Do vermelho ao azul

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Red acordou de madrugada com sede, o que já era rotina para a garota de cabelos vermelhos. Raramente ela conseguia dormir a noite toda.

Ainda um pouco sonolenta, Red se sentou para alcançar sua garrafa na mesa de cabeceira. Foi quando percebeu que Chloe não estava na cama ao lado. Uma expressão de dúvida se instalou em seu rosto, mas pensou que a menina poderia estar no banheiro, então começou a tomar sua água sem dar muita importância.

Até que seus ouvidos captaram um choro baixinho vindo do outro lado do quarto.

Achando aquilo estranho, Red ficou preocupada e se levantou, caminhando em passos lentos e silenciosos, enquanto seus olhos passavam rapidamente pelo quarto à procura da garota. Ao se aproximar da cama, a ruiva se deparou com Chloe sentada no chão, agarrada aos joelhos com o rosto escondido entre os braços, chorando baixinho.

Sentindo um aperto incomum no peito, pensou:
"Por que será que a menina, cuja felicidade e animação chegam a me irritar, parece tão triste?"

- Chloe? - chamou, mas pareceu não ter sido ouvida. Então, Red se aproximou mais e se abaixou, tocando o braço da azulada.
- Chloe? - a chamou com a voz um pouco mais alta. A menina se assustou e, em um rápido movimento, pegou sua espada, apontando-a para Red. A ruiva rapidamente se esquivou para trás.

- Uou, calminha aí, sou eu - disse, abaixando a espada com seu dedo.
- Red? Me desculpa, não vi que era você - disse Chloe, escondendo a espada debaixo da cama, com uma voz baixa e chorosa, mas ainda assustada. Sentindo-se envergonhada pela atitude, suas bochechas coraram e seu olhar se desviou para o chão.

Red fitou a menina, reparando em sua expressão assustada e envergonhada, seus olhos vermelhos e o rosto inchado, se perguntando o que havia a deixado daquele jeito.
- Ei, tá tudo bem. - disse, indicando que não precisava ficar com vergonha.
- Posso sentar aqui? - Chloe fez que sim com a cabeça. Então, com cuidado, Red sentou-se ao seu lado. Ainda sentindo um aperto estranho no peito, perguntou: - O que aconteceu? - Chloe hesitou um pouco, mas, ao olhar para a ruiva, percebeu que ela realmente estava preocupada. Então, respirou fundo, tentando conter as lágrimas, e decidiu ser sincera.

- Tive um pesadelo... - deu uma pausa, criando coragem para contar - nós não conseguimos impedir sua mãe. Ela prendeu meus pais, eu tentei defendê-los, mas ela me prendeu também. Você tentou pará-la, mas ela mandou os guardas te segurarem e, então... mandou matá-los. -

Enquanto falava, as lágrimas escorriam pelo seu rosto.
- Eu lutei com os guardas e consegui fugir. Fui em direção à floresta, estava frio, eu estava correndo rápido, mas havia muitos deles atrás de mim... foi tudo tão real que... - deu uma pausa, tentando controlar o choro. A garota de cabelos vermelhos, que até então ouvia com atenção, completou: - que você acordou acreditando que ainda estava no sonho, por isso pegou sua espada e se escondeu aqui.
- Sim, exatamente - Chloe, sem conseguir conter o choro, se encolheu em suas pernas novamente. O sentimento de medo, angústia e desesperança tomava conta da garota.

Red sentia uma parcela de culpa, pois se não fosse por sua mãe, aquilo não estaria acontecendo. Isso fez com que o aperto estranho em seu peito aumentasse. Ela realmente não estava gostando de ver a menina de cachos azuis tão triste e amedrontada. Então, sem saber muito o que fazer, Red envolveu Chloe em seus braços e disse: - Nós vamos achar aquele livro, impedir a pegadinha e salvar todo mundo. Eu prometo que não deixarei nada acontecer com você nem com seus pais... vai ficar tudo bem, tá bom? -

Naquele momento, Red sentiu a necessidade de proteger Chloe e sua família das garras de sua mãe, mas não tinha certeza se poderia cumprir sua promessa.

Chloe levantou a cabeça, enxugando as lágrimas. Olhou para a ruiva com um olhar doce e um sorrisinho de canto e respondeu: - Obrigada, Red. - Por um momento, seus olhares se encontraram e elas tiveram a sensação de que estavam seguras ali.

- Bom, acho melhor irmos dormir. Amanhã temos muito trabalho a fazer - disse Red, quebrando o silêncio.
- Eu não vou conseguir dormir - diz Chloe entre bocejos.
- Vai sim, você está morrendo de sono, só precisa de um empurrãozinho.

A menina de cabelos azuis a olhou com uma expressão desconfiada.
- Vamos - exclamou a ruiva. Assim, elas se levantaram, andando em direção à cama. Chloe se deitou.
- Posso? - perguntou Red, olhando para o espaço vago na cama de casal.
- Claro. - Red se deitou ao lado de Chloe e ficou a encarando.
- Então... o que vai fazer? - perguntou Chloe, ainda desconfiada.
- Para sua sorte, você está falando com a rainha da insônia. Tenho várias técnicas para conseguir dormir.
- Bom, então tá, né. Vou confiar em você - disse a azulada, se rendendo.
- Preciso saber duas coisas: primeiro, me fale um lugar onde você se sente segura.

Chloe começou a pensar em uma resposta, e por algum motivo, até então desconhecido, ela se sentia segura ao lado da ruiva. Aquele sentimento não fazia sentido para a garota, pois até aquela noite elas não tinham muita afinidade nem motivos para se gostarem. Mas o momento que tiveram alguns minutos atrás, o jeito como Red lidou tão bem com a situação, sem sarcasmos e ironias (o que já era de se esperar da garota), a tinha deixado encantada e acendido um sentimento diferente na princesa.

Pensou em dizer o que de fato sentia, mas imaginou não ser o momento. Sendo assim, Chloe respondeu:
- Acho que minha casa, me sinto muito segura lá.
- Mas também com aquele tanto de guarda, impossível não se sentir segura - disse a ruiva em um tom brincalhão.
- Ah, para, nem são tantos assim - a azulada respondeu rindo.
- Próxima pergunta: qual o seu lugar favorito na sua casa? Castelo, no caso. - continuou Red.
- O jardim, com certeza - disse Chloe, se lembrando do lugar e de como se sentia quando ia para lá.
- Interessante. Agora fecha os olhos.

Assim a garota fez, fechou os olhos com calma, ainda escutando a ruiva falar com uma voz suave e relaxante.

- Agora, você não está mais aqui. Transporte sua mente para o jardim. Você está andando entre os arbustos, com um vestido azul-claro cheio de margaridas espalhadas por ele. Há borboletas lindas sobrevoando ao seu redor, você respira fundo e consegue sentir o cheiro das flores - fez uma pausa, percebendo que a respiração de Chloe estava mais calma e sua expressão mais tranquila - Você vai andando sozinha até chegar a um lago encantado, onde há uma toalha enorme sobre a grama. Todos os seus amigos estão lá, juntos de suas comidas favoritas.

Enquanto falava, Red levantou sua mão com delicadeza e começou a deslizar suavemente o dedo entre as sobrancelhas da azulada, descendo até o nariz. O carinho a ajudava se sentir mais relaxada, fazendo com que todas as suas preocupações fossem embora. A garota parecia se derreter com o toque.

- Então vocês passam uma tarde tranquila, rindo, conversando, e você se sente bem e feliz - continuou Red, enquanto sentia uma conexão sendo criada. Seus dedos continuavam a deslizar sobre o rosto de Chloe, a ruiva só conseguia pensar no quão bela e especial a garota era. Aquilo motivava Red a fazer de tudo para cumprir sua promessa de proteger a azulada - Você está segura aqui... não deixarei nada nem ninguém te machucar.

A respiração de Chloe foi ficando cada vez mais pesada, e seu corpo, que antes estava tenso, foi relaxando à medida que Red continuava com o carinho reconfortante.

- Red... você vai ficar até eu dormir? - murmurou Chloe com os olhos ainda fechados e uma voz suave, bem diferente da voz chorosa de alguns minutos atrás.

- Vou sim - sussurrou Red, acariciando os cachos macios da garota - Agora só relaxe, amanhã tudo estará bem.

Sendo assim, Chloe se entregou ao sono, finalmente dormindo. Red sentiu-se tomada por um afeto que ela sequer sabia ser capaz de sentir. Naquela noite, as garotas criaram um vínculo especial, um vínculo que a ruiva queria ter para sempre.

Certificando-se de que Chloe já estava em sono profundo, Red sorriu, admirando a beleza da garota, se inclinou, dando um beijo suave na testa da azulada.

- Eu prometo, Chloe... Vou te proteger, custe o que custar.

Red, agora com o coração tranquilo por Chloe ter conseguido dormir, aconchegou-se na cama, permitindo que o sono viesse. Sabia que o dia seguinte não seria fácil, mas tendo Chloe ao seu lado, sentia-se capaz de enfrentar o mundo por ela.

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