Prólogo

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LADY FEYRE ARCHERON ENTROU COMO uma tempestade na sala de visitas.

— Ficaram sabendo do que aquele homem fez desta vez?

Morrigan Barrett e Cresseida Ruddick trocaram um olhar que Feyre teria compreendido a um quilômetro de distância. É claro que sabiam exatamente de quem ela estava falando. Como não poderiam, sendo ele o pior homem da Inglaterra?

— O que foi agora? — perguntou Morrigan, largando as cartas que estava embaralhando.

Sacudindo os pingos de chuva da barra do vestido, Feyre desabou na terceira cadeira à mesa de jogos.

—Clare Beddor e sua aia foram surpreendidas pela chuva essa manhã. Estavam indo para casa quando aquele homem passou com o coche a toda velocidade, esguichando uma verdadeira cascata de água suja bem em cima delas. — Feyre tirou as luvas e as bateu na mesa. — Por sorte, a chuva acabara de começar, senão ele poderia tê-las afogado!

— Ele nem sequer parou? — perguntou Cresseida, servindo-lhe uma xícara de chá quente.

— Para se molhar? É claro que não. — Feyre colocou um punhado de açúcar em seu chá e mexeu vigorosamente. Homens eram tão irritantes! — Se não estivesse chovendo, ele teria parado para oferecer carona a Clare e sua aia, mas, para a maioria dos homens, a nobreza não é um estado de espírito ou de posição hierárquica. Só serve para conforto.

— Um estado de conforto monetário — emendou Morrigan. — Não respingue seu chá.

Cress encheu a própria xícara.

— Embora vocês duas sejam completamente cínicas, preciso concordar que a sociedade parece perdoar a arrogância quando um cavalheiro tem dinheiro e poder. A verdadeira nobreza desapareceu. Na época de rei Arthur, conquistar a admiração de uma mulher era, no mínimo, tão importante quanto a habilidade de matar um dragão.

Na imaginação otimista da srta. Ruddick, quase tudo se resumia a romances de cavalaria, mas, desta vez, Cresseida tinha razão.

— Sim, isso mesmo — concordou Feyre. — Quando foi que os dragões se tornaram mais importantes que as donzelas?

— Os dragões protegem o tesouro — disse Morrigan, continuando o uso da analogia —, e é por isso que as mulheres com grandes dotes valem quase tanto quanto os dragões.

— Nós é que deveríamos ser o tesouro, com ou sem dote — insistiu Feyre. — Creio que a dificuldade esteja no fato de que somos mais complicadas do que as jogatinas ou as corridas de cavalo. Compreender uma mulher está além da capacidade da maioria dos homens.

Morrigan deu uma mordida em seu bolinho de chocolate.

— Concordo. Com certeza, é preciso muito mais do que sacudir uma espada à minha frente para ganhar a minha atenção — falou rindo.

— Morrigan! — Corando até ficar toda vermelha, Cress abanou o rosto. — Pelo amor de Deus!

Feyre inclinou-se para frente.

— Não. A Mor tem razão. Um cavalheiro não pode ganhar o coração de uma dama da mesma forma que ganha uma... uma regata no Tâmisa. Eles precisam saber que as regras são diferentes. Eu, por exemplo, jamais iria querer qualquer coisa com um cavalheiro que tem por hábito partir o coração das mulheres, independentemente de quão bonito fosse ou quanto dinheiro e poder tivesse.

— E um cavalheiro deveria perceber que as mulheres também têm pensamento próprio, ora essa. — Cresseida largou a xícara de chá ruidosamente, como se pontuasse sua colocação com um ponto de exclamação.

Morrigan levantou-se e foi até a escrivaninha do outro lado da sala.

— Deveríamos colocar tudo isso no papel — disse, pegando várias folhas de uma gaveta e retornando para distribuí-las. — Nós três exercemos bastante influência, especialmente sobre os tais cavalheiros a quem essas regras se aplicariam.

— E estaríamos fazendo um favor a outras mulheres — concluiu Feyre, a raiva abrandando à medida que o plano começava a tomar forma.

— Mas uma lista não ajudará ninguém além de nós mesmas. — Cresseida pegou o lápis que Morrigan lhe entregou. — E isso se nos ajudar.

— Ah, ajudará, sim... quando colocarmos nossas regras em prática — retrucou Feyre. — Proponho que cada uma de nós escolha um homem e lhe ensine o que ele precisa saber para impressionar uma dama adequadamente.

— Sim, por favor. — Morrigan bateu a mão na mesa em concordância. Enquanto começava a escrever, Feyre soltou uma risadinha sombria.


— Poderíamos mandar publicar nossas regras. Lições de amor, por Três Distintas Damas.

[...]

Lista de Feyre

1. Nunca parta o coração de uma mulher.
2. Sempre diga a verdade, independentemente do que acha que a mulher quer ouvir.
3. Nunca brinque com os sentimentos de uma dama.
4. Flores são de bom tom, mas certifique-se de que são as favoritas da mulher. Lírios são particularmente adoráveis.


Como se vingar de um cretino - Feysand Onde histórias criam vida. Descubra agora