Dias de cão (dadzawa fic)

Capítulo Único

Quando Aizawa ouviu sobre "está tendo uma briga no corredor" ele pensou em várias possibilidades, quase todas elas acabavam tendo pelo menos um de seus alunos problemáticos envolvidos. Talvez Midoriya com Bakugou, ou até mesmo Todoroki, deus sabe como aquele garoto tem ficado atrevido com o tempo.

Mas imagine a surpresa dele quando ao afastar os alunos que faziam uma roda ao redor da briga encontrou seu próprio protegido, seu filho, rolando no chão com chutes e socos, contra um garoto que ele tinha quase certeza que era do segundo ano. Sua surpresa não ficou por muito tempo estampada em seu rosto, logo a multidão estava quieta enquanto sua quirk ativava.

Ninguém escapava de seu olhar mortal, nem mesmo Hitoshi. Shouta usou o cachecol para separar os dois meninos que quase não notaram sua presença.

— Quero que todos vão para suas salas. Agora! — Ele latiu para a multidão de alunos que se dissipou rapidamente — Vocês dois, venham comigo — Por fim, falou para os meninos que estavam em estado deplorável. Aizawa conseguia ver claramente quem teve a melhor nessa.

Hitoshi e o outro aluno, que foi confirmado ser do segundo ano, foram escoltados até o conselheiro, e tiveram longos minutos de mediação entre ambos e outros longos minutos de sermão de como brigas eram inaceitáveis, no fim os dois receberam punições adequadas sob risco de expulsão caso ocorresse novamente.

Shouta esteve de fora todo o momento, além de não ser professor de nenhum dos envolvidos, ele era pai de Hitoshi, e só de pensar em como seu filho estava depois de apanhar do garoto mais velho fazia seu sangue ferver. Quando eles foram liberados, o garoto do segundo ano saiu bufando e reclamando baixo, seguindo seu caminho até virar o corredor e sumir da vista de Aizawa. O homem mais velho continuou apoiado na parede, braços cruzados e expressão de poucos amigos, esperando seu filho sair da sala em seguida.

Hitoshi saiu de cabeça baixa e olhos marejados, se Shouta não o conhecesse melhor ia pensar que era atuação mas ele sabia que não era, seu filho tinha o coração mais puro e sensível que ele conhecia. O garoto parou em sua frente sem dizer nada, Shouta ouviu um fungar baixo, e ele não diria nada até Hitoshi estar pronto para falar primeiro. Naquele momento ele queria deixar seu filho apresentável novamente.

— Que tal irmos na Recovery Girl para pegarmos um gelo para essa testa? — Ele perguntou arrumando levemente o uniforme amarrotado de Hitoshi e passando a mão em seu cabelo muito bagunçado para ver o hematoma que se formava em sua testa.

Hitoshi não respondeu verbalmente, apenas acenou e saiu andando cabisbaixo. Não fazia muito tempo que Hitoshi estava treinando com ele, até agora Shouta o iniciou com aulas de defesa e resistência, além de idas à academia da escola, isso não era o bastante para vencer uma briga contra alguém com experiência em batalha. Ele tinha que ser sincero, Hitoshi não tinha a menor chance contra um aluno da turma de heroísmo do segundo ano, mas vamos dar pontos pro garoto pela forma como ele se defendeu e desviou dos golpes, poderia ter sido bem pior se ele não soubesse o que sabe.

De qualquer forma, essa briga era inaceitável. Hitoshi era ponderado, paciente, até mesmo quando não precisava ou com quem não merecia, sarcástico também, isso ele puxou de Shouta, mas nunca agressivo, ele sabia melhor que isso. Algo deve ter realmente puxado suas cordas para ter esse fim trágico.

— Quem começou a luta?

— Eu — Hitoshi disse secamente, sem parar de andar no corredor vazio.

— Não foi muito esperto de sua parte.

Dessa vez o adolescente pareceu travar seus passos antes de virar a esquina do corredor e entrar sem aviso no hall médico.

— Oh meu Deus! O que aconteceu com você, querido? — Shiyo perguntou enquanto via Hitoshi ir até uma maca e se sentar lá, de braços cruzados e com um biquinho se formando em seus lábios.

— Ele se envolveu em uma briga. Pode trazer uma bolsa de gelo por favor, Shiyo?

— São sempre os seus, não é? — A mulher baixinha disse sarcasticamente e saiu pra buscar o gelo. Shouta voltou a encarar Hitoshi.

— Sabe que eu ainda quero explicações, certo? Eu te conheço e sei que entrar em uma briga desse jeito não é seu estilo. — O garoto não tirou os olhos do chão mas Shouta percebeu que aquilo foi o que faltava para ele quebrar. Pequenas lágrimas escorriam por seus rosto enquanto ele falava em alto e bom som. Felizmente a enfermaria estava vazia.

— Ele foi ridículo! Ele ao menos me conhece e disse tanta merda sobre minha peculiaridade! Disse que eu poderia ser treinado pelo próprio all might que eu não seria um herói! Disse que você...que você não valia a pena e que se eu pedisse com jeitinho ele poderia me dar umas dicas...

Shouta sentiu nojo ao ouvir aquilo, e apesar de seu lado paternal querer ir até o valentão e acabar com ele, ele se esforçou para dar um bom concelho para seu filho — Entendo...mas você não devia ter deixado ele tirar o melhor de você. Tinha outras formas de lidar com isso.

— Eu sei!...Sei disso mas ele falou de você! Eu não aguentei...

— Olha, eu não sou o professor favorito da maioria dos alunos...

— Mas o jeito que ele falou...fez parecer que você não merecia ser um herói sendo que eu sei o quanto você lutou pra isso! Lutou pra proteger sua turma daqueles ataques! Não é justo...

Hitoshi se calou quando Recovery girl entrou novamente na sala e entregou na mão de Aizawa a bolsa de gelo. Percebendo que o momento era delicado e que eles estavam provavelmente tendo uma conversa, Shiyo se retirou da sala com a desculpa de pegar mais suplementos médicos.

— Eu agradeço por se preocupar com a minha honra mas acredite quando digo que não precisava disso, Toshi.

— Mas...

— Me escuta. — Shouta interrompeu antes de continuar, colocando o gelo na testa do garoto enquanto falava — Não é a primeira vez que alguém me rebaixa pela minha individualidade, acontecia enquanto eu era aluno aqui, acontece agora que sou professor e vai acontecer muitas outras vezes no futuro, e infelizmente também vai acontecer com você. Você não pode entrar em uma briga sempre que alguém falar algo que claramente não é verdade.

Enquanto Shouta falava Hitoshi as vezes se esquivava do gelo que estava sendo posto em sua testa mas logo o mais velho puxava seu rosto levemente de volta. Hitoshi estava com olhos ainda molhados e nariz vermelho pelo choro recente, ele encarou Shouta como se quisesse retrucar mas permaneceu calado.

— Não se preocupe, você vai ter a chance de mostrar que todos que te julgam estão errados, mas não esqueça de levar em consideração as pessoas que valem a pena e que já veem o seu valor...aquele garoto não é uma delas.

Shouta pôs a bolsa de gelo de lado e usou as duas mãos para segurar o rosto de Hitoshi e deixar um beijo na testa do menino. Hitoshi sorriu levemente e colocou sua mão em cima da de seu pai, se inclinando para o contato.

— Agora você está de castigo essa semana. — O moreno disse assim que se afastou.

— O que?! Achei que estávamos tendo uma conexão aqui!

— Bem, isso é verdade, mas não posso ignorar que meu filho se meteu em uma briga deliberadamente. — Hitoshi bufou alto e soltou um palavrão — Se continuar com essa boca suja eu vou extender seu castigo pelo resto do mês.

Felizmente Hitoshi não era de discutir quando estava errado então, apenas voltou a fazer um biquinho e por a sacola de gelo na testa por um pouco mais de tempo.

— Vou deixar você ter seu celular até o fim das aulas, assim que chegarmos em casa quero ele na minha mesa.

— Você nunca iria saber se você não fosse professor aqui...

— Com você chegando em casa com o rosto todo machucado? Só se eu fosse muito cego para não ver, e eu não acredito que você esconderia isso de mim! Me sinto traído! — Shouta fez o drama que ele fazia apenas em momentos familiares como aquele.

— Quem está sendo traído sou eu! Você me deixou de castigo sem celular!

— Ei, pelo menos eu fui justo em deixar você tê-lo até o fim das aulas!

— O papai nunca faria isso! — Hitoshi disse dando língua.

— Acredite, ele faria pior. Agora deixe de reclamar, eu e você temos aulas para voltar.