E aqui estavam eles novamente, no fundo da escola, brigando de novo. Era incrível a pontualidade deles nesse hábito de iniciar brigas sempre no mesmo horário. Marcos, João e seus amigos, como de costume, estavam em meio a mais uma disputa. Eles vivem competindo entre si; motivo? Algo tão simples e sem valor... a popularidade. Patético, não? Pois é, jovens de 18 ou 19 anos brigando por algo tão trivial quanto a popularidade.
Marcos estava no curso de Artes Plásticas, enquanto João seguia na de Artes Musicais. Esses dois cursos, entre os quatro da faculdade, eram os mais bem vistos pelos alunos talentosos (não que os dos outros cursos não sejam) e tinham maior destaque em eventos. Talvez essa rivalidade entre eles também se deva ao conflito entre as famílias dos dois. Quando se trata de intriga familiar, é comum que os filhos também adquiram essa rivalidade. Filho de peixe, peixinho é!
Bem, retornando ao conflito sem sentido, lá estavam os seis garotos brigando: de um lado, um trio formado por Marcos, Manuel e Ycaro; do outro, o trio de João, que contava com os gêmeos Ruan e Ryan.
Minutos depois, quando a briga havia acabado completamente e quase todos estavam a caminho de casa, Marcos se encontrou com João na enfermaria da escola. Ele se sentou em uma cadeira de frente para o outro. A enfermeira entrou na sala, viu os dois, suspirou profundamente e se encaminhou para ficar entre eles.
—De novo, meninos? — A voz dela soava suave, porém cansada. Seu olhar decepcionado se fixou nos rapazes que frequentemente iam até lá após as discussões.
—Maria, a turma dele começou! — Apontou João.—Ele estava espalhando papéis zoando o curso de Artes Musicais.
—Mentira! Eu não fiz nada! — Marcos se levantou, pronto para avançar em cima de João, quando foi parado pela enfermeira.
—Rapazes, brigar não é a solução. Vocês podem resolver isso apenas conversando pacificamente.
—Eu concordo com a senhora, mas meu colega não sabe dialogar de forma civilizada.
— Cala a boca, João! Eu sei falar, sim; você que provoca!
— Vê? Meu colega sempre quer ter o poder da fala e me censura.
João olhou para Marcos, mantendo o olhar fixo entre eles. Maria jurava conseguir ver raios ligando os olhos dos meninos; com o clima tenso, decidiu interromper a discussão, posicionando-se entre eles.
—Ok, entendi que a única linguagem de vocês é a violência, mas desta vez eu não vou encobrir essa briga.
—Vai, Maria, só desta vez! — insistiu João.
—Não posso ficar acobertando sempre as brigas. Vocês têm que assumir a responsabilidade.
Marcos cruzou os braços e começou a encarar o teto. João se levantou, pegou alguns curativos e saiu da enfermaria.
—Você que começou a briga?—Maria se aproxima esperando o rapaz olhar para ela e responder.
Marcos continua olhando o teto e responde, agora de forma mais calma.
—Foi Ycaro que espalhou os cartazes, eu não tive nada haver com isso.
—Mesmo sem ter nada haver custava impedir ele?
Ele se cala e abaixa a cabeça olhando para ela.
—Eu posso ser amigo dele só que ele é um baita de um cabeça oca, nunca me escuta.
—E por que não explicou isso ao João? Com certeza ele iria te ouvir.
—Eu tentei, só que o idiota do Ryan não conseguiu ficar de boca fechada! Ele começou me insultando e quando revidei o irmão dele se meteu no meio, depois o Manuel, e quando eu percebi eu já estava no meio da briga... Olha... nunca é minha intenção brigar, mas também não vou ficar olhando meus amigos apanharem, eles começando ou não a briga ainda são meus amigos.
—Entendo, mas realmente não posso mais acobertar a briga de vocês.
—Eu entendo que não pode... Eu não ligo em levar alguma advertência, mas não sei o mesmo do João. Admito que vai ser engraçado ver a cara das pessoas quando ele for chamado para a diretoria.
—Ele é um bom rapaz, vocês dois são, só tem que parar com essas brigas bobas.
Marcos solta um suspiro pesado coçando a nuca enquanto se levantava.
—Calma aí rapaz, você não vai a lugar nenhum com esse olho roxo. —Maria fala com humor na voz.
Marcos ri se sentando novamente na cadeira enquanto a enfermeira cuida de seus machucados.
No dia seguinte, sem muita surpresa para os dois, Marcos e João são chamados para a diretoria. Eles saem de suas salas sob os olhares dos outros alunos. Já na sala do diretor, são recebidos pela expressão mal-humorada dele.
—Já sabem por que estão aqui? —O diretor se levanta da cadeira e se aproxima deles. Vendo que nenhum dos dois iria falar, ele completa: —Eu fiz uma pergunta, não ouviram?
—Ouvimos, diretor. —Marcos toma a iniciativa da conversa, deixando o clima da sala tenso. —Mas se o senhor já sabe por que quer que digamos?
O diretor se aproxima de Marcos, que não recua. Ele então fala, tentando manter uma voz rígida para intimidar o aluno encrenqueiro.
—Eu sou o seu diretor e exijo respeito por parte dos meus alunos. Não se esqueça de que posso expulsá-lo, e tenho motivos para fazer isso, já que brigas são proibidas no terreno da escola.
Marcos cruza os braços e cerra os dentes para evitar xingar o diretor naquele exato momento. O diretor sorri vitorioso com o silêncio de Marcos e retorna a falar.
—Não vou expulsá-los, já que ambos demonstraram excelente desempenho nos eventos e nas notas. Então, como castigo, a partir de hoje vocês ajudarão no serviço comunitário, se responsabilizando pela faxina na escola toda tarde depois do encerramento das aulas. Quero os dois com vassouras e esfregões nas mãos. —Ele fez uma pausa e depois se sentou em sua cadeira. —Creio que se vocês, dois responsáveis e provavelmente líderes por iniciar e incentivar as brigas, estiverem ocupados, não terão tempo para brigas. E caso eu descubra que não estão fazendo a faxina, posso ter prometido não expulsá-los, mas optarei por isso caso o serviço comunitário não seja suficiente para dar uma lição em vocês.
Eles saem da sala, os alunos que passavam pelo corredor olhavam e cochichavam sobre eles, alguns impressionados por verem João saindo da diretoria e outros tentando descobrir qual foi o motivo para Marcos ter ido para a diretoria de novamente.
—Que Maravilha em? Já não bastava passar o dia todo na escola vou ter que passar a noite? E pior, com você!
—Também não estou tão feliz com isso Marcos.
João suspira e sem muita alegria estende a mão para ele, esperando o outro aperta-la, hesitante Marcos aperta com força.
—Sem brigas? —Propôs João.
Marcos revira os olhos e olhando para a placa de metal da sala do diretor responde: —Posso prometer que EU não vou brigar, agora não sei sobre meus amigos.
—Pode pelo menos tentar?
—Se você controlar seus amigos...
—Então está feito, sem brigas... Pelo menos não aqui na escola.
Eles soltam o aperto de mãos e sem despedidas se afastam seguindo caminhos opostos.