OBLIVIATE

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Maio de 2005 – 7 anos após a batalha de Hogwarts

A noite envolvia Shara como um manto pesado, sufocando os sons e distorcendo as sombras ao seu redor... A viela onde ela se encontrava era estreita e com pouca iluminação, iluminada apenas por uma lua minguante que lutava para penetrar a espessa camada de nuvens. O vento gélido típico daquela época do ano cortava seu rosto, trazendo consigo o cheiro de chuva iminente e umidade. Shara estava ali, de pé, sozinha, com a varinha firmemente disposta em sua mão trêmula... o seu coração batia descompassado, a respiração ofegante ecoando na quietude da noite, e haviam algumas lagrimas marcando o seu rosto, o que era aquilo? Afinal ela não era de chorar, pelo menos não mais, isso a muito tempo.

Ela piscou, tentando focar a visão turva, mas tudo ao seu redor parecia distorcido, como se a realidade estivesse a um passo de se desintegrar... "Como eu vim parar aqui?" essa era a primeira de suas perguntas, uma sensação de desespero começando a se infiltrar em sua mente... ela não se lembrava de nada, quer dizer... ela se lembrava sim, mas não era exatamente de tudo, era como se parte de sua memória tivesse sido arrancada à força... Fragmentos de momentos recentes simplesmente desapareceram como fumaça, evasivos e distantes.

Shara inspirou o ar algumas vezes, buscando algum controle, ela era uma guerreira brutal, uma membra ativa da Ordem, e sua mente sempre foi uma arma afiada. Mas agora, ela sentia uma confusão paralisante, além do vazio, como se ela tivesse acabado de perder algo, algo muito valioso... mas o que? tentando juntar as peças de uma noite que parecia um quebra-cabeça incompleto... a verdade é que o peso dos anos de luta a pressionava, e a guerra interminável estava deixando marcas profundas em seu íntimo, às vezes ela nem sequer se reconhecia... será que aquilo era um tipo de lapso, será que ela estava perdendo sua sanidade? e começando a falhar...

A única coisa que parecia estar em seu devido lugar e fazia algum sentido naquele caos todo era o ódio ardente que ela carregava dentro de si, isso contra tudo e quase todos, muitos eram aqueles que a haviam decepcionado no decorrer dos anos e sem dúvidas, Severo Snape, o seu pai, foi o primeiro e o principal entre eles, ele que havia sido o homem que ela uma vez respeitou, admirou, amou... mas tudo se foi, se dissipando como fumaça, revelando que ele não era exatamente o homem que ela pensava que era, ele havia matado Dumbledore e aquela não era apenas uma traição á Ordem, mas era algo tão pessoal, ele havia mentido para ela, mesmo depois de tudo... e aquilo ainda doía como uma ferida recém aberta, e por mais ruim que fosse, esse sentimento e toda essa ira, era a única coisa que parecia estar no lugar certo essa noite... e era essa dor, somada a tantas outras que fazia dela aquilo que ela era, ou pelo menos quem ela havia se tornado, sim ela nutria ódio, muito ódio e ela aniquilaria todos aqueles que considerava merecedores, era por isso que ela continuava lutando, era por isso que ela não desistia...

Mas algo estava errado, algo que ela não conseguia entender completamente... Shara apertou a varinha com ainda mais força, limpando o rosto e tentando puxar de volta as memórias que pareciam estar dançando à beira de sua consciência. "Preciso sair daqui" murmurou para si mesma, mas suas pernas pareciam pesadas, como se estivessem presas ao chão... seu instinto de sobrevivência despertando, afinal a guerra não tinha acabado, era tolice relaxar, os tempos eram sombrios, e então ela se moveu devagar, se sentido vazia, vazia de algo que ela não conseguia identificar... sim algo havia acontecido com ela e ela precisava descobrir a verdade e recuperar o que havia sido tirado dela, e continuar lutando de onde ela havia parado...embora não soubesse ao certo onde exatamente isso havia sido, Merlin... mesmo que estivesse se sentido perdida e mesmo tentando juntar as peças desconexas em sua mente... ela precisava continuar, afinal ela era Shara... foi quando ela ouviu passos apressados atrás de si e antes que pudesse reagir, Neville Longbottom apareceu, sua expressão marcada por preocupação, a fazendo soltar o ar que sequer havia percebido ter prendido.

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