cap 03

28 4 1
                                    

— Você tem um nome? — pergunto, tentando quebrar o silêncio sufocante.

Seus olhos escuros me fitam com uma intensidade que me faz desviar o olhar por um segundo.

— Tenho, mas não é importante agora. — Sua voz soa como um sussurro, quase perdido entre o som distante da chuva batendo nas janelas. Ele dá alguns passos em direção a sala, como se conhecesse aquele lugar melhor do que eu.

— Como assim não é importante? — insisto, sentindo uma pontada de curiosidade misturada com uma sensação incômoda.

— De onde eu vim, nomes são algo que não podemos contar para qualquer um.

— Porque não?

O vejo parar no meio da sala, olhando para as coisas deixadas pelo meu falecido primo.

— O nome…— Ele começa a contar após alguns minutos em silêncio.— Ele dá poder, você não deve dar esse poder para um estranho.

Ele se vira para mim, seus olhos fixos nos meus, e por um momento parece que o tempo desacelera. Sinto um arrepio percorrer minha espinha.

— Se eu falar meu nome, você fala o seu?

— Sem chance.

— Então, como devo te chamar? — pergunto, aceitando que talvez nunca descubra seu verdadeiro nome.

Ele pensa por um momento, como se estivesse considerando a pergunta com cuidado.

— Yan, pode me chamar de Yan.

— Certo…

— E você? Como devo chamá-lo?

— Meu nome é Malfoy, Draco Malfoy.

Ficamos se encarando por alguns minutos, porém, já estava começando a me irritar com todo aquele mistério entre nós.

— Deve estar se perguntando se não tenho medo de dar meu nome a você. — Falo enquanto o encaro.— Não, eu não tenho.

— Entendo, seu nome é bonito.

Ele sorri de forma gentil, que vindo dele, parece assustadora. O observo andar pela sala até chegar na estante com alguns livros, ele passa sua mão pelas lombadas dos livros até parar em um específico.
“Você gosta de ler?” ele me pergunta. Eu não o respondo, apenas observo em silêncio ele pegar o livro e começar a folhear suas páginas. Agora que estou começando a me acostumar com sua presença, percebo que suas roupas estão molhadas devido a chuva.. Fico me perguntando se deveria mandar ele se secar e vestir alguma roupa, mas lembrei que minha mala ainda estava no carro e não seria nada certo o mandar vestir algo de um morto.

— Você não respondeu minha pergunta.

Seu olhar estava fixo em mim, seus olhos negros me encarando. Logo sinto meu corpo arrepiar e gelar ao mesmo tempo.

— Não.Acho livros chatos.

Franzi o cenho, assim que ele começa a rir levemente. “Como ele ousa rir de mim? logo de mim??” Estas palavras ficaram pairando pela minha mente, afinal, não tinha coragem de dizê-las, ainda mais para ele.
Ele passa alguns segundos rindo, quando finalmente abre a boca para falar.

— Você tem cara que não lê mesmo, me admiraria se você gostasse.

— O que quer dizer com isso?

— Nada, não quero dizer nada.

“Garoto idiota, devia ter deixado ele naquela chuva.”
Enquanto estava ocupado demais pensando em como expulsar ele da casa da minha família, ele some da minha vista, igual da última vez. Aquilo estava começando a me irritar, quando vou atrás do garoto ele estava subindo as escadas. Como se a casa pertencesse a ele.

— Yan? você não pode subir ai.

Ele não me escuta e continua subindo as escadas em silêncio, apenas o som dos seus passos pelo assoalho podiam ser escutados. Resolvo ir atrás do mesmo, afinal se minha mãe ver um menino estranho andando pela casa é capaz dela cair dura no chão.
Ficamos um bom tempo como se fossemos cão e gato, ele sendo o gato e eu como o cão atrás dele. Ele finalmente para de frente a uma porta de madeira estranha, não tinha nada indicando o'que teria atrás dela, mas para a minha “sorte”, aparentemente eu tinha um guia comigo.

—Este quarto está trancado a anos, ninguém chegou a abrir esta porta, tentaram, mas não conseguiram. — Ele fala enquanto se virava lentamente e me olhava.

Fico pensando o que ele queria que eu fizesse com essa informação, queria que eu ficasse com medo e me borrasse nas calças? Sem chance.

— Não ligo para essa porta.

— Que bom, nunca a tente abrir então.

Assim que ele fala isso, Yan começa a andar novamente. Eu estava me segurando para não jogá-lo contra a parede e mandar ele ir embora da casa da minha família. Desta vez ele me leva para uma janela, onde a vista dava para o jardim, não dava para enxergar muita coisa. O vidro estava sujo e as gotas de chuva pioravam a situação.

— Queria te mostrar a vista, mas não tem como no momento.

— Não ligo para essa vista.

Ele me olha em silêncio, como se me analisasse. Novamente sinto um arrepio.
Mas para a minha sorte, o menino apenas dá meia volta e começa a descer as escadas, eu o sigo, garantindo que desta vez ele vá embora mesmo.
Chegamos na porta da saída, ele se despede de mim, já eu, apenas o olho com indiferença. Fico vendo o Yan ir embora, seus passos novamente fazendo uma sintonia com as gotas de chuva.

Dʀᴀᴄᴏ Mᴀʟғᴏʏˣ ᵐᵃˡᵉ ʳᵉᵃᵈᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora