corpo, eu não parava de pensar se ele estaria naquele restaurante ou não. Sai do cômodo indo até meu quarto de forma rápida. Chegando lá, avistei um belo vestido sob minha cama que minha mãe tinha deixado enquanto eu tomava meu banho. Ele era preto, longo e de alças finas. O decote com os ombros de fora, e nele havia uma fenda alta na perna esquerda.
Após vesti-lo, percebi que o tecido era macio e elegante, e se ajustava perfeitamente ao meu corpo.
Fui até o espelho pentear meu cabelo castanho e liso, adicionei alguns acessórios ao meu look e peguei meu salto preto descendo até a cozinha. Papai e mamãe ja estavam prontos apenas me esperando.

Eu sempre fico por último.

Entramos no carro indo até o restaurante, que por sinal, não era tão longe de casa. Eu queria ter ido com meu carro que papai me deu de aniversário, um GT500, mas ele teve medo de eu acabar batendo o carro, mesmo eu ja tendo dirigido umas cinco vezes, e o pior é que ele nem sabe que isso aconteceu.
Finalmente chegamos e reservamos as mesas.
Todos os amigos deles estavam la, e minha pessoa favorita também, Livia Gardner. Livia é minha melhor amiga de infância, nós crescemos juntas como irmãs, não tem nada que eu faça que não a-chame para me acompanhar, então, era óbvio que eu não iria me mudar sozinha para Los Angeles, Liv iria comigo.
Nossas malas estão feitas a semanas, e nossos pais fizeram o favor de nos ajudarem a achar uma moradia. Infelizmente, nossas casas não seriam juntas, mas seriam perto uma da outra para conseguirmos visitar com facilidade, até porque vivemos grudadas. Eu até pensei pela hipótese de nós duas morarmos juntas, mas creio eu que não iria rolar... Liv vive acordando tarde e existem diversas outras coisas. Duraríamos dois dias juntas e sem brigas, e no terceiro iriamos acabar saindo no tapa. Assim que cheguei, a mesma se levantou e me cumprimentou com um abraço. Ela estava magnífica! Seu cabelo castanho escovado e brilhante, seu vestido de um marrom chocolate lindo, bem ajustado no corpo e sem mangas, mostrando perfeitamente seus ombros. Ele tem um corte elegante na lateral da perna que mostra um pouco de pele e deixa as pernas mais longas. O tecido é macio e confortável, e o vestido cai bem no corpo, deixando a mesma confiante e elegante.
Seu colar de pérolas refletia com as luzes do ambiente e em suas mãos seus anéis prata brilhavam. Eu olhei para os lados e avistei os pais de Liv, Sra. Gardner e Sr. James. Cumprimentei-os e conversei com o resto dos convidados depois de me sentar ao lado da garota.
Enquanto jogávamos conversa fora e riamos, eu não tirava meus olhos do ambiente em que estávamos. Que lugar impecável, é um verdadeiro refúgio de sofisticação. Ao entrar, os convidados são recebidos por uma iluminação suave, as paredes são adornadas com obras de arte contemporânea, e o piso é de madeira escura polida, refletindo a luz das velas que iluminam cada mesa. As mesas são dispostas com toalhas brancas impecáveis e talheres de prata brilhante. Cadeiras estofadas em veludo proporcionando conforto e elegância. O cardápio oferecia pratos requintados, preparados com ingredientes frescos e de alta qualidade, enquanto a carta de vinhos é extensa, com opções de diversas regiões do mundo. Os pais de Liv estavam com duas taças de vinho e um prato especial da casa, e meus pais com o cardápio na mão prontos para chamar um garçom, e eu tive a brilhante ideia de deixar a responsabilidade de escolher meu prato para meus pais.
Estava indo tudo bem, ambos ali se davam super bem e tudo andava maravilhoso, até que a última família de convidados chegou, os Lewis, e ele apareceu junto deles.

Ele estava lá.

Henry Lewis, é um garoto que dividiu sua infância junto de mim e de Livia, nós nos dávamos super bem, mas ele resolveu acabar com esse laço.
No ano passado, em uma festividade entre essas mesmas famílias, Henry puxou assuntos estranhos comigo, dizendo que estava interessado em mim a um longo tempo, dizia isso passando a mão pelo meu cabelo e o-enrolando, me olhando com um sorriso de canto enquanto me comia com os olhos. Eu obviamente não dei trégua, mas de qualquer forma ele insistiu em querer que tivéssemos algo naquele momento, partiu para tentar me beijar e eu cortei aquela cena com um empurrão em seu peito. Liv viu tudo, e percebendo meu desconforto com o acontecido, quis questiona-lo do porque de tudo aquilo, mas ele fez o mesmo com a garota.
Começou a dizer frases nojentas e sem noção enquanto passava suas mãos asquerosas no corpo de Liv. Ela simplesmente perdeu a paciência, deu-lhe um tapa em sua bochecha deixando-a vermelha e se retirou do local. Depois de meses isso chegou no ouvido de nossos pais, quando nós ja nem falávamos mais sobre isso. Todos ali achavam que aquilo ja estava resolvido, mas para mim estava longe de se resolver, e Livia pensava o mesmo. Nós ainda guardávamos um certo rancor de Henry, um certo nojo, porque garoto louro de olhos esverdeados como esmeralda ainda nos olhava de maneira nojenta e estranha, e nessa noite, isso aconteceu novamente.
Enquanto eu tomava meu drink de morango, eu percebi que aquele idiota me olhava com o mesmo olhar de sempre. Irritada vendo aquilo, me retirei da mesa indo até o banheiro com Liv.

— Cara, você viu aquilo? — Eu pergunto para Livia franzindo as sobrancelhas.

— Esse garoto vai encher nosso saco de novo? Sinceramente, até quando isso vai acontecer? — Ela cruza os braços.

— Me pergunto o mesmo. Temos sorte que vamos nos mudar hoje pela madrugada.

— Realmente. Mal posso esperar por isso. — Liv sorri.