E lá estava James. Sentado naquela cadeira branca que se confundia com a parede daquela sala escura, tão triste e sombria que o fazia se arrepiar. James não conseguia pensar em sua vida. Fazia esforço, tentava, olhava as fotos espalhadas pela mesa, mas tudo que via eram rostos de pessoas desconhecidas.
Ele sentia forças apertando sua alma, olhava pela janela suja da sala e via uma senhora de aparentemente 40 anos, loira, em prantos, nos ombros de alguém que ele julgara ser seu marido pela aparência madura e forte. Ele olhava para James, que conseguia captar a culpa que tinha de algo que não sabia. Era muito peso pra ele. Ontem ele estava em Londres, fotografando para a Vogue, e hoje ele está aqui, sofrendo as dores de quem não conhece, respondendo perguntas sem sentido, como onde ele estava semana passada ou se lembrava das pessoas que estavam nas fotos. Ele não entendia e nem queria. A vida dele estava boa. Ele tinha um bom emprego, um bom salário, era independente e feliz, a única coisa que desejava era sair dali e pensar. Ele precisava respirar. Ele precisava se livrar daquele sentimento sem explicação.
Uma noite sem dormir. Pela janela do consultório, James via a noite passando. Observava as árvores balançando, a lâmpada do poste balançando por conta do vento, e a pergunta sobre o que estava fazendo ali não saía de sua cabeça.
Ele tinha sido pego de surpresa. Estava em Londres para um ensaio fotográfico, tinha acabado de sair de um dos edifícios da Vogue, estava frio, James estava hospedado no hotel Hilton, era um longo caminho de lá onde ele estava.
James estava cansado, com frio e morrendo de fome, mas nada o abalava. Quem diria que o jovem ruivo e musculoso estaria atrás das câmeras da Vogue ?! Estava sendo o melhor dos dias para ele. Andava determinado, orgulhoso, tinha certeza de sua carreira, na qual começou nos anos 84, com uma velha Polaroide amarela. Desde então James caminhou por entre cursos técnicos, pequenos eventos, cursou a faculdade de fotografia e formou sua carreira, montou sua vida a partir de fotos. Estava tudo perfeito.
Ele tinha futuro, pelo menos dizia o Sr.Patrick, seu velho vizinho irlandês que vivia sentado no banco de seu jardim. O senhor era amigável, contava que tinha vindo da Irlanda bem jovem e tinha o sonho de ser arquiteto, mas acabou sendo feirante, mecânico, encanador. Esqueceu seu sonho, coisa que James não iria fazer tão cedo.
James chegou ao hotel. Tinha pego um taxi no caminho. O hotel era grande. Era composto por três altos edifícios, seu jardim tinha uma grama impecavelmente verde e flores muito coloridas. O hall do hotel era luxuoso, tinha pilares altos de mármore e o chão feito de granito ou algum tipo de pedra assim. Um grande balcão de atendimento tomava conta do local. James tomou o rumo até o elevador e subiu até o 6º andar, onde estava o seu quarto. A vista panorâmica causava arrepios em James, já que ele sofria com medo de altura desde criança. Ele se virou de costas ao vidro e se concentrou em pensar nas fotos que ele tinha tirado pela manhã. Olhou o seu relógio e eram exatamente 15:27 da tarde. O elevador tinha chegado ao sexto andar. O corredor era forrado com carpete vermelho e as portas eram douradas com seus números prateados. James se dirigiu ao número 628 e entrou. O quarto estava exatamente igual desde a última vez que ele foi no quarto, pela manhã, antes de descer para tomar café e sair para o ensaio. Sua mala continuava encima da cama, onde ele tinha deixado antes de sair. James se jogou na cama. Estava exausto, precisava dormir. Sentiu seu celular vibrar no bolso direito de sua calça. Era uma ligação anônima. James atendeu.
-Alô - Disse ele.
-Alô, hã.... James Grandwood?!
-Sim, eu.
-Eu sou da Delegacia de Roseland.
-Eu fiz algo de errado?
-Não, muito pelo contrário. Venha até aqui para conversarmos.
-Sim, estou indo.
A cabeça de James estava confusa, tudo estava perfeito, James não tinha feito nada de errado. Uma chamada anônima de sua cidade, uma pessoa estranha interrompendo seu dia perfeito.O que estava acontecendo?!
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True
ParanormalJames estava perdido. A vida havia lhe atirado contra uma parede de perguntas sem resposta. Afinal, o que ele estava fazendo lá? O pote de felicidade se transformou em uma poça de mistério. Ele já não se conhecia mais, ele queria voltar a realidade...