Capítulo único.

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Minho estava tendo um dia difícil.

Na verdade, não havia um único dia na sua vida que não fosse difícil. Pesado, como a função de carregar o mundo nas costas. O mesmo ardor nos ombros, a mesma câimbra em seus músculos cansados, o mesmo suor insuportável escorrendo por sua testa, pingando sobre seus cílios que tremiam com o espasmo em suas pálpebras.

Seria exagero, talvez, o uso definitivo de um "todos" acompanhando esse "dias". Ele tinha dias bons, dias de glória, dias onde a felicidade o abraçava como uma mãe com toda sua presença reconfortante sussurrando palavras carinhosas em seu ouvido, apertando-o em uma segurança desconhecida e levando aquele sentimento ridiculamente bom para seus pulmões.

Mas assim como nem todos os seus dias eram ruins, infelizmente, eles também não eram integralmente bons.

Ele entendia, Minho entendia que na vida, tendo que lidar com pessoas, eventualidades, e consigo mesmo, a existência de uma felicidade ininterrupta era inviável. Isso tirava o ar dos seus pulmões, tal como a inevitável sensação diária de carregar o mundo sobre a cabeça.

Machucava que ele pudesse ser feliz. Financeiramente, emocionalmente, profissionalmente. As pessoas encontravam, por mais absurdo que parecesse em sua cabeça, a leveza em cada uma dessas coisas.

Mas Minho não conseguia. Nem se quisesse muito, nem se tentasse exponencialmente, cada dia tentando tecer um pouco de felicidade naquele tecido frágil que era sua vida {facilmente rasgável, inflamável, encardido, desconfortável}. Pinicava. E nessas horas ele desejava ter aproveitado mais os breves e intensos momentos de alegria que ele tinha. Mas nunca teria o suficiente, nunca poderia aproveitar o suficiente. Porque seu 'suficiente' seria a Eternidade.

Minho sentia sua inutilidade nessas horas, respirando fundo sobre o volante de seu carro, com a testa suada franzida em arrependimento (o de ter uma vida que lhe foi concedida mas não poder aproveitá-la).

Queria poder gritar, agarrando seus cabelos entre os dedos para aliviar aquela podridão radioativa dentro de sua cabeça, a realidade e a certeza de que era um alienígena vivendo entre os humanos, gastando um oxigênio que não era seu por direito. Ele não era feito para aquela atmosfera, aquela sociedade ou aqueles alimentos que ora caiam bem em seu estômago mas hora faziam-no sentir-se a ponto de vomitar até mesmo as células do seu sangue.

Respirar fundo. Respirar fundo era o que a sua terapeuta mandava fazer. Mandava, ele via como uma ordem. "Minho, respira e pensa, você não está pensando". Pensa, Minho, pensa e respira. Ele tentava repetir para si próprio, reafirmando que todos aqueles sentimentos intragáveis podiam sumir com o simples ato de levar oxigênio para seu sistema respiratório e deixar com que seu diafragma contraia e relaxe ao seu perfeito, viabilizando aquele processo vital. A respiração de Oxigênio. Um ar que não era seu, nunca foi.

Como podia ele, em sua pura e ridícula insignificância, simplesmente aceitar que as coisas melhorariam se ele respirasse? Estava tentando, podia sentir o relaxamento em seus ombros, o esforço em seus músculos quando a caixa torácica se enchia com o gás, reabastecendo suas células. Mas aí o ar saía, e ele tinha aquela dificuldade ridícula de puxá-lo de volta. A garganta trancada, os olhos cerrados, a sensação de que morreria.

Ia morrer e os bombeiros o encontrariam atracado ao próprio cabelo, chorando em posição fetal, asfixiado pelo próprio cérebro defeituoso. Todos iriam perguntar o que aconteceu, diriam que ele se matou ("suicídio?!") sua mãe afirmaria que era o esperado dele. "Típico". "Egoísta". Podia imaginar essas palavras — essas exatas palavras, atrapalhadas por um choro entalado de quem gastou a juventude cuidando de uma vida que não soube viver e retornar aquele carinho [(carinho?)].

Dia Difícil - Minlix(?);Onde histórias criam vida. Descubra agora