O filho do submundo.

Capítulo 2- O portal para o submundo

O peso do medalhão pendurado em seu pescoço parecia intensificar a cada passo que Harry dava pelos corredores silenciosos de Hogwarts. O mistério do artefato e a revelação de sua suposta origem divina o atormentavam, mas ele sabia que não podia compartilhar essa descoberta com ninguém. Nem mesmo com Hermione ou Ron. Como poderia explicar que, de repente, ele poderia ser filho de um deus grego? Era uma verdade que ele mesmo ainda lutava para aceitar.

Naquela noite, Harry estava deitado em sua cama no dormitório da grifinória, o medalhão repousando sobre seu peito, quando algo estranho aconteceu. A pulsação de luz vermelha que ele havia visto na sala secreta começou a brilhar novamente, mas desta vez, muito mais forte. Antes que pudesse reagir, o medalhão começou a emitir um calor intenso, e uma força invisível o puxou para baixo. Harry tentou gritar, mas não houve som. Em um piscar de olhos, o mundo ao seu redor desapareceu, e ele foi engolido por uma escuridão completa e esmagadora.Quando a escuridão finalmente se dissipou, Harry se encontrou em um lugar completamente diferente. O ar estava denso e pesado, impregnado com o cheiro de terra úmida e enxofre. Ele estava em uma vasta planície desolada, envolta em uma névoa espessa que obscurecia tudo além de alguns metros à sua frente. O chão abaixo de seus pés era feito de pedra fria e irregular, e ao longe, ele podia ver enormes portões de ferro, envoltos em sombras e guardados por um grande cão de três cabeças, que o lembrava muito de fofo.Os portões do submundo. Harry sentiu um arrepio subir por sua espinha. Ele sabia instintivamente onde estava, mesmo sem nunca ter estado ali antes. Esse era o reino dos mortos, o domínio de Hades.

Enquanto ele se aproximava dos portões, as figuras espectrais começaram a se mover em sua direção, seus rostos pálidos e distorcidos de dor e desespero. Harry sentiu uma onda de pânico, mas se forçou a manter a calma. Ele precisava de respostas, e este parecia ser o único lugar onde as conseguiria.As almas atormentadas sussurravam palavras ininteligíveis enquanto se aproximavam, cercando-o por todos os lados. Seus dedos esqueléticos tentavam tocá-lo, como se implorassem por ajuda ou quisessem arrastá-lo para suas próprias existências sombrias. Harry tentou afastá-las, mas seus toques eram frios como gelo, e ele sentia a energia sendo drenada de seu corpo.De repente, as almas pararam, como se sentissem a presença de algo muito mais poderoso que elas. O ar ficou ainda mais frio, e uma voz profunda e ressonante ecoou pelo ambiente, fazendo as pedras tremerem sob os pés de Harry.

"Chega! Deixem-no em paz."

As almas recuaram imediatamente, e a figura imponente que Harry havia visto em seus sonhos emergiu das sombras. Alto e majestoso, Hades se aproximou. Seus olhos brilhavam em vermelho, como brasas acesas, e sua pele pálida contrastava com o manto negro que fluía ao seu redor como fumaça."Harry Potter," disse Hades, sua voz como trovão distante. "Finalmente, você veio até mim."Harry ficou imóvel, o coração batendo descontroladamente. "Você... você é Hades?"O deus assentiu lentamente, uma expressão enigmática em seu rosto. "Sim. Eu sou Hades, senhor do submundo, guardião das almas dos mortos. E você, Harry, é meu filho."As palavras pairaram no ar, pesadas e impossíveis de ignorar. Harry olhou para Hades, tentando encontrar algum sinal de mentira ou manipulação, mas tudo o que encontrou foi uma firmeza implacável.

"Não pode ser," Harry balbuciou. "Eu... eu sou filho de James e Lily Potter. Eu sou um bruxo, não um semideus."

Hades se aproximou mais, até que estava diante de Harry, tão perto que ele podia sentir o poder que emanava de sua presença. "Você foi criado como filho de James e Lily Potter, é verdade. Mas seu sangue, seu verdadeiro sangue, é meu. Eu me apaixonei por sua mãe James Potter em um tempo de guerra e escuridão. Eu o amava profundamente, mas sabia que não poderia ficar. Ele escolheu viver no mundo dos mortais, e eu respeitei sua escolha. Mas o destino sempre foi caprichoso, e agora você está aqui, para reivindicar sua herança."

Harry sentiu sua mente girar com as informações. Tudo o que ele sabia sobre si mesmo estava sendo questionado. Ele não sabia como lidar com isso, e a presença esmagadora de Hades só tornava tudo mais difícil.

"Por que agora?" Harry perguntou, sua voz trêmula. "Por que eu? Eu já lutei contra tanta coisa... Eu só quero viver em paz."

Hades o observou com um olhar quase paternal, embora frio e distante. "Porque o tempo chegou, Harry. A conexão entre os mundos está enfraquecendo, e forças que você mal consegue imaginar estão se erguendo. Sua herança pode ser a chave para salvar ambos os mundos – ou destruí-los. Você precisa entender quem você realmente é, e o que você pode fazer."

Harry engoliu em seco, sentindo o peso das palavras de Hades. Ele não sabia se podia confiar no deus, mas as evidências estavam diante de seus olhos. Ele era mais do que apenas um bruxo, mais do que apenas Harry Potter. Ele era filho de Hades, o herdeiro do submundo, e seu destino estava intrinsecamente ligado a esse novo e aterrorizante mundo.

"Eu não sei se estou pronto para isso," Harry admitiu, sua voz cheia de incerteza.Hades colocou uma mão pesada no ombro de Harry. "Ninguém nunca está realmente pronto para o que o destino reserva, meu filho. Mas você tem mais poder do que imagina, e em breve, você verá o quão necessário é abraçar sua verdadeira natureza. Lembre-se, o sangue dos deuses corre em suas veias. Use-o com sabedoria."

Com essas palavras, Hades recuou, e a escuridão ao redor de Harry começou a se mover novamente. As almas inquietas, que antes o aterrorizavam, agora pareciam se afastar, abrindo caminho para ele. E então, sem aviso, o medalhão em seu pescoço brilhou mais uma vez, e Harry sentiu o chão desaparecer sob seus pés. Em um instante, ele foi puxado de volta à realidade, deixando para trás o submundo e todas as revelações que ele mal conseguia processar.

De volta a Hogwarts, Harry caiu de joelhos no chão de seu dormitório, o corpo tremendo com a experiência. A lua ainda estava alta no céu, e tudo parecia exatamente como antes, mas nada era o mesmo. Ele olhou para o medalhão em sua mão, agora frio e inerte, e soube que sua vida estava prestes a mudar para sempre.

Com um suspiro pesado, Harry se levantou, sabendo que o caminho à frente seria difícil e perigoso. Mas ele também sabia que não podia fugir de quem era.