O encontro

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— Vocês não podem fazer isso comigo! 

— Não se ache no direito, Chuuya. Você mora na minha casa e o mínimo que pode fazer é se casar com aquela moça! 

A voz dura e fria da mulher ressoa pela sala. Chuuya suspira, seu punho se fechando com força, fazendo suas unhas machucarem a pele. 

Mas essa dor não importava, não quando ele estava sendo obrigado a se casar com alguém que nem conheceu ainda, alguém que sequer amava. 

Seus pais sempre foram do tipo evitativos, sem muito contato além de olhares congelantes e vozes monótonas. Era raro os momentos em que o tivessem olhado com nada além de tédio, quase como se ele não valesse a pena. 

E era por esse motivo que ele se sentia frustrado. Em todos seus vinte anos ele tinha sido tratado como um nada, um corpo sem utilidade para aquela casa, apenas para simplesmente num dia qualquer lhe jogarem a notícia de que se casaria. Ele podia jurar que foi a primeira vez que viu seus pais sorrindo, mesmo que parecesse totalmente forçado. 

— Não posso me casar com alguém que não conheço! E eu tenho meu trabalho para se preocupar, onde iria arranjar tempo com casamento, mãe? — Chuuya olha sério para a moça com seus cabelos esbranquiçados, marcas dos anos vividos em seu rosto. 

— É só sair do trabalho, não é como se não soubéssemos que você guarda bastante dinheiro consigo — quem fala é seu pai, seus óculos grandes demais para seu rosto sério e frio. 

Chuuya arregala os olhos, rapidamente os fechando e deixando um suspiro derrotado sair por seus lábios. O dinheiro que ele guarda é o resultado de seus três anos de trabalho esculpindo pequenas peças por encomenda. Ele trabalhava em uma pequena loja, juntamente com seu chefe e seu namorado, Edgar Allan Poe e Ranpo Edogawa. Os dois eram um casal feliz, caseiros e discretamente amorosos um com o outro. Chuuya os admirava bastante, mesmo que Ranpo o irritasse com suas adivinhações precisas. 

— Vocês mexeram nas minhas coisas? 

— Não mude de assunto, Nakahara Chuuya! — sua mãe fala, dessa vez sua voz saindo mais fria, fazendo seu corpo tensionar — Amanhã de manhã vamos levá-lo para conhecer sua noiva, não se atrase. 

Os dois se vão, andando lentamente um ao lado do outro. As paredes frias e cinzentas daquela casa complementam o ar ao redor deles. Chuuya apenas sai do estupor quando a porta da frente bate, e ele é deixado sozinho naquela sala vazia, com falta de qualquer coisa que tivesse calor. 

°•¤•°

Na manhã seguinte, Chuuya se vê olhando tristemente para a paisagem passando pela sua janela. Eles estavam a caminho da casa da moça que se casaria. Seu bolso da frente pesando com a aliança que tinha sido dada por seus pais antes de saírem de casa. Com o canto dos olhos ele pode ver sua mãe dando um tapa na mão do homem quando o mesmo tentou se aproximar dela. Chuuya se questionava como os dois estavam juntos se nem um ato de amor ou paixão era visto entre os dois. E parando para pensar, ele não acha que tenha visto isso na sua infância, nem na sua adolescência. 

Era como se estivessem juntos só por estar, sem envolver a chama da paixão que normalmente casais deveriam ter. 

— Chegamos, Senhor e Senhora Nakahara! 

CORPSE BRIDE, soukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora