O alarme estava tocando. Eram 7:30 e eu não queria mesmo acordar. O vento passava pela janela do meu quarto no segundo andar e batia nas folhas da escrivaninha, seguradas por uma pedra. Estava muito frio.
O celular fazia um barulho como "Tananan tan tan " e tinha uma mensagem em sua tela de bloqueio dizendo "Wake Up Time", o que me deixava muito irritada. Tomei coragem e tirei o meu edredom vergonhoso, porém maravilhoso de arco-íris e sai do quarto, indo em direção ao banheiro. O corredor estava escuro. O chão de madeira fazia barulho e as cortinas balançavam por conta do vento. É claro que parecia um filme de terror, mas eu só estava pensando em tomar um banho e comer alguma coisa antes de ter que ir para o inferno - mais conhecido como escola -.
Bati na porta só pra ter certeza de que não ia me deparar com "surpresas" e entrei. Como sempre, o banheiro estava igual. Pequeno como sempre, com o mesmo espelho e o mesmo ladrilho quebrado. Não pensei muito. Tirei a roupa e fui para o chuveiro, a água estava quente e o vapor subia devagar, fazendo com que eu tivesse mais vontade de passar o resto do dia lá.
Troquei de roupa e desci. Joe estava comendo cereal e catando o brinquedo de Star Wars, como anunciava na caixa.
-Bom dia, Joe.
-Bom dia, Darlly.
A voz dele foi como um tapa no silêncio, era como se eu não tivesse ouvido uma voz há muito tempo. Olhei pela janela da cozinha e a rua estava deserta. Apenas o banco do ponto de ônibus e o carro do senhor Lenkwisk ocupavam aquela triste rua cinzenta.
Mamãe desceu antes de papai. Provavelmente ele estava tentando fazer o nó na gravata ou amarrar o cadarço do sapato - coisas que, para ele, eram extremamente difíceis -.
-Bom dia, amores.
-Bom dia, mãe - Eu e Joe dissemos juntos.
-Estou morrendo de fome.
-Na geladeira tem leite, Dar. Acho melhor pegar logo, o ônibus já deve estar chegando.
-Obrigada, Doutora Pontual - Todos rimos.
Papai descia as escadas com pressa, ansioso para a reunião que podia lhe garantir uma promoção. Com passos rápidos bebeu água, deu um beijo em nossas testas e, como todo dia, procurou a chave que estava em seu bolso. Ele foi embora antes que pudéssemos dizer adeus. Na nossa vida isso ja era rotina.
Já estava indo ao ônibus quando percebi que mamãe lembrou que hoje era meu aniversário, porque até então nem eu tinha lembrado. Todo ano era assim, ela sempre esquecia. Mas esse ano alguma coisa estava diferente. Ela estava assustada e deu pra perceber.
Subi no ônibus amarelo e velho, já procurando onde iria sentar. Rodei os olhos pelo lugar atrás de Ruby, mas, aparentemente ela resolveu não ir pra escola. Ótimo. Bem no dia do meu aniversário. O ônibus estava cheio hoje, bem mais que o normal. Consegui reconhecer o rosto de Kathy, Crista, James e Prim, a maioria da minha sala, a não ser por Kathy, que era do 9º ano. Não tinha motivação para ir à escola, mas tive um pressentimento, alguma coisa ia acontecer. Só basta saber se eu ia gostar.
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Little
Random17 anos. A vida de Darlly foi sempre uma mentira. Amigos, família, parentes, nada fazia mais sentido. A sua visão sobre tudo havia mudado. Uma garota simples, feliz, inteligente e popular, agora foi rebaixada a lágrimas. A depressão a engoliu. Ela v...