O Vale Sombrio

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   — Na luz do luar

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   — Na luz do luar... lá no Vale Sombrio... parecia... parecia como um labirinto. Entre as árvores, o monstro... o maldito, em meio a mata do vale que a besta veio: o lobisomem.

Na penumbra da taverna, o homem se encolhia, a ferida em seu abdômen latejando como um segredo incômodo. As paredes de madeira, encharcadas de décadas de histórias sussurradas e cigarros acesos, pareciam fechar-se sobre ele. O cheiro ardente de cerveja rançosa e desespero impregnava o ar, como se a própria noite tivesse se refugiado ali. Ele sabia que, naquela escuridão, as palavras que escapavam de seus lábios eram sua única chance de sobrevivência. Caído ensanguentado nos braços dos clientes da caverna, a cada respiração um calafrio fino, apertava a sua própria roupa com a sua mão, como se fosse aliviar a dor.

— Estávamos em vinte, homens duros como a pedra, mas a fera era um demônio. A floresta estava mais escura que a noite, e o ar, carregado de um cheiro a ferro e algo mais... selvagem. O uivo distante do lobisomem ecoava como um sino de morte.

Cada sílaba que escapava dos lábios do homem era um fio de vida se esvaindo. O sangue, espesso e escarlate, manchava a madeira da taverna, criando padrões grotescos. As velas tremeluziam, lançando sombras dançantes sobre o rosto do narrador, que observava a cena com olhos cansados. O silêncio pesava no ar, como se a própria morte pairasse ali, esperando para reivindicar mais uma alma. A voz rouca do homem ecoava como um lamento, uma melodia dissonante em meio à escuridão. E naquele momento, a taverna deixou de ser um refúgio para se tornar um sepulcro sombrio, onde segredos e desespero se entrelaçavam.

— A floresta, um inferno verde. A cada passo, a sensação de sermos observados se intensificava. E então, ele surgiu das sombras - a besta, com olhos que brilhavam como brasas. Seus uivos ecoavam pelos vales, congelando o sangue em nossas veias...

Thorn, encurvado no canto mais sombrio da taverna, afundou-se na poltrona de madeira gasta. Seus olhos, vidrados e cansados, acompanhavam cada movimento na sala. O tilintar das moedas de prata e o murmúrio das vozes criavam uma trilha sonora dissonante para a tragédia que se desenrolava. A história, como um fio invisível, o puxara para aquele vale sombrio nesta noite infernal, onde a morte espreitava em cada esquina, pronta para cobrar sua dívida.

— E eu fui o último — continuou o homem, sua voz falhando — Caído no chão, senti sua respiração quente em meu rosto. Pensei que fosse o fim. Mas ele se afastou, como se tivesse perdido o interesse.

O silêncio na taverna era como o último suspiro de um condenado. A madeira rangia sob os pés de Thorn enquanto ele se erguia, os músculos tensos como cordas de piano. O medo, denso e pegajoso, envolvia a taverna como uma mortalha. Os olhos dos outros frequentadores desviaram-se dele, como se temessem que sua presença pudesse atrair a própria morte. Thorn não sabia se era o chamado da história ou algo mais sinistro que o impelia, mas ele avançou, cada passo ecoando como um martelo sobre um caixão.

— Por isso estou aqui, temos que chamar a guilda de caçadores... só eles podem nos ajudar.

O dono da taverna, um brutamontes com a pele marcada por uma cicatriz que serpenteava pelo rosto, coçou a barba áspera. A luz fraca das velas delineava os contornos de sua expressão endurecida, e seus olhos, sombras profundas sob as sobrancelhas grossas, sondavam os cantos escuros da sala. O silêncio persistia no ambiente, como se até mesmo o ar temesse perturbar aquele homem taciturno.

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⏰ Last updated: Sep 07 ⏰

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