ᵈᵒʳᵉˢ ᵈᵉ ᵘᵐᵃ ᶦⁿᵒᶜᵉ̂ⁿᶜᶦᵃ ᵠᵘᵉᵇʳᵃᵈᵃ

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Mais um dia acabava de nascer e mais uma noite morria na grande província de Reisikarg, capital de Nnýn. Onde os raios de sol atingiam as grandes colinas da região, tornando aqueles montes que pareciam quase invisíveis aos olhos em um grande espetáculo. Porém, eles não era tão bonitos quanto na época em que as Boreales se faziam presentes, quando aquelas colinas de vidro refletiam as cores das nebulosas, ganhando tons de roxo, azul e rosa...

Não era atoa, aquela cadeia de montanhas eram conhecidas como Glas Gebirges¹.

Cidadãos energéticos e outros preguiçosos declaravam que suas padarias e lojas estavam abertas para todos os tipos de fregueses que estivessem interessados em comprar seus variados produtos. Com sorrisos estampados ou com rostos que davam a entender que só estavam ali pela mais pura obrigação de cada dia, convidavam as pessoas a darem uma olhada em seus itens de mais puro valor.

Embora a cidade estivesse animada, nem todos os habitantes estavam...

Principalmente a pequena criança, que havia recebido o nome de seu bisavô, quando este estava sofrendo com suspiros e derramando suas últimas lágrimas:

"Por favor...Dê a esta pequena criança o meu nome, para que ela possa se lembrar dos grandes feitos que seu avô fez para o povo de Nnýn..."

Era o que ele disse, antes de partir por volta do meio-dia, deitado naquela velha cama de retalhos, em um escuro quarto daquele casebre antigo, onde sua alma brilhante e generosa se deteriorava e se apagava aos poucos, enquanto as pontas de seus dedos enrugados tocavam naquela macia pele que se fazia presente no rosto angelical e recém-nascido daquele bebê de cabelos cor de bronze.

Era o rosto daquele menino.

O rosto do pequeno e inocente Otto Rinut.

Anos após aquele triste acontecimento, Otto cresceu, juntamente com sua beleza, esperteza e bondade, se tornando em um aluno dedicado elogiado pelos seus professores e supervisores, sendo amado por seus amigos. Todos da cidade conheciam e amavam aquela doce criança que morava na Rua Wald.

Otto com apenas 6 anos e por decisão própria, já ajudava seus pais no grande negócio de família:

A Padaria Rinut

Esta padaria era uma das maiores de Reisikarg, chegando até mesmo a ser considerado um ponto turístico muito visitado por viajantes e andarilhos de todos os continentes.

O motivo de ela ser tão grandiosa assim vinha de uma antiga lenda familiar:

Há muito tempo, Wächter² havia escolhido famílias de diferentes cidades para servir e salvar almas que vagavam naquele mundo, exaustas e acabadas pelas dores causadas pelos tenebrosos e cruéis líderes que governavam as mais pobres e fracas regiões, instaurando uma verdadeira e dolorosa ditadura com mãos de ferro, mandando suas criaturas massacrarem cada ser que se opor-se a eles. Cada defensor tinha seu propósito, desde proteger, curar e alimentar os Pilgers³.

Essa última missão era a função dos Rinut.

Ao longo de gerações, as famílias decidiram que cumpririam suas promessas dadas por aquele ser que era responsável por suas existências.

E assim foi.

Após muitas guerras e disputas, finalmente o mundo se achou livre dos ditadores e uma grande paz se reinou em Nnýn.

Mas havia um porém...

Grandes pragas e doenças passaram a existir, centenas de habitantes morreram, sem que qualquer família pudesse salvá-las.

Aquilo tudo se passava de uma maldição criada após um pacto entre demônios e os antigos líderes?

Ninguém realmente sabia...

Desde então, crianças, animais, jovens, adultos e idosos pereceram...

A busca desafortunada pela cura foi em vão.

Como a procura de uma salvação para Asfien Pyhna, o companheiro de Otto Rinut que tinha sido alertado por seus cuidadores de que não viveria até os 10 anos.

Aquele fato chocou a família da pobre criança que derramou lágrimas de desespero e angústia, o mesmo aconteceu com Otto que não podia acreditar que seu melhor amigo estava no leito de morte.

O jovem Rinut corria pelos longos corredores de sua casa que estavam recheados de turistas curiosos e familiares que contavam mais uma vez aquela lenda rotineira que tinham os inspirados a serem o que eram hoje.

A criança então sai de lá, descendo escadas e mais escadas em formato de caracol, chegando perto da porta rústica de madeira velha, a saída daquela enorme padaria, quando é barrado por seu próprio pai que o encara com uma expressão séria.

Ele era o responsável por ter contado aquela desoladora notícia que fez Otto refletir por longos minutos e chorar em seu quarto quando estava sozinho.

-Eu preciso vê-lo de novo! Por favor, eu preciso!

Gritava o garotinho com raiva e lágrimas já secas em seu rosto enquanto alguns clientes o olhavam, confusos com a cena.

-Eu sei disso...- diz de forma firme o pai, embora não parecesse ter empatia com a dor daquele menino, por dentro, um redemoinho de emoções reinava sua cabeça. -Nós podemos ir de noite e então...

-TALVEZ ASFIEN NEM ESTEJA MAIS AQUI QUANDO JÁ ESTIVER DE NOITE!...

Aquela criança não queria aceitar a dolorosa realidade, seu único desejo era visitá-lo com a esperança de que ele não estivesse mal e que tudo aquilo passasse de um boato patético criado por alguém que não possuía uma língua que coubesse na boca.

Mas como sempre, a verdade era como um tapa na cara e ele queria confrontar-la, mesmo sabendo que Asfien era um moribundo, alguém apenas esperando a morte o agarrar com suas mãos esqueléticas e levá-lo para não se sabe onde...

O garoto encara seu pai, com aquela mesma expressão inexplicável.

"Por que ele parecia não ligar para isso?!"

Limpando seu nariz, Otto o olha novamente, agora imitando sua expressão, com voz fraca, ele diz:

-Eu tenho que passar a acreditar agora que ele vai morrer, não é?

A criança sem esperar respostas, vira de costas para seu pai, olhando para os longos corredores claros com a luz do dia.

O pai apenas o observava com olhos que agora expressavam arrependimento de ter dito tão duras palavras e receoso, ele volta a dizer:

-Não era isso que eu queria dizer...

A criança, olha para baixo, pensando sobre todas as futuras experiências com seu amigo, suas grandes aventuras...agora destruída com a premonição da doença, com um suspiro, Otto finalmente aceita:

-Tudo bem, papai...agora tudo faz sentido, não se preocupe...

Com passos velozes, Otto volta para o caminho de seu quarto, deixando seu pai sem palavras e seus clientes com queixos caídos, os encarando com pena, de uma forma que aparentava ser uma ameaça.

Todos sabiam que a futura morte daquela criança era algo doloroso de se aceitar.

E todos sabiam que nada podia ser feito...

Mas será mesmo que esse era o fim?

×××🍂×××

Glas Gebirges¹: Montanhas de vidro em alemão.

Wächter²: Guarda em alemão.

Fundador de Nnýn. Seu nome verdadeiro é desconhecido, sendo apenas conhecido como o Guardião, um ser com rosto e características esquecidos com o tempo.

Pilgers³: Peregrinos em alemão.

Peregrinos são todos os refugiados que fugiram de suas cidades natais a procura de uma salvação.

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⏰ Última atualização: 7 days ago ⏰

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