Capítulo Quatro: Novas Percepções

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Miranda estava acostumada a ter tudo em seu devido lugar. O apartamento em Le Marais era um refúgio de tranquilidade em meio ao caos constante de sua vida. Ela caminhava pelo apartamento, ajustando almofadas no sofá, reorganizando as flores frescas nos vasos, passando um pano de leve sobre as superfícies, mesmo que não houvesse um grão de poeira à vista. Um quase ritual em preparar o espaço. Seu ritmo era calmo, mas concentrado, quase meditativo.

A verdade era que Miranda estava nervosa. Nervosa, porque em algumas horas, Andrea Sachs estaria ali, sentada na sua sala de estar, almoçando com ela.

Miranda não conseguia se lembrar da última vez que se sentira assim. Ansiosa. Claro, ela se via cercada de eventos importantes, jantares de gala, desfiles de moda, encontros com figuras notáveis, mas nada disso a perturbava. Eram todos parte de sua rotina bem orquestrada. Mas Andrea... Andrea era uma incógnita. Um fator imprevisível que surgira em sua vida com um frescor que Miranda achava que tinha esquecido.

Ela passou pelo piano de cauda na sala de estar, os dedos deslizando levemente pelas teclas de marfim sem pressioná-las. Um reflexo da presença de Andrea em sua mente: algo tocado suavemente, quase inconscientemente.

Miranda se pegou sorrindo para si mesma. E se assustou por causa disso, o que a fez parar por um instante.

- Se coloque no seu lugar, Miranda. - Murmurou, retomando o controle.

Ela voltou sua atenção para a cozinha, conferindo o menu que havia planejado para o almoço. Ela sabia que Andrea adoraria.

Depois de ter certeza que tudo estava pronto, Miranda se dirigiu à cozinha, onde o delicado bule de porcelana já esperava sobre a bancada de mármore. Ela escolheu um chá especial, uma mistura de camomila e um pouco de lavanda, que sempre a acalmava e também oferecia um aroma reconfortante.

Enquanto o chá fervia suavemente, ela organizou a bandeja com duas xícaras de porcelana finas, tentando não pensar tanto. Logo o bule apitou, e Miranda cuidadosamente colocou o líquido fumegante na xícara, inalando o cheiro floral.

Segurando a porcelana com uma mão experiente, ela voltou para a sala de estar e a colocou na mesa de centro de vidro. Era curioso como preparar um simples chá a fazia sentir-se um pouco mais centrada. Talvez fosse o fato de saber que em breve Andrea se sentaria ao lado dela. 

Miranda se acomodou no sofá de couro macio, uma peça de design italiano clássico que ela sempre adorou. Posicionou as almofadas ao seu redor, um gesto que denotava um leve desconforto. Pegando a xícara de chá, ela soprou delicadamente o vapor que subia antes de levar a xícara quente aos lábios, apreciando o sabor complexo e suave. 

Enquanto tomava o chá, Miranda se permitiu relaxar. Seu olhar vagou pela sala, mas logo voltou para o espaço onde Andrea se sentaria. Ela pensou na conversa que teriam, no que poderia acontecer em seguida. Era um pensamento que carregava consigo uma mistura de excitação e antecipação.

Miranda não queria sentir-se assim, mas Andrea estava quebrando essas barreiras.

Ela pousou a xícara na mesa novamente, com um leve tilintar e afundou um pouco mais no sofá, cruzando as pernas com elegância. A cidade do lado de fora estava quieta demais, o ritmo calmo das ruas trazendo uma certa estranheza.

Com mais alguns minutos de silêncio, os pensamentos masoquistas voltaram a aparecer. E se Andrea cancelasse? E se achasse tudo muito estranho e exagerado? Ela não podia imaginar como seria de lidar com um bolo tão cru da assistente.

Agoniada, a editora-chefe buscou o telefone sobre o sofá, ponderando se deveria mesmo fazer aquela ligação. Mas, no fundo, ela compreendia que não conseguiria enfrentar sozinha a chuva de emoções que a dominava desde o dia anterior.

Paris • MIRANDYOnde histórias criam vida. Descubra agora