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Meu emprego era como entregador de pizzas. Eu sei, não é grande coisa, mas mantém as contas pagas e o aluguel em dia. Meus dias já foram melhores, como na adolescência, quando precisava me preocupar somente com notas e a popularidade inalcançável para o viadinho da turma. Sofrer bullying foi a pior coisa que me aconteceu, depois da morte dos meus avós. Tive que mudar de colégio, e depois, de cidade, de Daegu para Seul em menos de uma semana. A semana mais agitada de todas.

Sempre fui sensível quando o assunto era amor e sexualidade, pois tomei muita porrada da vida e do meu pai no processo de aceitação da minha própria identidade. Nunca tive amigos muito próximos e ninguém para me abrir completamente, por isso, quando conheci Taehyung, eu sabia que ele iria foder com a minha vida, mas eu quis ser fodido por ele. Cruelmente, ele pisa no meu coração com o veneno da paixão ilusória penetrando as artérias.

Eu sinto as dores de um coração partido sempre que acordo depois de uma noite do melhor sexo que já tive e não o vejo ao meu lado.

Sendo o único membro da minha família que se assumiu alguém da comunidade lgbt, tenho sérios problemas de autoestima e confiança. Meus pais não estavam prontos para a notícia o mesmo tanto que eu não estava pronto para dá-la. Mas aconteceu, e agora eu morava sozinho e não tinha mais contato direto com eles. Era a vergonha da família, porém estava livre para ser quem eu quiser.

Taehyung não foi o único a me destruir, só foi o último a chegar para finalizar o trabalho. Eu posso ainda estar de pé, mas as muletas não me aguentarão para sempre. A madeira não será eterna, como eu queria que fosse, pois me apoiar no amor platônico que tenho por Taehyung é meu único refúgio do isolamento social que praticava todos os dias, medroso e cauteloso com qualquer novidade ou mudança. Eu já cansara de mudanças.

Me levantei, sentindo a porra dele escorrer pelas minhas pernas. Ele sempre pedia e eu sempre deixava. Falando bem a real, Taehyung nunca me forçou a nada, estou nessa merda por minha culpa. Eu estou me destruindo, alimentando esse sentimento corrosivo dentro do meu peito e criando ilusões para o meu coração de jovem-adulto que nunca foi amado verdadeiramente.

Tomei banho, sentindo as pernas fracas. Ri um pouco daquilo. Taehyung nunca pegava leve. Quando me senti limpo o suficiente, saí do chuveiro para me secar e perfumar com o kit de cuidados que comprei recentemente na loja de maquiagens que abriu perto daqui. Tudo cheira a melancia. E agora, eu também estava cheirando à fruta. Doce e suave.

O meu turno começava às 16, então eu ainda tinha muitas horas para fazer algo de produtivo em casa até dar a hora do trabalho. Resolvi ligar a TV, nada parecia atraente, então deixei para lá e fui à cozinha, preparar algo para comer. Fiz meu melhor nas panquecas com mel e comi sem pressa. Muitas horas.

Taehyung deixou a marca dele no meu apartamento e no meu corpo, e isso era impossível de ignorar. Podia ver o roxo de seus lábios que sugaram a pele do meu tornozelo, depois do pé da barriga, e então do meu pescoço.

Mentiras, mentiras, mentiras.

Taehyung me marcava, mas eu não podia fazer o mesmo com ele. Para ser sincero, pulávamos muitas etapas durante nossas relações, principalmente beijos, o que me faz um semi-experiente nessa parte. Perdi minha virgindade com Taehyung e só conhecia o sexo dele, de mais ninguém, enquanto ele deve conhecer mais uma porção de outros sexos.

Uma lágrima escorreu pelo canto do meu rosto, mas eu a limpei logo.

— Você escolheu isso — relembrei meu subconsciente. — Ele não está fazendo nada de errado.

Terminei de comer rapidamente, tratando de dar um jeito na louça acumulada na pia. Eu morava sozinho há dois anos e já me acostumara com a rotina solitária, por isso apreciava tanto a companhia de Taehyung, mesmo que não fosse encontrá-lo na manhã seguinte. A cama tinha o cheiro dele, o travesseiro, meu quarto todo era infectado com o cheiro alucinante dele.

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