𝗮𝘁𝗲 𝗾𝘂𝗲 𝗮𝘀 𝗰𝗼𝗿𝗲𝘀 𝗮𝗰𝗮𝗯𝗲𝗺 • 𝗵𝗲𝗲𝗷𝗮𝗸𝗲

[#004273] - Passion.

Em suma, arte é um meio pelo qual as pessoas expressam sua visão do mundo, seja ela inspirada por sentimentos, pensamentos, crenças, ou experiências. Heeseung já havia perdido a conta de quantos quadros pintou em sua vida e quantas emoções saíram de dentro do seu âmago para então serem retratadas em telas.

Lee jamais poderia se ver sem a arte. Ele não faz ideia de como a cabeça de alguém pode funcionar sem que associe pensamentos e emoções a algo abstrato.

Desde sua infância há um painel em branco presente na sua imaginação. Em situações de emoções conflitantes, Heeseung ilusoriamente se convence que está pintando-o com cores e conceitos que representam tudo aquilo. Por ter passado a vida inteira exercitando seu cérebro dessa forma, acontece automaticamente, sem que perceba.

Neste momento, Lee imaginou uma pintura que captura um mar agitado sob uma tempestade violenta. As ondas são altas e turbulentas, quebrando com força e espalhando espuma branca pelo ar. O mar, de um azul profundo e escuro, reflete a fúria do céu encoberto por nuvens densas e ameaçadoras, quase negras, com toques de cinza que se mesclam ao horizonte.

A chuva cai em torrentes, inclinada pelo vento forte, criando pequenas explosões de gotas na superfície do oceano e linhas finas e brilhantes ao longo do quadro. No fundo, talvez uma linha tênue de costa seja visível, mas desfocada e distante, enquanto o foco da pintura está na natureza implacável do mar e da tempestade. O céu e o mar parecem se fundir em um caos de movimento e som, onde o poder da natureza é o protagonista.

Sem saber dizer se a sensação de sufoco e insuficiência respiratória é real ou fruto de sua imaginação, Heeseung cambaleia poucos passos no corredor do prédio antes de precisar de ajuda para se manter de pé. Sua visão turva não permite que enxergue quem o segurou, e ele não se importa em prestar atenção nisso.

Não devemos acreditar nas coisas só porque melhoram nossa vida. Devemos acreditar nelas porque são verdadeiras.

É um dos lemas que Lee busca aplicar seriamente em sua vida. Fugir da verdade é ruim, mas não saber qual é sua verdade, é pior ainda. A sensação é que não têm mais um norte para seguir, que não se conhece.

Por mais que essa ideia crie um bolo em sua garganta, Heeseung respira fundo e engole o seco, como se estivesse colocando algo amargo para dentro. Depois das horas que passou com Jaeyun, pôde entender que a melhor forma de lidar com seus sentimentos conflitantes é encarando-os, e não fingindo que não existem.

Em sua infância, o ensinaram a ser cauteloso quando não conhece todas as informações. Já na criação de Jake, é evidente que ensinaram-no que riscos podem ter grandes recompensas. Agiria como um Shim, pelo menos naquela tarde.

O ruivo passa a mão pelo seu rosto, claramente frustrado e cansado, sentia-se ridículo. Não havia possibilidade alguma de contatar sua família para lhe apoiar naquele momento miserável. Depois de muitos anos, Heeseung entendeu as prioridades de seus pais: em primeiro lugar, vem suas vidas; em segundo, o conforto de um mundo idealizado em suas próprias mentes; em algum lugar depois dessas coisas, estão as pessoas que deveriam amar. Ambos não são flor que se cheire, mas seu pai - principalmente - é o tipo de pessoa desprezível que não tem a menor ideia do quanto é desprezível, e insultá-lo não muda isso. Nada muda.

Heeseung balança a cabeça, na tentativa de espantar esses pensamentos. Não precisava de pessoas como eles em sua vida, estava bem melhor longe. Felizmente, tem dois amigos que cuidam de si como se fossem eles quem o tivesse posto no mundo. E, coincidentemente, gostam muito de homens.

Depois de adentrar seu apartamento, o ruivo bate a porta, dando passadas rápidas até seu quarto, onde imediatamente liga o computador.
Lee põe os fones de ouvido e encara seu monitor, soltando um suspiro de alívio quando Sunwoo finalmente atende a ligação.