"Slow down, you're gonna crash
Baby you're a-screaming it's a blast, blast, blast
Look out, you've got your blinders on
Everybody's looking for a way to get real gone"
ㅤ
ㅤIndianapolis, última semana de setembro ;
As luzes vindas por debaixo da porta do quarto de Michael estava irritando Karen profundamente há meses. A mulher tinha perdido as contas de quantas vezes acordou no meio da madrugada para beber água e flagrou seu filho digitando ferozmente em seu notebook, os olhos castanhos congelados na tela enquanto seu rosto se iluminava por aquela luz azulada irritantemente clara.
O tec tec tec incessante tirava até a última gota de sua paciência – que já era pouca, diga-se de passagem – praticamente a obrigando a abrir a porta ainda vestida em seu roupão bege com os bobs adornando seu cabelo loiro. Os pés cobertos por sua meia felpuda nos tons de branco e roxo descansavam dentro das pantufas infantis com orelhas de coelho, provavelmente emprestadas de sua filha mais nova, enquanto a mulher cruzava os braços e se apoiava com o ombro no batente da porta escura.
Karen observou em silêncio por uns bons segundos até que seu filho finalmente percebesse os olhares queimando seu rosto como lasers potentes. A presença da mulher ameaçadora na porta do seu quarto o fez bater a tela do aparelho com força sobre o teclado, desviando os olhos do ecrã pela primeira vez e se embolando nas próprias palavras.
— Ah... Oi mãe, precisa de alguma coisa?
O garoto tateava a sua volta, como se a mulher irritada encostada no batente da porta já não tivesse percebido a falta de seus óculos ao usar o aparelho, mais uma vez. Ele desajeitadamente coloca a estrutura de metal sobre o rosto, as marcas de dedos estampando o vidro e lhe dando um grande desconforto. Poderia dizer que estava enxergando menos agora do que sem aquele apetrecho, o rosto de sua mãe, assim como tudo a sua volta, era embaçado pelas lentes sujas, ao menos esperava que aquilo pudesse diminuir a irritação da mulher.
— Michael Wheeler, desliga esse computador. Agora.
Seu nome completo foi usado. Um péssimo sinal. Mike engoliu em seco enquanto tentava abrir a tela da forma mais lenta possível, como se a ausência de movimentos bruscos pudesse de alguma forma melhorar a situação atual. A luz da tela piorou consideravelmente sua visão, onde via sua mãe e uma enorme bagunça de roupas e livros espalhados, agora havia um conjunto de borrões brancos difusos, mas mesmo que não a visse, tinha certeza de que teria problemas seríssimos com ela na manhã seguinte... ou já era a manhã seguinte? Que horas eram afinal?
Levou os olhos para a janela ao seu lado. A veneziana fechada não o permitia ver muito, mas pela claridade sabia que já passava das cinco da manhã. Descendo um pouco o olhar, pode ver o seu relógio velho anunciar 6:47 a.m. para sua infelicidade. Estava atrasado.
Arregalou os olhos enquanto tentava coordenar os movimentos para terminar de escrever e salvar seu trabalho, retirar as cobertas de seu colo e acender o abajur na mesa de cabeceira, tudo através daquela lente de sujeira em seu rosto. Repentinamente sentiu que ter duas mãos não eram o suficiente, Mike se esforçou para digitar as poucas teclas necessárias e assim finalizar o que provavelmente seria seu último parágrafo antes de correr contra o tempo outra vez para sair para a faculdade.
— Tá, me deixa só terminar o...
— Agora, Michael! — A raiva em sua voz poderia ter acordado a vizinhança toda, mas aparentemente apenas ele era o afetado pelo tom, já que conseguiu ver sua irmã mais nova passar despreocupadamente atrás de sua mãe segurando sua mochila enquanto conversava com alguém no telefone. — As torradas estão frias na mesa e você vai levar Holly para o colégio, ela precisa chegar mais cedo hoje.
VOCÊ ESTÁ LENDO
modo avião ; byler
FanfictionIr pro interior da cidade deveria ser uma punição, mas com certeza Mike não se sentia infeliz. [ Baseado no filme Modo Avião ]