Os dias seguintes passaram tranquilamente para mim. Eu continuei no palacete, envolta pela constante presença de Lucien, que parecia se recusar a me deixar sozinha. À noite, compartilhávamos a cama, e ele me mantinha segura até que eu adormecesse. Pela manhã, ele não estava ao meu lado, mas logo retornava, sempre atento, conduzindo-me em caminhadas pelos jardins exuberantes ou lendo para mim na vasta biblioteca.
Eu não conseguia pensar em ir embora. A comida que Madalena preparava era deliciosa, muito além do que eu estava acostumada. Os vestidos que ela me oferecia tornaram-se algo que eu secretamente apreciava, e o tratamento afetuoso que recebia fazia-me sentir-me acolhida como uma filha. No entanto, no fundo, o que me prendia ali era o medo. O medo de voltar para casa e encarar Damien. Eu me perguntava o que ele teria dito como explicação para o ferimento na perna, imaginando a adaga que eu havia trabalhado com tanto cuidado, cravada na carne dele.
Mas havia também Lucien. A cada momento que passava ao seu lado, eu via menos o homem selvagem e perigoso que ele parecia ser. Em vez disso, enxergava sua gentileza e delicadeza. Seus olhos de cobre intenso, a pele clara contrastando com os cabelos negros e selvagens que pareciam crescer mais a cada dia. Eu notava a maneira como suas mãos grandes, assim como o resto do corpo, me envolviam, trazendo uma sensação de segurança e calor. Seus músculos, esculpidos como se fossem de mármore, eram ameaçadores à primeira vista, mas agora me faziam sentir-me protegida.
Não podia negar que Lucien me fazia sentir-me cada vez mais leve, mais segura. E, para minha surpresa, cada vez mais atraída.
Na biblioteca, eu estava deitada em um pequeno banco acolchoado, imersa em um livro. A sala, silenciosa e impregnada do cheiro de papel envelhecido, proporcionava uma sensação de paz. Meus dedos percorriam as páginas suavemente, mas minha concentração foi interrompida pela presença de Lucien.
Ele entrou na sala, vestido de maneira simples, mas extremamente atraente. Uma camisa de linho branca, com as mangas dobradas até os cotovelos, destacava os músculos de seus braços. Calças escuras moldavam-se ao seu corpo esguio, enquanto as botas negras completavam o visual.
Eu me demorei, admirando-o. Lucien notou e, com um sorriso ligeiramente perverso, provocou:
— Gostando do que vê, Ma Belle?
Corri instantaneamente, tentando disfarçar o encantamento. Respondi com firmeza:
— Só estava me perguntando como alguém tão grandalhão consegue ser tão silencioso.
Lucien riu, uma risada grave que eu sentia cada vez mais acolhedora, suave e gutural, tornando-se meu som preferido.
— E eu me pergunto como uma garota tão pequena consegue ser tão teimosa — retrucou ele, sentando-se em uma cadeira próxima e observando-me com um olhar que misturava diversão e carinho.
— Teimosa? Eu? — Respondi, levantando-me do banco. — Isso vindo de alguém que insiste em irritar uma dama.
— Dama? — Lucien arqueou uma sobrancelha, claramente se divertindo. — Eu não sabia que você era uma dama. Pensei que era uma guerreira, uma ferreira, talvez até uma caçadora de monstros.
— Você me confunde com você mesmo, Lucien. — Tentei manter o tom firme, mas um sorriso travesso surgiu em meus lábios.
— Talvez — ele disse, inclinando-se para frente, como se compartilhasse um segredo. — Mas sou mais do que um simples monstro, não sou?
Senti o calor subir até minhas bochechas e desviei o olhar, tentando mudar o foco da conversa. Decidida, caminhei até uma estante de livros em busca de outro volume para que ele pudesse ler para mim. Meus olhos se fixaram em um livro específico, mas estava em uma prateleira alta, fora de meu alcance. A escada de apoio estava ao lado, e eu rapidamente subi, esticando-me para alcançar o exemplar.
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La Belle
Diversos[ CONCLUÍDA] Em um vilarejo onde as sombras guardam segredos e o passado se recusa a ficar enterrado, Isabelle é uma jovem marcada pela tragédia, vivendo à margem da sociedade que a rejeita. Seu único desejo é encontrar independência e reconheciment...