Capítulo I: Caminho Sem Volta

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Malas estão empilhadas no chão; Cartas espalhadas pela escrivaninha; E um jovem garoto olha pela janela com melancolia.
Está mais para desespero, já que lágrimas caem de seus olhos enquanto suas sobrancelhas se curvam em uma expressão séria, e até raivosa. Talvez para tentar parecer menos emocional.

Hoje é o dia em que Heinrich vai para a sua base designada e, talvez, nunca mais veja seus pais e amigos. O que ele faria lá? Bem... ele sabe usar armas, mas nunca pensou que realmente usaria além de treinar com seu pai. Será que ser ferreiro é uma experiência válida para entrar no exército? O menino até pode não ir, mas "isso não é escolha sua", como dizem seus pais. Ele tem de lutar e mostrar como ama sua pátria.

Heinrich sai da janela e dá uma última olhada vaga pelo seu quarto, observando como o lugar que era uma fonte de inspiração para seus poemas virará apenas uma lembrança vaga em sua memória. Parece que alguém está saindo as presas, com roupas amarrotadas jogadas em cima da cama desarrumada. Isso é porque, em um surto de raiva, Heinrich descontou seu ódio em seu quarto. A sua escrivaninha, que deveria estar cheia de rascunhos de poemas e estórias, está lotada de cartas de despedida, algumas que ele ficou muito grato, e outras que preferia nem ter ganhado, de tantas palavras sentimentais escritas por pessoas que nem ligavam para a sua existência.

Seus pensamentos são cortados pela voz de seu pai gritando.

- Heinrich! Vamos logo, você tem que chegar às 10 no quartel!

A grave voz, que ele sempre teve pavor, agora parece ainda mais aterrorizante, e até repugnante. O menino sente seu estômago revirar, seu coração pulsar e sua visão atordoar. Não tinha o que fazer. Ele tem de ir, ir para sua morte. Ir para o seu fim.
Sua vontade de chorar piora, sua garganta fechando e a visão sendo ofuscada pelas lágrimas que retornam. Mesmo sua alma pedindo um choro, ele engole os sentimentos ruins e limpa as lágrimas com o braço. Rapidamente pega as malas e tenta arrumar um pouco o quarto, mas não tanto já que seus pais não o bateriam por conta disso, como faziam quando ele não concluía alguma tarefa de casa.
Ele olha para as cartas e até pensa em levar alguma, mas não tem nenhum melhor amigo ou parente que aprecie tanto para levar uma. Aliás, isso não o confortaria, de qualquer maneira.

Heinrich pega as malas, que eram apenas duas de braço, e começa a descer a escada. A cada passo sua respiração fica mais rápida e seu coração parece ter saído de seu corpo, só sobrando um buraco que ele consegue sentir ali.
Quando chega até a sala, vira a cabeça para o lado e vê seus pais. Sua mãe sorridente como ele nunca a viu em sua vida e seu pai sério como sempre.

- O carro já está esperando. - A mulher diz enquanto se aproxima do menino, o abraçando e suspirando levemente. - Ah, meu filho. Você é tão corajoso, o meu orgulho! Estaremos orando por você daqui, e tudo vai dar certo.

- Se cuide, filho. Ehre Deutschland. - "Honre a Alemanha", seu pai diz, dando um sorriso medonho, que Henrich preferia nem ter visto.

Ele troca algumas palavras com seus pais, não importantes já que todas foram falsas de ambas partes. Estranhamente, ele ficou um pouco menos nervoso, provavelmente por estar do lado de alguém, mesmo que fossem os que obrigaram ele a essa desgraça.
Os três saem da casa, seus pais indo atrás lentamente e, ele tentando parecer o mais impassível que conseguia. Ao lado de fora, um grande carro preto o espera junto de um céu horroroso, nublado e com um mísero sol tentando brilhar. Entrando, vê sua mãe abraçando seu pai e chorando em seu peito, enquanto o mesmo olha fixamente nos olhos do garoto que observa a cena da janela do carro.

...

Foram longas horas de viagem, isso porque a cada quilômetro que andavam tinham de parar para pegar uma nova pessoa. Próximos da base militar, já estavam num grupo de sete meninos e duas meninas. Todos pareciam ter mais ou menos sua idade, o que confortou um pouco Heinrich, mesmo que suas caras estivessem totalmente depressivas. A não ser por um garoto, o que mais chamou a atenção de todos ali presentes. Ele tinha cabelos ruivos, que mais pareciam pintados mesmo que a coloração fosse apagada, isso por conta do brilho extremo, como fogo. Tinha os olhos castanhos mais expressivos que Heinrich já viu, e não parecia expressar uma reação certa apesar disso. Só tinha o olhar focado para a janela na tentativa de ignorar as pessoas curiosas e admiradas com sua sublime aparência. Só dois meninos tentam uma conversa naquele carro, e estranhamente deu certo, com murmúrios baixos e sorrisinhos de ambos. Heinrich não era bom em fazer amigos, então prefere nem pensar em amizades nesse momento. Ele só ia acabar se machucando ainda mais, triste caso um perdesse o outro.

Morte Á Queima-RoupaOnde histórias criam vida. Descubra agora