Autumn - Foi apenas um sonho ruim

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A chuva incessante caía como um véu espesso sobre a floresta, seu ritmo constante transformando o ambiente em um concerto melancólico de gotas que martelavam as folhas e a terra, ecoando pela vastidão sombria. A água fria, quase glacial, se infiltrava no solo escuro, encharcando as raízes profundas das árvores milenares que se erguiam como guardiãs imponentes, testemunhas silenciosas de eras incontáveis de tempestades e segredos enterrados sob a terra.

Este lugar era um santuário remoto, intocado pelas mãos humanas, um reino de sombras e mistério onde a luz do sol mal ousava penetrar. Ali, a natureza reinava soberana, envolta em um manto de escuridão e murmúrios antigos. No coração desse labirinto verde e denso, onde nenhum caminho conhecido levava, algo começou a se mover. Um movimento sutil, quase imperceptível, que quebrava a monotonia da tempestade e despertava a atenção do próprio ambiente.

A princípio, um tremor suave percorreu o solo, como um arrepio profundo que sacudia as entranhas da terra. Gradualmente, o movimento ganhou força, um ritmo crescente que parecia ressoar com a batida do próprio coração do mundo. Era como se algo estivesse lutando para se libertar das correntes invisíveis que o aprisionavam nas profundezas.

Então, da terra úmida e escura, surgiram mãos esguias e trêmulas, emergindo com esforço do solo. A pele, de um tom oliva doentiamente pálido, parecia manchada pela escuridão do solo, como se a própria floresta tivesse impregnado sua essência naquelas mãos finas e contorcidas que lutavam desesperadamente por liberdade.

Logo, um corpo magro e frágil começou a deslizar para fora de uma cova rasa, como se estivesse renascendo de um útero de trevas. A criatura se lançou para frente, escapando da terra fria e úmida, enquanto uma tosse seca e convulsiva rasgava o silêncio da floresta. A chuva, uma torrente implacável, caía sobre esse ser recém-desperto, que lutava para respirar, para compreender o novo mundo ao seu redor.

A água gelada o atingia com força, mas ele mal a percebia, perdido em um torpor que o isolava de toda sensação. Estava tão desorientado, tão perdido em si mesmo, que a água fria que escorria por sua pele era apenas um toque distante, um borrão na percepção distorcida de seus sentidos. Ele nem sequer notou que estava completamente nu, exposto à fúria da tempestade sem qualquer proteção.

A terra, ainda presa em sua boca, tinha um gosto amargo e arenoso que lhe provocava náuseas. Engasgou-se, tentando expulsar a sujeira que obstruía sua garganta, e acabou vomitando. O conteúdo de seu estômago, uma mistura de terra e bile, escorreu pelos lábios, tingindo seu queixo de um tom esverdeado e lançando no ar um cheiro nauseante que se misturava com o odor da chuva, criando uma atmosfera acre e sufocante.

Seus cabelos, longos e escuros como a noite mais profunda, caíam sobre seu rosto, formando uma cortina densa que escondia seus olhos. A água da chuva, misturada à terra e ao vômito, escorria pelos fios, tornando-os pesados e encharcados. Ela se agachou, encolhendo-se sob a chuva como se quisesse desaparecer do mundo, fugir do frio, da dor e do desespero que ameaçavam consumi-la.

Por um momento, pareceu que a fraqueza iria vencê-la. Mas, num esforço sobre-humano, ela se apoiou nos cotovelos, levantando seu corpo com dificuldade, revelando curvas femininas moldadas tanto pela natureza quanto pelo sofrimento. Seus joelhos tremeram sob o peso do movimento, a falta de força lhe causando uma dor lancinante que irradiava por todo o seu ser. Ainda assim, ela se recompôs rapidamente, impulsionada por um instinto primitivo de sobrevivência.

Ela começou a correr, ignorando a dor que rasgava seus músculos a cada passo, cada movimento uma agonia silenciosa. Seus pés descalços e feridos escorregavam na terra úmida, mas ela continuava, movida por uma força incontrolável, uma vontade feroz de viver.

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⏰ Última atualização: Oct 28 ⏰

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