Eu estava sentada na sala de estar, encarando Frederick, com o coração disparado. Sabia que o que eu ia dizer poderia virar tudo de cabeça para baixo. A vontade de me esconder atrás do sofá nunca foi tão real.

"Frederick, eu... preciso te contar uma coisa importante", comecei, tentando fingir que minha voz não estava tremendo.

Ele me olhou curioso. "O que foi?"

Respirei fundo. "Eu tenho uma filha."

O rosto dele mudou na hora. Ele fez uma careta como se tivesse mordido um limão muito azedo. "Você tem uma filha?! E só agora está me contando isso? O que você estava pensando?"

Eu me esforcei para manter a calma, mas a raiva começava a borbulhar. "Eu não sabia como você ia reagir! E, sinceramente, eu não sou a mãe mais perfeita do mundo!"

Frederick começou a andar pela sala, gesticulando exageradamente como se estivesse num palco. "Ótimo! Então, quer dizer que você tem uma filha escondida, e eu provavelmente tenho uns quinze filhos espalhados por aí, é isso? Porque, pelo amor de Deus, você mal consegue cuidar de si mesma!"

Minha paciência estava escapando rapidamente.

Ele se virou, batendo a mão na mesa com tanto drama que derrubou o controle remoto no chão. "Se você tem uma filha e não consegue organizar a sua vida, então estamos todos condenados! Preciso pedir pra construir um bunker ou algo assim?"

Eu estava prestes a responder quando meu telefone começou a tocar. Claro, tinha que ser naquele exato momento. Olhei para a tela: “Jennie”. Suspirei, porque qualquer coisa seria um alívio naquele caos.

“Lisa, onde você está? Tae tá surtando mais que uma ventania num castelo de cartas! Ele quer te ligar, e eu não sei o que fazer!”

Olhei para Frederick, que agora andava em círculos pela sala, resmungando algo sobre o apocalipse e o caos iminente. “Jennie, eu tô no meio de uma confusão também. Frederick acabou de descobrir que eu tenho uma filha e tá surtando mais que o Tae e você juntos!”

“Fantástico”, Jennie respondeu com um sarcasmo que eu poderia quase sentir pelo telefone. “Ótimo timing. Boa sorte aí, porque você vai precisar.”

Desliguei e encarei Frederick, que agora estava tentando sentar no braço do sofá, mas errou o alvo e quase caiu no chão. "Frederick, eu entendo que isso é um choque, mas surtando como se estivesse num filme de desastre não vai ajudar em nada!"

Ele se levantou, segurando a cabeça como se fosse explodir. "Você não tem ideia de como minha cabeça tá girando agora! Uma filha?! E você nunca me contou? Estou me sentindo traído pelo universo!"

Passei a mão pelos cabelos, já exausta. "Eu sei, eu sei. Mas se comportar como se tivesse sido expulso de um programa de sobrevivência não vai melhorar nada. Dá pra se acalmar?"

Frederick respirou fundo, soltando o ar como se fosse um balão furado, e finalmente caiu no sofá, quase derrubando uma almofada no processo. "Eu... eu vou tentar. Mas isso... isso é muita coisa. Muita mesmo."

Sentei-me ao lado dele, ainda sentindo a tensão, mas pelo menos ele parou de andar em círculos como um tornado. "Eu também preciso de um tempo. Só... menos surtos, por favor. Já foi caos suficiente por hoje."

Ele me olhou com os olhos arregalados, ainda com um ar de confusão cômica. "Ok, vou tentar não surtar mais... pelo menos por uma hora."

Quebra de tempo

Frederick estava finalmente começando a respirar mais devagar, e eu achei que o pior tinha passado. Mas, claro, eu sabia que o verdadeiro terremoto ainda estava por vir.

"Fred, tem mais uma coisa que eu preciso te contar..." Falei devagar, quase como se estivesse pisando em ovos. Eu queria, pelo menos, tentar suavizar o próximo baque, mas, quem eu estava tentando enganar?

Ele me olhou de lado, com uma sobrancelha arqueada. "Mais o quê? Por acaso a filha é alienígena? Ou tem um dragão no quintal que você também esqueceu de mencionar?"

Eu engoli em seco, respirando fundo antes de soltar de uma vez: "A filha... é minha e da Jennie."

O silêncio que se seguiu foi tão pesado que eu quase podia ouvir os pensamentos caóticos correndo na cabeça dele. Ele piscou várias vezes, como se estivesse tentando processar a informação. Então, de repente, ele se levantou tão rápido que derrubou a mesinha de centro com a perna.

"O QUÊ?!" Ele gritou, completamente descontrolado. "Sua filha... é... DA JENNIE?! COMO?! O QUE... COMO ISSO É POSSÍVEL?!"

Eu tentei acenar para ele se acalmar, mas ele já estava correndo pela sala como se tivesse sido picado por uma abelha. Ele começou a puxar o próprio cabelo e fazer movimentos exagerados com as mãos. "Lisa! Você tá me dizendo que você e a Jennie... vocês duas... tiveram uma filha?! Como é que eu nunca soube disso? Como isso sequer funciona?! Vocês são...?"

"Fred, calma!" Tentei falar, segurando uma risada nervosa. "Não é como se a gente tivesse escondido uma bomba nuclear debaixo do sofá. Foi um processo complicado, tá?"

Frederick parou, olhando para mim com os olhos arregalados, como se estivesse tentando encontrar lógica no meio daquele tornado de emoções. "Processo complicado? PROCESSO COMPLICADO?! O QUE VOCÊS USARAM, MAGIA? PORQUE, PRA MIM, ISSO AQUI TÁ PARECENDO UMA PIADA DE OUTRO PLANETA!"

Eu olhei para Frederick, ainda se recuperando do surto monumental, e não pude evitar pensar: "Magia? Se ele soubesse a verdade... mal faz ideia de por que eu nunca fiz sexo com ele." Não era questão de magia, nem de complicação. Era algo muito mais simples — e, ao mesmo tempo, impossível de explicar para ele naquele momento.

Eu suspirei, já começando a me arrepender de ter contado tudo de uma vez. "Fred, nós queríamos te contar antes, mas não sabíamos como você ia reagir... e, bem, olhando pra você agora, acho que a gente acertou em cheio!"

Ele começou a andar de costas pela sala, tropeçando no tapete, quase caindo. "Eu... eu preciso de ar... isso... isso é muito para mim! Eu não sou forte o suficiente pra essa novela mexicana!"

Ele abriu a porta da varanda, mas, em vez de sair, ficou ali, parado, olhando para o vazio. "Lisa... isso é real? Ou eu tô num sonho muito maluco onde você e a Jennie têm uma filha e eu sou o último a saber?!"

"É real, Fred. E, por favor, não se joga da varanda, a queda não é tão alta assim", eu brinquei, tentando aliviar o clima, mas ele não parecia estar ouvindo.

Frederick balançou a cabeça, incrédulo. "Eu vou precisar de muito tempo... e talvez um terapeuta. Ou dois. Quem sabe um grupo de apoio? Porque isso aqui é demais pra minha cabeça."

Eu ri, apesar de tudo, porque vê-lo tão surtado e fazendo essas caretas era hilário. "Fred, relaxa. A gente ainda tá no mesmo planeta, ok? Só... menos drama, por favor."

Ele virou para mim com um olhar dramático, uma mão na testa como se estivesse num teatro grego. "Menos drama? Menos drama?! Lisa, você acabou de me contar que você e a Jennie têm uma filha juntas, e quer que eu não surte? Como é que eu vou lidar com isso sem ter um colapso nervoso?"

Eu não resisti e ri de novo. "Ok, tá. Ponto pra você. Quer um chá? Acho que você vai precisar."

O Segredo Que Nos Pertence  Where stories live. Discover now