Wildflower

I'm burning alive

Com tantos livros de romance, aprendi que qualquer boa história começa com um coração partido. O seu romance épico começou assim. O meu romance único começou assim. Eu nunca acreditei que essa fórmula tão drástica funcionasse, mesmo sabendo que o amor é capaz de curar dores profundas. E eu sei como ele te curou. Eu sabia que vocês eram perfeitas uma para a outra. Mas, como em toda boa história de amor, houve o momento em que tudo deu errado.

As coisas desandaram, mas eu sabia que vocês conseguiriam superar.

Eu estava errada. Sobre tudo.

As coisas mudam. O tempo não curou absolutamente nada. O tempo e espaço partiram o seu coração. Eu não estava lá naquela época, mas sei disso hoje. Ela me contava tudo sob o ponto de vista magoado e ressentido, mas quem poderia julgá-la?

Ela era sua namorada, todos sabiam. Todos adoravam a dinâmica fofa e engraçada que vocês tinham juntas. Eu não conseguia deixar de reparar como vocês sorriam, mesmo depois de ver como ela chorava. Você mostrou a ela um mundo diferente. Apresentou bandas de rock, filmes de terror e comidas estrangeiras. Ela te deixou ficar, te deixou ler seus livros favoritos, tomar os drinks que ela fazia quando estava triste e você aprendeu a gostar dos filmes de romance que ela amava.

Vocês são um mosaico do que ambas mais amavam no mundo, mas o amor entre vocês acabou.

Com o gosto amargo do desgaste emocional, ambas tiveram que seguir em frente e eu estava lá. Ela passou noites chorando no meu ombro e tudo o que eu podia fazer era abraçá-la e desejar que o tempo curasse algo ali. O meu amor talvez não fosse forte o suficiente para isso ainda, mas só nos aproximou ainda mais.

Até julho daquele ano.

De fato, toda história de amor começa com um coração partido. Você partiu o dela, e eu tentei curá-la estando lá. Agora que eu sei que você me ama, entendi o que aconteceu, mas não precisa me lembrar disso toda hora. Toda vez que te ouço dizendo essas palavras, me lembro daquela noite.

Você estava péssima, mas eu não pude estar lá para as duas da mesma forma. Apoiei a Chae, a ouvi, pude acolher em meus braços todas as suas mágoas e quase vivemos umas daquelas histórias. Eu a beijei, senti o gosto das suas lágrimas e o tremor das suas mãos enquanto segurava as minhas. Ela sorriu e eu soube que tudo ficaria bem.

Frequentemente me pego pensando que poderíamos ter tido tudo. Eu poderia ter escolhido ficar. Você poderia ter seguido em frente e ela não teria passado por tudo aquilo.

Eu sei que deveria deixar tudo isso pra trás. Mas eu continuo vendo o rosto dela a todo tempo. Continuo lembrando da expressão de tristeza que ela jamais devia carregar. Continuo pensando em como eu piorei tudo. Isso me segue, me atormenta. É como uma febre alta, como se estivesse me queimando viva. Essa pergunta está me corroendo por dentro.

Será que eu passei do limite?

De qualquer forma, eu sei que coisas boas não duram muito. Ela se afastou de mim primeiro, perdemos contato tão rápido que eu mal pude dizer alguma coisa sobre nós. Acho que foi melhor assim. Eu não saberia como encará-la estando ao seu lado.

Por um tempo, eu mal pude encarar a mim mesma no espelho.

Mas percebi que nada era falso. Não era uma confusão, não era mentira. Eu realmente amo você, isso não está em cheque na conversa. Por isso, tentei seguir em frente com você. Tentei deixar essa história no passado, tentei deitar minha cabeça no meu travesseiro e suspirar em paz, mas a culpa continua me perseguindo.

E eu jamais te pediria para escolher, qualquer comparação seria cruel demais. Vocês se amavam demais, eu sei disso. Eu a amei, não sei se você soube. Mas como acabamos assim, então?

Sempre fomos tão diferentes... Ela estava sempre sorridente e carregava consigo uma liberdade da qual eu jamais conseguiria sentir. Jamais conseguiria ter, não é algo palpável, é inalcançável para mim. Acho que você também não pôde lidar com ela.

E eu sei que você me amava, agora entendo, mas não precisa me lembrar disso. Quero deixar tudo isso pra trás, eu juro que quero mas, Ryujin...

Eu ainda lembro como ela ficava linda quando te beijava. Também lembro como seu cabelo vermelho se espalhava pelo meu travesseiro depois de dormirmos juntas. Lembro como ela contava comigo como se eu fosse a resposta para todos os seus problemas, e aqui estamos nós.

Sentadas na cafeteria que ela adorava, fingindo que não há nada errado. Você ri, me conta sobre o seu dia e me pergunta sobre o meu, mas tudo o que penso é em Chaeryeong.
Sinto como se estivesse sendo queimada viva, como se algo estivesse esmagando meu coração e apertando minha garganta. Mal consigo respirar. Acho que já não é mais só um sinal.

Mal consigo enxergar o limite atrás de mim agora.

Você disse que ninguém te conhece tão bem, mas me faz me sentir uma fraude. Eu não te conheço tanto quanto ela e você não me conhece tão bem a ponto de notar que estou quase chorando bem na sua frente. Você confessou em nossas conversas, tarde da noite, que terminaram por minha causa. Que mal conseguia olhar para ela enquanto pensava em mim.

Eu entendo como se sentia agora.

Toda vez que você encosta em mim, fico imaginando como ela deve ter se sentido quando viu nossas fotos. Foi bem no dia dos namorados e pode até ser prepotência minha, mas imagino que ela tenha chorado. Eu chorei. Ela se sentiu traída, eu me senti culpada.

Como você se sente?

Sei que você não queria me machucar, então guardei isso pra mim por todo esse tempo.

Mas eu me pergunto, às vezes, se você a vê, mesmo que lá no fundo da sua mente, quando olha nos meus olhos.

Porque eu a vejo quando olho nos seus.