Maximilian Konig Winkel
Abro o botão do terno antes de me sentar na cabeceira da mesa para tomar o café da manhã. Louise, tabém conhecida como minha mãe, me observa com a mesma atenção de todas as manhãs, como vem fazendo nos últimos dois anos, desde que se separou do meu pai e resolveu que a melhor opção era se mudar e vir morar comigo.
— Dormiu bem, querido?
— Sim, muito bem.
Uma mentira do caralho. A insônia se tornou minha melhor amiga há tempo o suficiente para que já não dê mais tanta importância a ela.
— Tive a impressão de ouvir alguém comentando que te viu na academia antes das cinco horas da manhã.
— Acho que eles estão enganados. — Me limito a dizer.
— Com certeza. — O sarcasmo está ali, entre as palavras dela — Fomos convidados para uma recepção beneficente em prol do hospital de crianças com câncer na próxima semana, posso confirmar nossa presença?
Seguro o riso sarcástico que luta por sair pelas minhas bocas. Não sei nem porque ainda me surpreendo com as tentativas de minha mãe em me arrastar para os compromissos sociais, ainda mais sabendo que não compareço a nenhum deles há mais de dois anos.
— Não poderei ir, tenho um compromisso.
— Mas ainda nem falei a data.
— Tenho certeza que estarei ocupado. — Pego duas fatias de mamão, trazendo para o prato a minha frente — De qualquer maneira, destine a quantidade de dinheiro que achar necessário.
— Você precisa aparecer, Max. — Ela diz séria.
— Mas eu apareço. — Respondo, enquanto corto a fruta — Tenho um artigo na Computer Magazine que foi publicado recentemente, fui capa da Forbes do mês passado. Vira e mexe a KWE é citada no Financial Times como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo.
— Estou falando de você e não da empresa. — Minha mãe coloca a xícara sobre o prato de porcelana — Inclusive, ainda hoje, guardo todas as revistas que aparece.
— Então, a senhora sabe que tenho uma vida bastante movimentada e apareço mais do que gostaria.
— Sabe que não é disso que estou falando, querido. — Ela insiste — Precisa voltar aos eventos sociais. É importante para as pessoas verem quem está por trás de todas as benfeitorias que a KWE faz e já faz muito tempo...
Fecho os olhos de forma contundente, tentando não pensar no que minha mãe falar. Sei que faz dois anos e meio e ninguém precisa me lembrar disso, os pesadelos fazem questão de que eu reviva aquela mesma cena uma quantidade incontável de vezes. Não preciso de ninguém falando, quando meu inconsciente já faz esse papel com tanta boa vontade.
— Não irei.
— Tenho uma proposta então.
Coço um ponto logo no começo do couro cabeludo em busca de um tanto de paciência que me falta para conversar com a minha mãe antes das sete e meia da manhã. Confiro o relógio em meu punho e ainda faltam duas horas para a primeira reunião e mentir para Dona Luise é um erro.
— O que a senhora quer?
— Estive refletindo muito sobre o que venho escutando nas recepções e eventos que participo em seu nome. — Me sirvo de um pouco de café, enquanto observo minha mãe escolher uma bolacha com um esmero desnecessário — Sei o quanto evita de sair de casa e como forma de respeitar isso, pensei na possibilidade de abrirmos a casa para uma recepção.
Ergo as sobrancelhas ao mesmo tempo em que abro a boca, mas ela faz um gesto, fazendo com que me cale novamente.
— Sim, Maximilian... acho que venho te dando opções de mais nos últimos tempos, permitindo que se esconda do mundo.
— Tenho trinta e oito anos, mãe.
— Não me importo com a sua idade. — Dona Luise estala a língua dentro da boca — Ainda sou sua mãe e não vou continuar vendo você se afundar.
— Não estou me afundando.
— Como estava dizendo — ela ignora meu ultimo comentário — estou pensando em um baile para daqui um mês. Utilizaremos o espaço da piscina e o jardim lateral. Farei algo para as pessoas mais próximas e também para aquelas que você andou negligenciando.
Quem além de Andreas permaneceu na minha vida depois de tudo o que aconteceu? Não consigo pensar em ninguém. E as que negligenciei? Elas mereceram esse tratamento. Passei do ponto de precisar agradar as pessoas por politicagem ou para conseguir algum tipo de favor.
— Ainda acho...
— Não haverá acesso a casa, Max. — Minha mãe diz séria — Caso queira sumir no meio do evento e voltar para o seu quarto, não haverá nenhum problema. Não te obrigarei a nada, nenhum discurso e nem subir alguma espécie de palco.
Uma das mãos da minha mãe agora brinca com uma colher, fazendo desenhos imaginários sobre a toalha branca, como uma adolescente que está tramando algo muito além do que está dizendo. Suspiro, porque sei que Dona Louise dará um jeito de fazer o que quer e por algum motivo, tenho impressão de que ela já pensou em tudo e estou sendo comunicado, no final das contas.
— O que mais?
— Pensei em algo diferente... talvez um baile de mascara.
— Um baile de mascara. — Repito com cuidado, cada uma das palavras.
— Sim — Sinto a empolgação por trás daquela palavra e dos olhos dela que brilham.
— Por quê?
— Quero que tenha a oportunidade de ser outra pessoas. — Diz simples.
— Não entendi.
— Você tem direito de sair da sua pele e ser um outro alguém, filho, nem que seja por algumas poucas horas. Sei que está longe do que você gostaria, mas gostaria muito que pensasse com carinho... e se não der certo, ainda estará em sua casa. — Sua postura fica mais ereta — Se for uma porcaria, nunca mais irei sugerir nada disso. O que me fala?
O que ela acabou de dizer reverbera através dos meus pensamentos. Será que existe a possibilidade de eu ser um outro alguém por algumas poucas horas? Será que a dor me deixaria em paz tempo o suficiente para que eu me lembre como é me divertir?
Trabalhar é o único refugio que parece me permitir seguir em frente e manter a lucidez. Se tudo tivesse dado certo, essa casa estaria sempre cheia de gargalhadas, festas de mesversário, de aniversário e... porra. Tudo seria diferente.
— Filho?
— Tudo bem.

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Rejeitada pelo magnata viúvo - DEGUSTAÇÃO
RomanceFAST BURN + CONVIVÊNCIA FORÇADA + MOCINHO COM PASSADO TRISTE Maximiliam é um magnata implacável da área de tecnologia, marcado pela perda da esposa e do filho. Nicole é uma jovem humilde, que trabalha como jardineira em sua mansão, vivendo à sombr...